Capítulo 4

279 16 3
                                    

- Como você... – ele fala entrecortado – sabe?

- A discussão... no jardim. Eu estava no galpão de jardinagem e tive vergonha de sair, André... eu ouvi... – meus olhos começam a arder e de repente me sinto arrependido de tudo. De ter aceitado sua carona, de ter ido ao jardim e entrado naquele maldito galpão. Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto – eu ouvi tudo...

Sinto vergonha. Coloco as mãos no rosto tentando me esconder.

- Ricardo... – sua voz está doce – Não precisa chorar – André se levanta e senta agora ao meu lado. Uma de suas mãos enxuga duas de minhas lágrimas. A outra tira o excesso de cabelo do meu rosto.

- Ele não para de enviar ameaças. A todo momento recebo esses tipos de mensagens. Eu não aguento mais – desabafa.

Então o dia que o vi abalado enquanto digitava no pc, ele estava recebendo mais uma ameaça do...

- Pedro... – André continua – é compulsivo. Ele nunca mais vai me deixar em paz... – soluços.

Viro-me para ele que por sua vez está fitando o vazio. Seu rosto agora assemelha-se ao de uma criança amedrontada, arrependida. E então aquela criança começa a chorar.

Eu nunca pensei que o veria desabar daquele jeito. Sem saber o que dizer, tento me aproximar mais dele. Levanto uma de minhas mãos e passo o polegar em duas de suas lágrimas. André se vira para mim e então tiro o excesso de cabelo de seu rosto que estava bagunçado como sempre. Ele parece lembrar desses gestos recentes ao ensaiar um sorriso ainda triste.

Seus olhos azuis permanecem nos meus. Estamos tão próximos que consigo sentir sua respiração de novo, dessa vez ofegante. Agora minhas duas mãos envolvem sua face, tentando protegê-lo, assegurá-lo de que está tudo bem.

- Ricardo – ele sussurra.

E finalmente nossos lábios se conhecem.
Sua boca adoça a minha ainda com gosto de chocolate quente. Ele eleva um dos braços e crava seus dedos em meus cabelos e com o outro me empurra forte contra seu corpo. Sua barba atrita minha pele ao passar sua língua pela minha nuca.

Minha barriga começa estranhamente a borbulhar, mas não estou me incomodando com isso, pelo contrário, me sinto ótimo. As famosas borboletas agora acordam dentro de mim.

XXXXXX

Eu mal sinto as horas passarem. Está quase noite e a chuva lá fora parece ter voltado.

- Eu preciso ir – digo ainda o beijando. Sua boca é tão macia... acreditem, foi difícil dizer que tenho que voltar para casa. Eu queria mesmo era ficar com ele o resto do dia, mas não posso preocupar minha mãe.

- Só mais um pouquinho... – André pede arrastando a voz. Agora ele brilha seus grandes olhos azuis em direção a mim, como um garotinho solitário.

- Eu não caio no truque do gato de botas – digo, então ele abre um sorriso espontâneo, como um menino brincalhão que se importa apenas em viver sua inocência.

André foi buscar minha camisa na secadora. Volto para a sala e fico esperando. A televisão exibe um desenho animado.

- Você parece uma criancinha gigante – digo vendo TV enquanto ele retorna segurando minha roupa.

- Talvez eu seja – André brinca – Let's go?

XXXXXX

- Eu fico aqui – digo quando nos aproximamos da esquina. André abaixa a cabeça e olha pela janela.

- Você não mora em uma árvore, eu acho.

- Engraçadinho. Minha casa fica a poucos passos. Não quero que minha mãe me encha de perguntas caso olhe eu saindo de um carro de luxo.

Casa de Lego (Romance Gay)Where stories live. Discover now