Um grupo de anjos entoava cânticos de adoração aos céus liderados por Daétrius. No local, uma edificação em uma nuvem, os louvores sustentados pela fé dos presentes atingiam um raio imenso, tocando milhares de almas humanas, convidando-as a adorarem e servirem um ideal superior de elevação. A melodia suave, entoada por anjos querubins era tão doce que a própria fauna local se acalmava ao ouvi-la. Os pássaros tentavam acompanhar a canção e para humanos terrenos o canto das aves já era algo um tanto quanto divino, pois a ignorância dos nossos sentidos não permitiria perceber em sua plenitude a delicadeza do que vinha dos céus.
Daétrius era o mais altivo entre os presentes. Suas roupas eram de uma pureza tão límpida que sua presença faria arder os olhos de terrenos imersos em pecados. Já realizara muito para os céus, mas sempre estaria disposto a fazer mais. Seus traços nórdicos indicavam sua origem humana, mas após tantos séculos entre as fileiras celestes, tudo que conhecia como real, como bom, justo e verdadeiro advinha da Cidade Prateada, lar dos anjos alados.
Andiah perdera suas memórias, suas preciosas e doces memórias conseguidas nos registros akashicos. Deixara de existir para apenas ser, não mais escolhas. Apenas uma que independia de si mesmo, no momento, mudar. Ainda assim, seus reflexos e conhecimentos, técnicas e habilidades ainda eram os mesmos, quiçá melhorados pela essência material que a inundava elevando em muito suas capacidades físicas. Por mais que seus perseguidores fossem habilidosos, eles seguiam padrões de busca. Andiah não estava mais presa a nenhuma regra, nenhum limite. E acima de tudo, não tinha mais nada a perder.
Daétrius servira o conselho por mais anos que a mente humana seria capaz de guardar memórias, talvez por mais tempo que nossos livros possam se lembrar. Sempre fora um burocrata da Cidade Prateada, cumprindo ordens, tomando decisões onde outros apenas assistiam. Acumulou muita influência nos céus, fez muitos inimigos e muitos aliados. Esses últimos que o permitiram gozar de grande prestígio na Terra dos homens, comandando em nome dos céus, largas áreas de humanos, regiões repletas de almas para serem moldadas de acordo com seus interesses e, sobretudo, de seus superiores. Andiah fora uma destas almas e Daétrius encantado com sua beleza e com a pureza de sua alma, decidira torná-la uma moradora da Cidade Prateada, por isso influenciou em sua doença e a acolheu prontamente nos céus após sua morte tão sofrida...
Três precisos golpes. Três seres celestiais abatidos. O caminho estava agora livre entre Andiah e Daétrius. Os passos eram calmos, firmes, porém sem nenhuma pressa naquele chão de natureza insólita, porém sólido o bastante para sustentar quem quer que fosse. O emissário dos céus já havia sentido o que estava a caminho e se pôs de frente a encarar o destino que adviesse. A ex-caçadora celeste finalmente o alcançou e a troca de olhares já enunciava o que estava por vir. O metal enegrecido ainda gotejava o líquido vital dos seres celestiais recém-assassinados e vibrava ansioso por mais. Daétrius a analisava de cima a baixo, buscando indícios que o fizessem lembrar a pureza que caracterizada Andiah, decerto que após os treinamentos nos céus sua beleza e pureza se haviam se tornado indômitas, mas em nada comparado a ferocidade que se apresentava diante de seus olhos.
Tomando a iniciativa, Daétrius disse: Como você mudou em tão pouco tempo. Imagino o sofrimento que esteja passando hoje. - Levantou sua mão esquerda e caminhou em direção a Andiah - Permita-me lhe auxiliar...
Sua fala foi interrompida por um movimento de Andiah. Em uma fração de segundo, menos que o piscar dos olhos, sua lâmina havia decepado o membro de seu oponente. Daétrius encarava aquela cena aterradora com extremo espanto. Absorto em seus pensamentos considerava que era muito mais velho que Andiah, bem como muito mais poderoso. Não importaria a técnica que utilizasse, seus ataques deveriam ser insuficientes para feri-lo.
- A menos que eu utilize uma arma feita de Hadjar. - Andiah comentou, interrompendo agora os pensamentos de seu oponente, como se fosse capaz de ler a cada um deles. - Preferiria ter morrido como humana e amado, do que servido aos céus de maneira estéril. Você arrancou isso de mim e sabe-se lá de quantos mais. Já não me interesso mais pelos seus motivos, quero que você pague.
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Anjo Caçador
FantasyAnjo Caçador é um conto em cinco partes e que narra a vida de Andiah, uma Captare (ou anjo caçador servindo os céus). Sua função é caçar e destruir criminosos que infringem as imutáveis leis celestes. Sendo hábil e eficiente, a caçadora atrai a aten...