Capítulo IV

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— Tina, se acalma. — Uma mão segura o meu braço e me ajuda a levantar do chão. Era Jace. Mas ele não estava sozinho, estava acompanhado por uma linda moça. Ela tinha cabelos loiros lisos e olhos azuis. A sua pele clara quase contrastava com o azul dos seus olhos. — Essa é a Suellen. — Ele olha para ela com muito carinho, e de imediato entendo que ele gosta muito dela.

— Oi Suellen. Eu sou a Tina. — Dou um sorriso sem graça, ainda engolindo as lágrimas. Tento me conter o máximo que consigo. Olho em volta e vejo que tem várias pessoas me observando. Que vergonha. Eu só queria ir para a minha casa. — Vou indo para a casa. — Falo meio sem jeito para os dois.

— De forma alguma, a gente te leva. — Sabia que iria ter que ouvir isso, mas não me sinto segura em levar estranhos até a minha casa. No momento, eu não sabia mais nem quem era o meu melhor amigo, imagina os amigos dele então.

— Não, eu vou sozinha.

— Tina, por favor. Deixa a gente te ajudar. — Suellen me dá um sorriso e pega a minha mão. Decido deixá-los me acompanhar até em casa.

— Vamos com o meu carro. — Diz Jace.

Quando estamos chegando na minha rua, vejo que o carro do Guilherme está parado em frente à entrada da minha casa. Sinto um frio na barriga.

— Tem certeza que quer descer? — Jace olha com pena para mim, mas eu não tenho muitas escolhas.

— Sim.

Ele para o carro logo atrás do de Gui, e eu desço. Suellen desce logo atrás de mim.

— Tina, nós dois precisamos conversar. — Eu reviro os olhos.

— Não, nós não precisamos conversar. Você mentiu para mim e isso significa que eu não posso confiar em você. — Gui tenta segurar o meu braço, mas eu me desvencilho. Sinto a mão gentil da Suellen em minhas costas, e ela entra comigo na casa.

— Nossa! Que casa aconchegante. — Ela olha para mim e dá um sorriso.

— Obrigada. Era da minha tia, mas infelizmente ela acabou falecendo. — Tento não demonstrar muito meus sentimentos de tristeza, mas é quase impossível se tratando da minha tia.

— Ah sim, eu fiquei sabendo do que aconteceu. O Gui acabou me contando, espero que não fique chateada. — Fiz que não com a cabeça.

Que engraçado, o Gui tinha falado de mim para ela então... mas para os seus outros amigos pelo visto não.

— Bem, então acho que é isso. Obrigada por terem me acompanhado até em casa, mas eu realmente quero ficar sozinha. — Olho para ela na esperança de que vá logo embora.

— Ah sim, claro, tudo bem. Eu vou indo. — Ela se vira em direção a porta, mas se vira para mim logo em seguida. — Tem certeza que não quer uma companhia? — Ela revira os olhos e me dá um sorriso sem graça. — Não acho que o Gui vai desistir tão cedo e ir embora.

— Foi o que pensei. — Dou de ombros e aponto a cabeça em direção a sala, para que fique à vontade. — Eu preciso tomar um banho, e esfriar a cabeça. Você pode ficar à vontade, caso queira convidar o Jace para entrar também. — Vou em direção a escada, mas lembro-me de um detalhe. — Só, pelo amor de Deus, não deixe que o Guilherme entre aqui.

Fui direto para o banheiro, na esperança que a água quente do chuveiro lavasse todas as minhas dores e preenchesse todos os meus vazios. Claro que isso não aconteceu, mas a sensação de um pouco mais de leveza me deixou melhor.

Usei meu pijama, que provavelmente seria meu traje durante vários longos dias, e lembrei que tinha deixado a Suellen na sala de estar.

— Eu não pedi para que não deixassem o entrar na casa? — Bufei com raiva. Gui estava sentado ao lado de seu amigo em um dos sofás, enquanto a moça me esperava no outro, pelo visto muito impaciente.

— Sim, me desculpa. — Ela lançou um olhar acusatório para o Gui. — Nós não conseguimos segurá-lo do lado de fora por muito tempo, também não acho que ele teria parado antes de derrubar a porta se não a abríssemos.

— Que ótimo. — Revirei meus olhos e o encarei com raiva. — Agora você já pode dar o fora daqui, não quero mais falar com você. — Como se já não tivesse deixado isso bem claro, imaginei.

— Por favor, me ouça... — Eu o interrompo com um aceno de mãos.

— Não. Se você realmente me considerasse sua melhor amiga como sempre me falava, não teria feito pouco caso de mim para os seus amigos, e não deixaria que aquela sua outra amiga me tratasse daquela forma. Para mim está bem claro que você sente vergonha de ser meu amigo, sendo assim, pode dar um fora da minha casa, antes que eu chame a polícia e mande eles te levarem a força. — Paro para respirar — E não há nada que você possa querer me dizer que justifique a sua atitude.

Depois de eu ter praticamente vomitada tudo aquilo para fora, Jace se levanta e tenta segurar o braço de seu amigo para leva-lo embora, mas ele se desvencilha rapidamente e o dispensa com um aceno de cabeça.

— Tina, você entendeu tudo errado, eu te escondi dessa maneira para te proteger. Aqueles meus amigos não são boas pessoas. — Ele olha para o casal presente ali. — Esses dois também não são, apesar de serem um pouco mais simpáticos e terem gostado de você. O meu passado é todo errado Tina, mas desde que entrei naquela empresa e conheci você, tudo mudou. — Ele abaixa a cabeça e quando volta a falar, sua voz está falha. — É somente isso que eu posso te contar, por favor, não se afaste de mim, preciso de confie em mim.

Fico ali, completamente transtornada encarando o chão.

— Agora vamos embora, ela precisa descansar. — Suellen levanta, agarra a mão e o braço de Guilherme, e com a ajuda de seu namorado levam-no até a porta. Antes de sair, ela abre a boca e sussurra um "tchau", depois abre um meio sorriso e de fato, vão embora.

Vou até um dos sofás da casa, me sento e tento encontrar a minha boca para pedir que um deles fique comigo, que não aguento ficar sozinha, mas simplesmente não consigo. Meu choque não é apenas pelo que o Guilherme acabou de me dizer, mas eu não via mais sentido em minha vida. Meu emprego, será que eu ainda tinha um? Minha família, minha tia morta e enterrada? Meu melhor amigo, quem ele é afinal? Não faz sentido algum.

Usei um cardigã por cima do meu pijama e simplesmente saí da casa para caminhar. Quem sabe eu não encontrasse algo no caminho que me desse alguma esperança.

Esperança eu não sei, mas eu não havia nem chegado na primeira esquina após a casa quando senti uma pancada tão forte na minha nuca que acabei caindo. A ardência em minhas pernas e nos meus braços foi instantânea, imagino que tenha arrancado parte da minha pele com o impacto. Um detalhe apenas.

Dois homens eu imagino, pela estatura e pelo porte físico, me seguraram e me arrastaram para dentro de uma van, antes que eu pudesse me mexer ou dizer qualquer coisa, outra pancada me acertou e dessa vez eu simplesmente apaguei. 

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