Capítulo 9 - Uma célula inesperada.

122 21 9
                                    

Ruggero Pasquarelli

Já havia me decidido que ainda nessa semana, iria me encontrar com Valentina e resolver aquilo que pra mim já estava mais que resolvido, mas por respeito há tantos anos juntos, eu iria ouvi -la e conversar numa boa.

Estava terminando de arrumar meu quarto, pois desde a minha mudança, o quarto ainda tinha cara de quarto de hóspedes e bem, eu achava que precisava ter um pouco mais a minha cara.
Comecei a colocar algumas fotos minhas e da minha família espalhadas pelo mesmo, troquei as roupas de cama e tirei as roupas que estavam na mala e coloquei dentro do armário.

Escutei um barulho vindo da porta e notei que Mike havia acabado de entrar.

- eai, tudo bem cara? Mike entrava no quarto e sentava do jeito contrário na cadeira.
- tudo certo cara, qual a boa de hoje? Estava com a Karol?
- sim, a propósito, queria lhe fazer um convite.
- convite para ... ?
- quero que vá comigo na célula de hoje. Relaxa que não vai tanta gente assim, não é como os cultos de domingo se você tá pensando.
- melhor não cara, melhor não. Vou ficar de boa aqui assistindo um filme e colocando as ideias no lugar.

Mike Ronda

Desde que Rugge apareceu, Karol parecia cada dia mais estranha. Nas primeiras semanas, achei que era só um baque de ver nosso amigo novamente, mas já fazia um mês que ela não aparecia em casa, então eu sempre tinha que encontrar ela na casa dela ou em outro lugar.

Algumas horas antes (...)

" me encontra em frente ao Blake e tomamos um sorvete juntos no shopping, okay? "

A voz de Karol estava um pouco trêmula. Confirmei e assim que minha aula acabou, fui de encontro a ela no Blake e pegamos um uber para o shopping.
Ela passou o caminho todo quieta, até que ao chegar na praça de alimentação, falou.
- mudança de planos, quero um milkshake de chocolate.
- sim Senhora Cisneros. Falei tentando anima-la.

Pegamos o milkshake e fomos para uma das mesas do local.

- então???
- então oque? Ah, lembrei! Ruggero me seguiu no insta e curtiu e comentou algumas fotos. Acho que ele queria nitidamente me mostrar que estava me stalkiando.
- sério? E como você está com isso?
- um pouco confusa e nervosa né. Tem uma loira, ex namorada na minha casa. Quer dizer, hoje ela saiu com uma colega que mora tbm aqui em BA e por isso te chamei pra conversarmos. Fiquei receosa dela entrar na minha casa e ouvir a gente ou minha reação.
- você fez bem. Mas calma, Rugge me disse ontem a noite que iria conversar com a menina algum dia desse.
- isso vai ajudar onde? Ela riu.
- ah, não sei. Ele coça a cabeça.

Algumas horas depois, a noite (...)

Ruggero Pasquarelli.

Alguns minutos depois que Mike saiu de casa novamente, decidi ir até a cozinha pegar algo pra comer antes de começar o filme. Olhei encima da bancada e tinha o novo endereço onde a igreja se encontrava, já que desde a minha saída, a igreja havia mudado de lugar e passado por uma reforma. Respirei fundo, peguei o endereço e sem pensar muito, troquei meu pijama por uma calça jeans e camiseta preta e fui até o local com a ajuda do uber.
Eu estava nervoso e ansioso, pois sabia que Karol provavelmente estaria no mesmo lugar e talvez nem ela mesma saberia do convite que Mike fez a mim. Faz alguns anos desde que me afastei dos caminhos. Alguns anos desde que tudo mudou e talvez nem em sonhos, ela imagine esse reencontro oficial dentro de uma célula na igreja.
Cheguei no local, entrei e me sentei bem ao fundo para que ninguém notasse minha presença. Muitos ali nem sabiam quem eu era e fiquei feliz por isso, pois não queria causar nenhum alarme. Mike me viu e acenou, mas não falou nada pra não causar alarme.

Karol Cisneros.

