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Quando paro para lembrar; aquelas férias de inverno foram uma das melhores de toda a minha vida, salvo alguns fatos que me assombraram por um longo tempo. 

No entanto, estaria mentindo se falasse que tudo foram tortas e bonecos de neve...

Ah! Não meu amigo... Garanto-lhe, que nos primeiros três dias tudo estava indo da melhor maneira possível, tudo que um garoto de sete anos poderia querer de suas férias, brincadeiras na neve, descobertas de esconderijos no Celeiro, porém…  

Tudo mudou no quarto dia que eu estava ali. 

O dia havia amanhecido chovendo, e minha avó havia me dito que não subisse no sótão, mas falar isso para um garoto de sete anos mimado, que estava trancando em casa, se sentindo entediado, é o mesmo que dar permissão para o fazer. 

Lembro-me que nesse dia, meus pais e meus avós haviam indo até à cidade e algumas horas mais cedo, meu avô havia subido ao sótão e deixado a porta aberta. Eu curioso para saber o porquê de não poder ir até lá, subi as escadas estreitas. 

Havia muita poeira, quadros cobertos por lençóis e muitas caixas; várias delas e todas lacradas. 

A minha curiosidade falou mais alto e escolhendo as que estavam ao meu alcance, comecei a abrir e revirá-las. Nas primeiras não havia nada mais que roupas e pertences muito velho. 

Porém, em uma que estava meio escondida, eu achei o que naquela época chamei de meu tesouro perdido. 

Havia muitas revistas em quadrinhos, soldadinhos de madeira, uma caixinha de música em formato de carrossel, taco de beisebol com a luva e um palhaço, eu amava palhaços naquela época... E estava no sótão do meu avô, logo sendo assim, ele não iria se importar que eu ficasse com aquelas coisas para mim. 

Fechei a caixa e tentei carregar, mas estava muito pesada, parei e olhei para a porta, eu não iria conseguir levá-la até ao meu quarto. 

Decidido, descia as escadas e fui atrás de ajuda, chegando na cozinha enquanto um rapaz anos mais velhos que eu, entrou com uma caixa. E eu lembro de ficar sem  palavras com a beleza dele.

Por favor, eu era uma criança, mas sabia reconhecer uma pessoa bonita, e ele era muito. A face jovial de lábios carnudos, os cabelos loiros e ombros largos, quando me viu sorriu gentilmente. 

— Olá, pensei que você fora com sua família. — Ele disse largando a caixa com lenha ao lado do fogão. 

— Eu estava dormindo. Acredito que eles não queriam me acordar. — coloquei as mãos para trás das costas e fiz um bico olhando para o chão. 

— Certamente que sim, e bem você não está sozinho, não é mesmo? — olhei para ele sem entender. — Digo, os empregados estão todos na casa e todos somos de confiança do senhor Jeon. 

— Sim! Hmm... Eu posso lhe pedir um favor? — falei usando a minha cara de cachorro abandonado, ninguém resistia a ela, não sabia se o rapaz aceitaria retirar algo do sótão sem a permissão de um de meus avós. 

— Claro, mas primeiro... Posso saber como se chama? — perguntou e abaixando-se para ficar da minha altura. 

— É Jungkook, me chamo Jeon Jungkook! E você? Como se chama? 

— Seokjin, mas diga-me Jungkook, do que precisa? 

Olhei para os lados, como se fosse lhe segredar algo importante. — Você poderia me ajudar a levar uma caixa que achei no sótão até meu quarto? 

Vi seus lábios se entre abrirem e então, ele fechar os olhos suspirando. 

— Você sabe que seu avô disse para você não subir até lá, não é mesmo? 

— Mas se você me ajudar a levar agora, eles nem vai saber que fui até lá! — vi ele olhar para trás de mim, por um momento pensei que meus pais e meus avós haviam chegado, mas quando olhei para trás, não havia ninguém. Me aproveitando disso, juntei minhas mãos a frente do corpo. — Por favor? 

Ele deu mais um suspiro e abaixou a cabeça, sorri dando um soquinho no ar ao ver que ele havia desistido ao que via se colocar de pé novamente. 

Pegando sua mão, o puxei em direção das escadas. 

— Você não pode falar para eles que eu ajudei você a tirar algo de lá! — ouvi ele falar. 

— Não se preocupe, nos nem estivemos lá! — falei sorrindo entrando no sótão. 

Vi que ele não me seguiu para dentro, então empurrei a caixa até a porta, sem me importar de perguntar se havia algo errado com ele, o vi pegar a caixa que eu havia empurrado até ele, ao que ele a pegou e sair rapidamente dali, segui ele, mas antes fechei a porta descendo as escadas atrás dele em seguida. 

Chegamos ao meu quarto e abri a porta pedindo que ele deixasse a caixa no chão, e assim ele o fez. 

— Muito obrigado SeokJin! — disse me ajoelhando e abrindo a caixa. 

— Não foi nada, mas sabe, eu não te ajudei a trazer isso para cá! — falou apontando um dedo para mim. 

— Trazer o quê? — fiz uma expressão inocente, da qual ele riu e balançando a cabeça, antes de me deixar sozinho com meu achado. 

Com todo cuidado, fui retirando tudo dali de dentro, deixando ao meu lado para depois poder organizar nas prateleiras que haviam ali. O palhaço coloquei na minha cama, assim como o carrossel na mesa ao lado da minha cama. 

Quando pensei ter retirado tudo da caixa, percebi algo que não havia visto antes, no fundo da caixa. 

Era outra caixa quadrada de madeira, era pequena e quando abri vi ter dentro um palhaço pequeno, o encaixei e dei corda, logo uma música começou a tocar enquanto o boneco rodopiava, gradualmente senti minhas pálpebras pesarem. 

Fechei a tampa rapidamente, não podia dormir antes de arrumar tudo ali. 

E assim gradualmente fui organizando tudo no lugar, deixando alguns quadrinhos em cima da cama para ver quando terminasse. 

Depois de tudo em seu devido lugar, deitei-me na cama, arrumando o palhaço ao meu lado, passei o resto do dia ali, e quando começava a escurecer ouvi os mais velhos chegarem. 

Minha mãe passou no meu quarto e mandou eu ir tomar banho para então descer para o jantar, assim o fiz e logo estava a mesa com todos eles. 

Após o jantar nos reunimos para assistir e mesmo que tenha dormindo quase o dia todo, meu corpo começou a dar sinais de cansaço, não vi o momento em que peguei no sono, ao menos vi se foi meu pai ou meu avô que me colocou na cama. 

Mas sei que em algum momento da noite, acordei com o barulho do relógio pêndulo ecoando pela casa silenciosa, o que era estranho visto lembrar de meu avô falando que ele não funcionava, e mesmo após nossa chegada ali, em nenhum dia, até aquele, ele havia tocado. 

Foi também naquela noite, que comecei a ouvir os primeiros barulhos naquela casa... Os primeiros de muitos que ouvi enquanto ali permaneci. 

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Night Whispers {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora