Único; Uma longa viagem

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A brisa gelada da noite jogava os fios tingidos em um vermelho escuro para trás, o nariz avermelhado e os dedos gelados enfiados no bolso da calça imploravam para Taehyung voltar pro conforto quentinho que apenas o carro poderia proporcionar, mas o tanque de gasolina ainda não estava cheio, e ficar empacado no meio da rua deserta não estava em seus planos de viagem. Olhou em volta do posto silencioso, a única movimentação que conseguia notar era da moça arrumando alguma coisa nas prateleiras da conveniência, vez ou outra passava um veículo solitário, divagava quanto tempo levaria para chegar até Daegu.

Quando o painel com os números chegou no limite que aguentava, desengatou o gancho do tanque, fechando-o com a chave. Tirou o pirulito que comprou quando foi pagar, desembrulhando o doce e o jogando na boca, arrumando o cabelo antes de entrar no carro. Àquela hora Taehyung devia estar na casa da sua tia, em um dos quartos de hóspedes desfrutando de um bom sono, mas por obra do destino o motor parou de funcionar de repente, o que resultou em horas preciosas parado esperando que o problema fosse resolvido.

Parando para pensar até que não foi de tão ruim se atrasar. Taehyung não suportava a família Kim, por parte de mãe, seus tios, tias e avós eram insuportáveis, sempre com a maldita pergunta “Como vão as namoradinhas”, apesar de ter se assumido gay abertamente para todos. Eles insistiam em achar que trazendo filhas de amigos próximos, ou conhecidas para os jantares juntos faria que sentisse menos atração por garotos, mas não, aquilo apenas trazia um ar pesado para o ambiente, sem falar do desconforto que sentia.

Por isso preferia a família de seu pai, mesmo depois de seu falecimento em um acidente de carro, o resto de seus parentes continuavam mais do que receptivos com Taehyung e o aceitavam do seu jeito. Confessava que conseguia desabafar muito mais com seus avós paternos do que com sua própria mãe, mesmo com a relação instável que mantinha com a mais velha.

Foi checar o horário em seu celular, vendo que faltava pouco para dar duas horas da madrugada junto da mensagem não visualizada da sua mãe que fora enviada horas atrás, perguntando se estava tudo bem e quando chegaria. Adoraria responder que ao menos estava indo para lá, mas nem crédito tinha para conseguir avisar. Guardou o aparelho no porta-luvas, ligando o carro em seguida enquanto trocava a marcha, pisando no acelerador com força, ouvindo o som da borracha do pneu rasgar no chão.

Teria um longo caminho, e como a rua estava escura e vazia, era bem mais relaxante até chegar em Daegu. Seria apenas Taehyung e a música baixa que tocava no rádio, torcia para que chegasse logo e pudesse dormir o dia todo.

Mas enquanto voltava para a estrada, se concentrava em chupar o pirulito e aproveitar de sua própria companhia.

Eram exatas duas e meia da manhã, para infelicidade de Taehyung, ainda faltava muito para chegar na casa de sua tia e já estava ficando entediado. Sua fonte de doces estava chegando ao fim, assim como a água, teria de encontrar outro posto o mais rápido possível.

A rua escura deixava seus olhos atentos, por mais incrível que pareça, acidentes em rodovias com animais eram bastante comuns, e com um bosque ao lado da rodovia não duvidava que havia animais por ali. Trocou os canais da rádio enquanto cantarolava baixinho uma música qualquer, pegando outro pirulito da sacolinha, desembrulhando o doce desajeitadamente olhando para a estrada deserta.

Era solitário, mas a sensação já fazia parte de sua vida a muito tempo.

Apertou o botão que abria a janela para jogar a embalagem fora – a existência do lixo sendo completamente esquecida – deixando o papelzinho ir para longe de acordo com o vento, desviando brevemente o olhar para trás. E ainda bem que foram só breves dois segundos, porque no instante em que virou o rosto, precisou frear bruscamente o carro quando uma silhueta se ergueu no meio do caminho. O grito que veio do lado de fora só o fez pensar como se fosse de uma pessoa, perguntando o que alguém estaria fazendo ali sozinho.

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