Desde a hora que saímos daquele shopping, até agora, sinto que tem algo que Mike não quer me dizer. Uma sensação bem estranha pairava na minha mente e coração, mas apesar de eu estar estranha, a obra não poderia parar e eu iria ministrar o louvor na célula. Me arrumei e pedi a meu pai Miguel, para que me levasse de carro junto com Valentina, pois não a deixaria sozinha e poderia unir o útil ao agradável né.
Chegamos e pedi pra que ela ficasse comigo na sala de trás até começar, pois eu estava nervosa e conversar me faria bem. Ficamos ali até que Mike deu a deixa dizendo que a célula iria começar.
Entramos e sentamos uma do lado da outra. Mike iniciou e depois chamou meu nome para que eu pudesse começar o louvor.
Me levantei e fui até o púlpito onde estava alguns amigos meus que tocam e umas meninas que fariam o back. Peguei o microfone e com os olhos fechados, comecei a ministrar e louvar.
Assim que abri meus olhos, eu o vi. Era difícil não reconhecer aquele cabelo, aquela barba... o nervosismo tomou conta de mim. Eu sabia que Valentina estava lá, Mike também e ninguém poderia desconfiar de nada. Automaticamente parei de cantar e por sorte as meninas continuaram e ninguém percebeu.
Ao terminar o louvor, sentei no meu lugar e sussurrei baixinho a Valentina para ela ver quem estava ali, mas disse a ela pra que esperasse a célula finalizar. Não poderíamos formar um escândalo no meio da igreja.

Valentina Zenere

Eu havia passado a tarde com minha amiga Melissa, conhecendo a tão linda Buenos Aires. A mãe de Melissa era da equipe de turismo, então puderam me levar sem que eu precisasse gastar um centavo. A ideia era conversar com Rugge e vê se voltariamos para Nova York ou se ficaríamos por aqui. Se eu ficasse, teria de vender o apê de vez e depois procurar um emprego por aqui.
Assim que cheguei, Karol disse que eu precisava me arrumar depressa para ir a célula com ela. Me lembrei que fazia uma semana do dia que conheci Mike. Me arrumei correndo para não atrasar a menina e logo fomos para a igreja com o pai dela que nos levou.
Assim que Karol terminou de ministrar, ela sussurra algo no meu ouvido. Algo que pensei que levaria tempo pra ouvir algo do tipo, já que Ruggero não iria a uma igreja a décadas e o próprio Mike tinha me dito que ele não costumava ir até lá e muito menos iria se soubesse sobre mim. Talvez Mike tenha de fato esquecido, até porque ele não iria querer causar uma treta na hora da mensagem. Ruggero estava lá atrás, no canto e havia me encarado. Pronto, ele sabia que de hoje não escaparia da nossa conversa.

Mike Ronda.

Assim que vi que Valentina estava com a Karol, me lembrei que ela estava ficando na casa da mesma e era basicamente impossível a minha amiga deixar a loira sozinha em casa , sabendo que Karol arruma uma desculpa sempre para evangelizar. Eu realmente tinha me esquecido desse detalhe quando chamei Rugge. Eu simplesmente queria que ele seila, se enturmasse com a galera e sentisse novamente parte de algo e claro, que ele e minha melhor amiga, se resolvessem, pois parecia muito que eles precisavam de um pequeno empurrão, mas agora parece que vacilei, ele vai ter que enfrentar outra coisa antes e Karol, ah, a Karol vai me matar.

Ruggero Pasquarelli

Já tinha começado quando me sentei e eu pude escutar Mike chamando a Karol para subir ao púlpito. "Ela estava linda ", pensei. Tentei não fixar meus olhos nela, pra que ela não se sentisse nervosa e estragasse tudo, não que ela gostasse de mim, mas eu sabia que ela estava com raiva por eu ter dito que conversaremos sempre, quando na verdade , um ano depois estava eu com uma namorada loira e esquecendo dos amigos. A entrega dela no louvor era lindo de se ver, mas era óbvio que só foi ela abrir os olhos e me notar ali, que sua voz mudou. Não estava feia, mas estava trêmula e aparentava desespero, por sorte ninguém estava notando.

Alguns anos atrás (...)

- você não me falou que tinha uma voz linda dessa Karol. Estávamos sentados na quina do muro da igreja logo depois de um culto pela manhã.
- porque talvez você nunca tenha perguntado.
*rimos
- olha, eu vou tocar essa música aqui e se você souber, você entra em seguida.
- está bem.
Ela cantava e sorria para mim. Seus olhos brilhavam constantemente. Lionel tinha sorte, pensei. Mas oque? Karol é nova, Ruggero, não pense nisso, ela é só uma amiga.

Dias atuais (...)

Fazia anos desde a última vez que a escutei. Lógico que tiveram muitas vezes e muitas oportunidades para isso. Mas uma coisa que a gente nunca fez, foi cantar juntos. Sempre tocava o violão para ver a minha amiga cantar, mas nunca tive coragem para dizer a ela que poderíamos um dia formarmos uma dupla.

Assim que ela terminou, a vi sentando ao lado de uma garota loira e ao fixar melhor meus olhos, percebi quem era. Nada mais, nada menos que Valentina Zenere, minha ex namorada.

Looking for the way (A procura do caminho) Onde histórias criam vida. Descubra agora