Daquela sala escura eu só conseguia avistar algumas árvores e nelas só restavam poucas folhas e galhos secos, que assombravam ainda mais aquele dia. Esse era só mais um 20 de julho normal em minha vida.
Desde que a minha tia Karina morreu, meus dias escuros parecem estar ainda mais sombrios. Afinal, a minha vida sempre foi muito sem graça, na escola eu sempre fui a garota sem pais, sem irmãos e quase sem amigos. Na verdade, sem amigos! Natália e Melissa bem que tentavam gostar de mim, mas eu sei que quando não estava com elas acabavam por rir da minha vida assim com os outros faziam.
Bem, se vocês acham que entenderam tudo da minha vida? Tenho certeza que não. Há mais detalhes que preciso contar sobre ela para que entendam. Então, quando eu tinha um ano de idade os meus pais acabaram me deixando na porta da casa da minha tia Karina. Até onde eu sei, ou melhor, tudo que eu sei sobre os meus pais é de que os dois trabalhavam com o tráfego e que me deixaram sozinha pois queriam que eu tivesse uma vida tranquila e livre de qualquer ilegalidade. Porém, o que eles não sabiam é o que aconteceria logo em seguida. Eu não os culpo, não faziam nem ideia de como é criar um bebê. Quer dizer, eu os culpo sim, culpo bastante.
Quando a minha tia Karina se deparou comigo deitada na porta da casa dela, apenas enrolada em uma fina cobertinha, com uma fralda de pano e com nenhuma roupinha, ela entrou em pânico. Me ajuntou daquele chão gelado e me apertou junto de seu peito, na tentativa de me esquentar. Lembro-me que ela contou que não entendia como conseguiu juntar tão rápido os fatos, mas que quando olhou para os meus olhos cor de mel, viu o mesmo olhar de sua irmã Meredith (minha mãe), e soube quase que imediatamente que eu era filha dela. Mas sabe qual foi o momento em que teve certeza? Sim, quando ela percebeu que eu estava toda gelada, mas que não havia soltado uma lagrimazinha qualquer, mesmo estando naquele estado. Karina dizia que minha mãe sempre foi muito forte e que nunca tinha visto ela chorar.
Então, assim que o dia amanheceu, minha tia pegou o carro e foi fazer compras, compras não, foi fazer o meu enxoval, pois meus pais com certeza não tinham comprado nada para mim. Karina trabalhava em um pet shop ali perto da sua casa, e como se dava muito bem com o seu chefe, esse lhe deu a manhã de folga para que pudesse se organizar.
Sabem quantos dias demorou para que minha tia fosse demitida do emprego dela por minha causa? Três dias! Sim, porque ela não tinha como pagar alguém que pudesse cuidar de mim, então a única saída para cuidar de um nenê recém-nascido, que só sabe chorar, mamar e dormir, era me levar junto ao pet shop. Porém, Karina não conseguia dar conta de todos os animais que chegavam e cuidar de mim chorando, querendo leite (que ela precisou comprar).
O chefe dela se enfureceu no terceiro dia e a mandou embora. A pobrezinha da minha tia começou a vender peças de roupas que costurava em casa, começou a costurar roupas rasgadas e assim conseguia cuidar de mim também.
Foi dessa forma que a gente foi se virando.
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Esquecida
Teen FictionSabe aquelas histórias de garotas que não conhecem seus pais e que acabam por encontra-los ao longo da sua vida fodida e que finalmente vivem como uma grande família feliz? Então, isso é exatamente o que não acontece comigo. Por não ter encontrado m...