Acordei em meio a fortes solavancos. Tentei me sentar e apoiei a mão em alguma coisa que estava ali do meu lado.
— Esse pé é meu. — Dei um sobressalto me assustando com a voz, pensei que estivesse sozinha dentro dessa van.
Ignoro totalmente a pessoa que ali está, pois não tenho certeza se também foi sequestrada ou se apenas está me viajando. Cerro os punhos ao lado do meu corpo e sinto o sangue ferver em minhas veias. Dou um soco na porta traseira da van na tentativa de tentar abri-la. Obviamente, em vão.
— Não adianta, essa maldita porta não vai abrir. — O rapaz que está na van comigo tenta me segurar pelo braço, mas eu me desvencilho rapidamente.
— Tudo bem, eu já parei. — Volto para o meu lugar, derrotada. — Você sabe para onde estamos indo? — Olho para ele com a última centelha de esperança de que tudo isso seja um mal-entendido.
— Não. É impossível escutar a conversa desses dois idiotas aí da frente. — Ele parece pesar o peso das suas próximas palavras — Mas tenho minhas suspeitas que estão nos levando para o pessoal que trafica órgãos.
Meu rosto deve ter ficado tão branco como a cor do meu pijama, pois o rapaz imediatamente veio para o meu lado e tentou me acalmar.
— Calma, é apenas uma suspeita minha. Pode ser que não seja nada disso. — Ele olha brevemente para o chão. — De qualquer forma, isso não importa. Estamos correndo perigo aqui dentro dessa van.
— Bem, é verdade. — Digo mais para mim do que para ele. — E por acaso você pensou em alguma forma de sairmos daqui?
— Ainda não. — Ele faz uma pausa como se refletisse sobre um segredo, que deveria ou não ser contado para uma estranha — Antes de pararem para pegar... é... sequestrar você, eu ouvi-los falando que deveriam chegar até o aeroporto internacional mais próximo antes do dia amanhecer.
— Bom, ao menos sabemos que querem nos levar para fora do Brasil. — Reviro os meus olhos e dou um longo suspiro. — Isso está ficando cada vez pior. — Seguro as lágrimas que insistem em cair. O rapaz ainda permanecia bem perto de mim e agora afagava meu braço, na tentativa de fazer com que eu ficasse bem.
Encosto a minha cabeça na lataria da van e fecho meus olhos. Que falta eu estava sentindo do Gui agora. Durante todo esse tempo foi ele quem sempre esteve ao meu lado, mesmo antes da minha tia falecer, sempre me ajudou quando precisei. Ao mesmo tempo, também continuava sentindo muita raiva dele por ter mentido para mim, por ter escondido quem ele era. Pensando bem, para essa pergunta eu ainda não tenho uma resposta.
Continuo com a cabeça levemente apoiada quando percebo que o terrível balanço da van parou. Antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa para o rapaz que estava comigo, a porta se abre.
— Hora de ir pessoal. — Dou uma risada e tomo o máximo de cuidado para que ela parece o mais esnobe possível. — Ora, animem-se, não é todo dia que se ganhe uma viagem para Boston.
Enquanto ainda processo a ideia de que além de ser sequestrada, ainda seria levada para Boston, onde com certeza eu não conheço ninguém e da mesma forma não irei ser resgatada, um dos homens de preto me arrasta consigo em direção a pista dos voos.
— Olha Richard, eu estou estranhando a reação dessa moça, ela não está nem se debatendo ou tentando lutar contra mim, acho que ela entendeu errado quando dissemos que ganhou uma viagem para Boston. — Ele olha para seu companheiro que vinha logo atrás, com o outro sequestrado, que olhava para baixo inteiramente desesperado. — Veja bem menina, deixa eu te contar, é uma passagem só de ida, de ida direta para a sua morte. — Ele ri e sinto gotinhas da sua saliva respingarem nos meus braços.
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Esquecida
Teen FictionSabe aquelas histórias de garotas que não conhecem seus pais e que acabam por encontra-los ao longo da sua vida fodida e que finalmente vivem como uma grande família feliz? Então, isso é exatamente o que não acontece comigo. Por não ter encontrado m...