O trem estava muito atrasado, e o crepúsculo azul profundo de junho se estendia sobre o campo quando Scarlett desembarcou em Jonesboro. Os reflexos amarelos dos lampiões apareciam nas poucas lojas e residências que restavam no vilarejo. Grandes espaços vazios separavam os prédios na rua principal, onde as casas tinham sido bombardeadas ou incendiadas. Prédios destruídos com buracos de bombas no teto e paredes pela metade a observavam, silenciosos e escuros. Uns poucos cavalos encilhados e grupos de mulas estavam amarrados do lado de fora da loja de Bullard. A estrada vermelha e poeirenta estava vazia e sem vida, sendo os únicos ruídos do vilarejo uns poucos gritos e risadas embriagadas que flutuavam pelo ar imóvel, oriundos de um saloon mais distante.
A estação não fora reconstruída depois do incêndio na batalha, só havendo em seu lugar um abrigo de madeira, sem laterais que protegessem do tempo. Scarlett sentou-se em um dos pequenos barris, que obviamente estavam ali para esse fim. Ficou olhando para um lado e outro, esperando Will, que tinha de estar lá para encontrá-la. Ele deveria saber que ela pegaria o primeiro trem após receber seu recado lacônico sobre a morte de Gerald.
Saíra de Atlanta com tanta pressa que só pusera na bolsa uma camisola e uma escova de dentes, nem sequer uma muda de roupa de baixo. Estava desconfortável no vestido preto apertado emprestado pela Sra. Meade, pois não tivera tempo de arranjar suas roupas de luto. A Sra. Meade estava magra, e a gravidez avançada de Scarlett tornava a roupa duplamente desconfortável. Mesmo com o pesar pela morte de Gerald, não esquecia a aparência, e olhava o corpo com desgosto. Sua silhueta sumira, e o rosto e os tornozelos estavam inchados. Até então, não tinha se importado muito com isso, mas, agora, que faltava pouco para ver Ashley, importava-se demais. Mesmo com o coração pesaroso, ela se encolhia ao pensar em encará-lo esperando o filho de outro. Ela o amava e ele a amava, e aquele filho indesejado agora lhe parecia uma prova de infidelidade àquele amor. Mas, por mais que não gostasse de ser vista sem cintura e leveza no andar, não havia como escapar.
Ela batia o pé, impaciente. Will deveria ter ido a seu encontro. Sem dúvida, ela podia ir até a loja de Bullard e perguntar por ele ou pedir que alguém de lá a levasse até Tara, caso descobrisse que ele não tinha podido vir. Mas ela não queria ir até a loja. Era noite de sábado e provavelmente metade dos homens do condado estaria lá. Ela não queria exibir seu estado naquele vestido preto que mal lhe servia, acentuando em vez de lhe disfarçar as formas. Não queria também ouvir os pêsames gentis pela morte de Gerald. Não queria solidariedade. Tinha medo de chorar se alguém sequer mencionasse seu nome. E ela não ia chorar. Sabia que se começasse seria como da vez em que chorara junto à crina do cavalo, naquela noite pavorosa da queda de Atlanta em que Rhett a deixara na estrada fora da cidade, lágrimas terríveis que lhe dilaceravam o coração e que não cessavam.
Não, ela não ia chorar! Sentiu o nó na garganta surgindo de novo, como acontecera com tanta frequência desde que recebera a notícia, mas chorar não ajudaria em nada. Só a confundiria e enfraqueceria. Ora, por que Will, Melanie ou as meninas não tinham lhe escrito que Gerald estava doente? Ela teria tomado o primeiro trem para cuidar dele em Tara, teria levado um médico de Atlanta, se necessário. Tolos, todos eles! Não conseguiam fazer nada sem ela? Ela não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, e o bom Deus sabia que estava dando o melhor de si por eles todos lá de Atlanta.
Ela já mudara várias vezes de posição sobre o barril, nervosa e inquieta porque Will não chegava. Onde estaria? Então ouviu o pisotear do carvão nos trilhos da ferrovia atrás dela e, virando-se, viu Alex Fontaine atravessando-os rumo a uma carroça com um saco de aveia no ombro.
— Meu Deus! É você, Scarlett? — gritou ele, deixando o saco cair e correndo para lhe dar a mão, o prazer escrito por todo o seu amargo rosto moreno. — Como fico contente de vê-la. Estive com Will no ferreiro. O trem estava atrasado e ele achou que teria tempo de ferrar o cavalo. Quer que eu vá chamá-lo?