Capítulo 6 - Se tudo fosse diferente

115 20 17
                                    

 
Valentina Zenere

Finalmente era sábado, dia da minha viagem. Talvez eu esteja com um pouco de medo do que pode acontecer, mas mesmo assim, sei que é isso que eu preciso fazer.

Me levantei da cama, tomei um banho e me troquei com a única roupa que havia deixado fora das malas. Chamei um uber e decidi tomar café no aeroporto, pois de maneira alguma, queria me atrasar e perder o vôo. Estava com o dinheiro contado e não queria ter que gastar mais uma passagem.

O uber chegou, olhei para o apartamento que já estava praticamente vazio e segui para o elevador. Parte de mim estava super receosa do que Ruggero poderia falar, mas eu não queria desistir sem ao menos tentar a última vez. Rugge foi uma das pessoas mais incríveis que passou pela minha vida e eu não poderia perder dessa forma, levando em conta que eu sei que a culpa foi meramente minha.

Cheguei no uber e fomos direto para o aeroporto, lá, consegui pegar um café com leite e um salgado e ir direto para sala de embarque. Faltava 20min para o vôo iniciar, então daria tempo de tomar o café da manhã.

20 minutos se passaram e finalmente consegui entrar e procurar meu acento. Sentei e coloquei minha bolsa no colo. Eu estava no acento ao lado da janela e isso me remeteu a  vez em que peguei um avião pela primeira vez...

Alguns anos atrás (...)

- Eu não acredito que você me traiu.
Eu amei você. Como vou falar isso pra nossa filha?

Escutei um barulho de gritos vindo da sala. Estava no quarto fazendo a lição de casa, mas o barulho se prolongava e ficava cada vez mais alto.
Faziam meses que meus pais brigavam constantemente,  mas antes não era assim. Sai da cama e desci as escadas devagar e sem fazer barulho e fiquei atrás de uma parede observando. Mais uma vez meus pais estavam brigando na sala.

- você fez isso primeiro e na sua vez tudo bem? Você desistiu de nós primeiro.
- sua vagabunda! Alberto (pai da Valentina ) bate no rosto de Lilian (mãe da Valentina).
- você me bateu!
- PAREM! EU NÃO AGUENTO MAIS!

Dias atuais

- senhorita?! senhorita?! Poderia colocar o cinto por favor?

Escutei a voz da aeromoça e acordei de meus pensamentos, ou pior, pesadelo.
Faz 5 anos desde que meus pais se separam, mas a imagem da briga ficou na minha mente e eu só consegui acreditar um pouco no amor quando conheci o Rugge. Eu fiquei muito abalada por tudo que vivi durante anos na Espanha. Meus pais eram casados há 10 anos. Os primeiros 5 anos era tudo perfeito e eles pareciam se amar. No 6° ano, meu pai começou a sair nas madrugadas e deixava minha mãe sem respostas, até que um dia ela o viu com uma amante. Minha mãe passou dois anos chorando e tentando perdoar ele, até que depois disso, ela queria vingança e começou a copiar os passos dos meus pais. Aquilo destruiu tudo. Minha vida não foi mais a mesma e a única coisa que eu pensava, era sair, fugir daquele ambiente.
Lógico que quando meu pai bateu na minha mãe, eu fiz de tudo para ajudar ela,mas ela não me permitiu levar ela na delegacia prestar conta, ao contrário, ela jogou toda a culpa em mim e disse para eu não me meter.
Logo depois dessa briga, tudo em mim mudou. Peguei minhas coisas e fui morar com minha amiga Giovana. Mandei um recado para a família do meu vizinho, que era um grande amigo meu, para denunciar meu pai do que fez anonimamente, pois eu não estava mais disposta a ouvir da própria mãe que eu não deveria me meter. Meu pai foi preso por 1 ano e meio e depois que saiu, conheceu uma mulher e se casou novamente. Minha mãe conheceu outro rapaz e mudou de vida. Decidi que a partir daquele dia, eu não confiaria mais em ninguém. Passei meses e mais meses estudando muito para conseguir a melhor bolsa de estudos da faculdade Julliard e consegui. Entrei com a melhor nota para estudar arte e hoje posso dizer que sou uma atriz. Faz 5 anos que não converso com meus pais, mesmo que eles tenham se arrependido. Minha mãe as vezes me liga para saber como estou, mas eu nunca conto na verdade como me sinto.
Depois que consegui a vaga da faculdade, não voltei mais para Espanha, cidade onde meus pais moravam.

Alguns anos atrás (...)

