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Já era 3 A. M. e Luke ainda estava acordado, mas não por vontade própria, se dependesse dele já estava dormindo por horas. O problema era seu novo vizinho. O vizinho e sua banda que tocavam música tão alto que Hemmings quase não conseguia ouvir os próprios pensamentos. Seus pais tinham sorte que o quarto deles ficava do outro lado, e não próximo à casa vizinha como o de Hemmings.

Graças às paredes, mal entendia uma palavra da canção, mas apenas pela batida já conseguia identificar que era alguma do My Chemical Romance. Ótimo, seu sono iria ser arruinado por uma banda emo.

E como se já não fosse ruim o suficiente, era a segunda noite que isso acontecia e no dia anterior, ele se atrasou para chegar no trabalho, não podia deixar isso acontecer de novo.

Olhando pela janela até conseguia ver um pouco do show particular que estava tendo no quarto do outro garoto. Pareciam ser umas três pessoas e Luke identificava o som de uma guitarra, um baixo e algo que parecia ser uma bateria improvisada.

Clifford. Sua mãe havia falado que o sobrenome dos novos vizinhos era Clifford, ela levou uma torta para eles e reclamou que não devolveram o pote. Ou seja, seus novos vizinhos eram basicamente, um casal ladra de Tupperware e seu filho emo. Como eles deixavam aquele garoto ficar tão tarde fazendo todo esse barulho? Certeza que já tinham desistido de fazer algo contra.

Por poucos segundos, Luke achou que teria paz, mas eles voltaram tocando outra música. Aquela ele não conseguiu reconhecer, e até ficava feliz por isso. O loiro estava prestes a tapar os ouvidos com o travesseiro quando levantou em um impulso. Já chega, ele ia fazer alguma coisa, não iria chegar no trabalho atrasado de novo por causa daquele garoto mimado que não pensa no bem estar auditivo dos vizinhos.

Ele colocou um moletom e saiu, com muita raiva, indo até a casa ao lado. Não demorou muito para estar lá, parado na frente da porta dos Clifford, pensando se deveria bater ou não. Foda-se, Luke podia ser considerado o vizinho chato, mas pelo menos não iria ser o vizinho demitido por chegar atrasado a semana toda. Ele tocou a campainha, várias vezes, muitas vezes, e estava torcendo para o som ser mais alto que aquela música horrível.

Após alguns segundos, a banda parou de tocar e o silêncio voltou, ele pode ouvir o barulho de alguém vindo até a porta. Nossa, como o loiro sentiu falta do silêncio. Um garoto abriu a porta, Luke não sabia dizer se era o filho dos Clifford ou um dos amigos dele. Não tinha visto o rosto de nenhum. Mas ele parecia bastante incomodado e esperava o outro dar uma explicação para estar ali.

─ Você deve ser o filho dos Clifford, não é? ─ O garoto concordou com a cabeça, ele tinha a exata aparência que Luke esperava. Cabelo pintado de preto, piercing na sobrancelha, roupas pretas, olhos verdes. Interessante. ─ Então, eu moro aqui do lado, minha mãe trouxe uma torta de chocolate pra vocês esses dias. Mas enfim, será que vocês poderiam tocar essa droga de música mais baixo? Eu realmente preciso dormir.

Clifford pareceu ficar extremamente ofendido e Luke não entendeu o motivo, ele até se esforçou para não xingar o cara como o mesmo merecia, ou como estava pensando pelo caminho todo até chegar ali.

─ Primeiro: foda-se. E segundo: você veio na minha casa, às três da madrugada, me fez parar de ensaiar. . . pra me mandar tocar mais baixo?! Você sabe o que tá falando?! ─ Hemmings não gostou nenhum pouco daquele tom de voz, mas respirou fundo tentando manter a calma antes de responder. Mesmo tendo vontade de mandar aquele garoto mimado ir se foder, ele estava tentando muito não fazer aquilo, apenas pela boa convivência com a vizinhança.

─ Sério? Você tá me chamando de maluco? Eu?! Porra. . . Só para de tocar tão alto, não é difícil fazer isso, e se você tivesse o mínimo de decência iria saber que tá incomodando pra caralho.

─ Incomodando quem? Só você veio reclamar, e a gente nem tá tocando tão alto. Cara, você tá alucinando, quer que eu chame ajuda? ─ Clifford cruzou os braços e se apoiou no encosto da porta, ele olhava para Luke como se fosse uma estrela do rock e o loiro seu fã desesperado, ridículo.

─ O meu quarto fica do lado do seu, ok? É a segunda noite já que eu não consigo dormir por causa desse barulho que você chama de música. Então, pelo amor de Deus, só abaixa a porra do volume. Não tem nenhuma gravadora aqui na rua pra você querer mostrar seu talento e muito menos alguém que queira ouvir. ─ Ok, talvez Luke tivesse pegado pesado demais na última parte, mas foi apenas porque disse sem pensar e o ódio depois de conhecer aquele garoto duplicou.

─ Meus mais sinceros: vai se foder, seu idiota. Eu já entendi, não precisa ofender meu trabalho, beleza? Eu sei que a gente não tá indo tão bem. . . ─ O garoto cabelo pintado disse a última parte um pouco mais baixo. ─ Tá, eu vou abaixar o volume. Pode voltar pra sua vida chata e dormir à vontade. . . Babaca.

E então Clifford entrou novamente e bateu a porta na cara de Luke. Foi merecido de certa forma, mas o loiro ainda estava satisfeito por ter conseguido o que queria, ao mesmo tempo que sentia que tinha apagado a luz da estrela do rock em ascensão.

─ E devolve o Tupperware da minha mãe! ─ Gritou para a porta fechada antes de voltar para sua própria casa.

Agora ele tinha todo o silêncio que precisava para ir dormir, mas por que ainda não conseguia? Talvez o problema nem fosse a música de fato, ele deixou o garoto daquela forma por nada. Ainda estava com sono, e era muito bom poder pensar sem toda aquela barulheira, mas o problema agora era: ele estava pensando demais. Pensando no garoto Clifford. Por mais que Luke fosse uma pessoa complicada para lidar com emoções e sentimentos, ele não gostaria de pensar que deixou o outro triste com seu desempenho musical. A banda nem era tão ruim assim, pelo menos Hemmings já ouviu piores por aí.

Então ele olhou pela janela mais uma vez, nem precisava levantar da cama para visualizar a janela do quarto do outro garoto. Mas dessa vez tinha uma coisa diferente lá, era uma folha de papel, e tinha algo escrito nela. Luke teve que se sentar para poder ler o que era: "Vai se foder, loirinho."

Ok, agora sim Luke estava bravo, todo o sentimento ruim que sentia antes agora tinha simplesmente desaparecido. A única coisa que fez foi pegar uma das folhas de seu caderno mais próximo e escrever: "Vai você, porra. E não me chama assim.", a última parte menor no final do papel, e então ele a colou na janela virada para o quarto alheio e voltou a deitar. Dessa vez, ele não demorou para pegar no sono.

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writer's voice: olha só quem voltou!!

noisy boy ── muke!Onde histórias criam vida. Descubra agora