Capítulo 4

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Estacionei na garagem do prédio e subi para meu apê. A maioria já estavam dormindo, luzes apagadas e o porteiro tomava café e escutava rádio para não dormir.

Tomei banho e me vesti para dormir, mandei mensagem para meus pais e bloqueei a tela do celular. Nossa relação piorou bastante depois de ter me assumido e saído de casa. Eu pensei que seria pior, receber mensagens deles era lucro pro que eu imaginei. Pais religiosos e uma filha bissexual era guerra.

A semana da publicação do livro havia chegado e tudo estava pronto. Me maquiei e me vesti, arrumei minha bolsa e tranquei a porta assim que sai de dentro do apê. Estou nervosa, sinto a ansiedade atacando e estou começando a tremer. Sempre parece a primeira vez. Tomei o Ansiolítico e respirei fundo, joguei na garrafinha na bolsa e entrei no elevador.

Olga havia me ligado já algumas vezes dando algumas informações e me orientando por onde entrar. Gravei alguns stories convidando o público a ir na livraria, e respondi algumas dm 's. Respondi a alguns familiares e amigos rapidamente e dei partida no carro. Seria um longo dia e eu precisava de todo bom humor da face da terra. 

Perdi as contas de quantas assinaturas e fotos tirei no dia. Meu pés doem e meu pulso mais ainda. Amigos próximos e alguns familiares estavam presentes, Merlin, João, Isa, Sofia e Beatriz, uma amiga de escola.

O pessoal da editora me parabenizou e marcaram um chope em comemoração, eu bebendo? Não, eles e eu fazendo companhia. 

— Que sucesso! Joana, certeza que você ganha o concurso desse ano, sem dúvidas — Olga afirma e eu apenas rio. Quem dera

— Quem dera, amiga. Como vai o namoro?

Iniciei um assunto que eu sabia que ela ficaria minutos falando e ignorando a minha vida, contanto que eu sempre perguntasse algo. Falar  da minha vida pessoal para a galera da editora nunca foi meu forte, fofoca ali corria rápido e o que eu menos gosto é meu nome na boca do povo. Traumas escolares a gente nunca esquece. 

 Meu irmão e minha cunhada chegaram algum tempo depois, pois levaram Sofia para casa dos nossos pais. Sentaram na mesa e pediram cerveja. 

— Vi que levou Gabi para casa — Isa comenta maliciosa — Te chamou para entrar? 

— Não? Só deixei ela e voltei para casa — Respondi olhando nos olhos de Isa. Se eu respondesse sem fazer isso, ela não acreditaria  e encheria meu saco. 

— Hum, que triste. Merlin disse que convidou ela para vocês se falarem..

— O quê? — Pergunto incrédula. 

— Não sei se é verdade, ela disse que a Gabi queria falar contigo e conversar, resolver o b.o de vocês. Mas só me falou isso. 

— E como você diz isso só agora? 

—Porque agora que eu lembrei, de nada adianta também, vai fazer o quê? Ligar para ela perguntado? — Perguntou em desafio. Ela sabe que eu não ligaria para Gabi. 

— Você sabe que eu não ligaria, pelo menos não para tirar satisfações. Quer saber? Isso não importa mais. Passado. Ela está na cidade? Que bom, felicidades. Seguimos nossa vida.

— E por que está tão incomodada com a chegada dela? Mal falou com ela..

— Aposto uma cerveja que você não cala a boca — Interrompi cansada do assunto. 

— Sorte sua que negar bebida com outros pagando é falta de educação — Ela me dá língua e eu chamo o garçom para pedir a bebida. 

Eu cheguei em casa tarde, eram umas duas da manhã após deixar Olga em casa por estar muito bêbada. Sua justificativa foi que beberia por nós duas já que eu não bebo. Ela bebeu por duas dela, isso sim. 

Fui mais um dia para a livraria, com um público menor, já que recebi pedidos para ir pois não conseguiram ir no dia anterior. Foi bem tranquilo. O resto da semana tirei descansando e visitei meus pais rapidamente, apenas fiquei no almoço e me despedi voltando para casa. Eu recebi alguns presentes de leitores e guardei tudo com carinho, é uma das coisas boas de ser uma pessoa pública. 

Recebi algumas mensagens de Gabi, respondi de forma educada como mamãe ensinou. Conversamos sobre nossas vidas atuais e futuro, sem mencionar de forma alguma qualquer "nós" que já houve. Dói de alguma forma isso, eu deveria estar curada dessas feridas de anos, deveria ter aceitado o que aconteceu mas os "e se" que rondaram minha mente por anos nunca me deixou esquecer. De alguma forma meu cérebro se negava a deixar ir, mudanças nunca foi meu forte. Eu sinto que preciso conversar com ela, entender seu lado da história porque desde que brigamos, nunca mais conversamos sobre isso. Talvez a gente realmente devesse conversar. Não por ela, mas por mim. 

Uma ligação?


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