Era uma manhã ensolarada,  mas não tão quente. Decidi revisar a matéria embaixo de uma árvore. Não era muito de papo, nem de muitos amigos. Coloquei meu fone de ouvido e comecei a escrever.

- Oie, eu posso me sentar aqui com você?

Era um garoto bonito. Ele veio ate mim e se sentou e começou a falar, falar e falar. Seu nome,  Ruggero Pasquarelli. Viramos amigos no primeiro dia e em 1 mês a gente já sabia tudo sobre a vida um do outro. Ele sabia a história dos meus pais e me entendia bem, mesmo sem passar por tudo isso. Eu sabia que ele havia deixado tudo para trás para cumprir um sonho. Mesmo tendo famílias diferentes, tínhamos o mesmo objetivo. Sermos bons naquilo que amamos, ele com a música e eu com teatro.
Rugge e eu começamos a namorar. Ele havia me falado que era Cristão e que o namoro deveria ser diferente. No início eu entendi e achei até romântico isso de esperar o casamento, mesmo eu tendo praticamente a certeza de que não queria casar. Não para ser como meus pais. Não queria reviver aquilo.

Alguns meses depois, Ruggero simplesmente acabou cedendo, nós tivemos nossa primeira vez e ele acabou se mudando pro meu apartamento. No início do nosso namoro, morávamos ainda na faculdade, mas Ruggero foi chamado para trabalhar em um restaurante e eu comecei a trabalhar em um salão de cabeleireiro. Não que eu queria aquilo para o meu futuro, mas a ideia era pagar contas e sair dos quartos da faculdade, ter privacidade, ter nossas coisas.
Rugge sempre foi a base familiar que eu nunca tive depois de tanto tempo. Eu até comecei a cogitar em me casar com ele, pois ele sempre vivia falando que não era certo a gente morar junto sem ter um compromisso perante a igreja e a Deus, mas eu estraguei tudo quando soube que minha bolsa tinha sido suspensa e eu pensei que não iria conseguir terminar a faculdade. Eu comecei a frequentar boates e festas toda a semana, comecei a beber muito e as consequências vieram.Eu o trai,da mesma forma que meus pais. Ja tem 6 meses que eu luto contra a bebida. No início ele tentou entender, mas eu compreendo que ele tenha se esgotado. É muito difícil ajudar alguém que diz que ama, mas trai quando enche a cara e põe a culpa na bebida.  Filha de peixe, peixinho é? Mas eu não queria isso pra mim. Eu o amava, amo na verdade.

- preciso que ele me perdoe.

Dias atuais...

Finalmente o avião pousou. Desci e chamei um táxi e pedi para que ele me levasse ao local que eu havia pesquisado no Google. Como eu não sabia onde era a casa de Rugge, pensei que se eu localiza-se a igreja do pai dele, seria mais fácil encontrá-lo.
O táxi parou de frente a igreja. Sai do mesmo e fui de encontro a uma porta pequena que estava aberta.

-  oooi,  tem alguém aqui?

Vejo um senhor que estava limpando a igreja e o chamo.

- senhor! Eu poderia pedir uma informação?
- claro menina. Oque a senhorita quer?
- você pode me dizer onde encontro o Ruggero Pasquarelli, filho do pastor dessa igreja?
- ih minha filha, eu nem sabia que ele tinha voltado, o pastor não me disse nada e eu não posso dizer onde ele mora por respeito, mas conheço uma pessoa que pode te ajudar. Volta aqui a noite, as 19h tem uma célula aqui e um garoto chamado Mike é quem comanda. Eles eram bons amigos, talvez ele saiba te ajudar melhor.
- muito obrigada..

Horas depois...

Depois de finalmente encontrar um lugar para passar a noite, Decidi tomar um banho e me trocar para voltar a igreja a procura do tal Mike Ronda. Eu meio que sabia quem ele era porque Rugge já tinha mencionado algo sobre, então seria mais fácil de encontrá-lo.

Chegando na célula, me sentei ao fundo e observei atentamente todos os lados para ver se Ruggero aparecia, mas ele não apareceu. A igreja estava cheia, mas assim que acabou, me levantei e fui até o rapaz que tinha ministrado.

- boa noite Mike, eu preciso que me ajude com algo.
O rapaz me olha com um olhar meio assustado e um pouco surpreso, e logo depois sorri para disfarçar. Acho que ele sabe quem sou eu e oque estou fazendo aqui.

Continua..

(A vida da Valentina foi difícil. É por isso que precisamos sempre olhar os dois lados da moeda. Me conta aí oque vocês acharam)

Looking for the way (A procura do caminho) Onde histórias criam vida. Descubra agora