Capítulo 5 - É o fim?

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-- Estúpido, Martin estúpido, se ele soubesse o quanto eu segurei o choro durante a viagem por causa dele não falaria tanta idiotice! Nunca, nunca mais quero olhar para a cara daquele imbecil! - desabafo para Carl, mesmo não entendendo sentimentos.

-- Hey, hey, estrela, você não deveria estar aqui, este muito tem florestas muito perigosas, você pode ser atacada!

-- Eu não me importo, que o que esteja aqui me mate logo!

Eu estava furiosa, me enfiei em uma floresta densa junto com o pássaro peludo, sem sequer temer o que tinha ali dentro. Parei, encostei minhas costas em uma arvore e me sentei nas folhagens secas, chorando, chorando muito, apesar da raiva o que eu mais queria naquele momento era que Martin viesse me consolar e fizéssemos as pazes, foi uma briga um tanto idiota, mas realmente fiquei sentida com as palavras dele.

-- Hey, hey, estrela, nós não deveríamos estar...

Subitamente parava de falar e olhava para o céu, com tons de vermelho por conta da radiação de fundo, sabe quando um gato começa a observar a parede e você tem certeza que tem um espirito ali? essa foi a minha sensação ao olhar dele, foi de medo. Junto veio o silêncio que pairava pelo local, parecia morto, nem o vento ousou soprar deste momento. O choro se cessou na hora e o arrepio veio, eu sabia que ia acontecer algo, mas o desespero de não saber quando e nem como me corroía por dentro. Me levantei rapidamente, prestes a ir embora, mas algo me fez olhar para cima, o céu se transformou em um olho enorme, tinha a aparência de um monstro do tamanho do planeta, fitando-me, em volta desse olho era uma pele feia e machucada, parecia estar apodrecendo, em decomposição, isso cobrindo o céu todo. O pavor tomou conta e a única coisa que eu fiz foi correr, correr muito, uma voz dizia na minha cabeça "Está correndo por que Mary, está com medo de mim?" Por mais que eu me apressasse eu não achava uma saída para a floresta. Das árvores começaram a sair braços e um desses braços se esticou até mim com uma velocidade absurda, agarrando o meu pé, por trás, me fazendo cair, me levantei e me soltei, mas já era tarde demais, agarraram meus braços, minhas pernas e meu pescoço, por mais que eu fizesse força eu não conseguia me soltar, não importa o quanto me debatia, eu queria gritar, principalmente quando vi com meus olhos o que era o ser mais horrendo existente, tinha um rosto de humano com boca costurada, um corpo de esqueleto, como se alguém tivesse desossado ele de forma mal feita, braços machucados, pernas enormes e mãos com garras afiadas. "O seu coração deve ser suculento" disse a mesma voz em minha cabeça, com aquele ser olhando fixamente para os meus olhos, bem de perto, tocando em meu peito.

-- Me solta seu bicho nojento!

Friamente a criatura pressionava suas garras em mim, o sangue escorria e eu gritava de dor "Calma, calma vai ser rápido" dizia-me enquanto arrancava meu coração, cheguei a sentir sua mão segurando-o e o puxando lentamente, enquanto veia por veia se rompia, parecia ter prazer em ver minha agonia e meu vestido branco banhado de vermelho. Minha visão ficava cada vez mais turva e eu tremia sem poder fazer absolutamente nada, apenas esperar ele terminar o seu trabalho, ai meu Deus, meus gritos se sessaram e o que sobrou foram as lagrimas e o olhar de pavor, o que pensariam quando vessem meu corpo sendo devorado por urubus, saberiam a forma cruel que eu morri?

O maior poder de alguém que está sonhando é ter a consciência de que está sonhando, quando vi, com o pouco de visão que me restava, meu coração fora do corpo, eu entendi tudo... fisicamente estrelas não tem órgãos, muito menos sangue, somos movidos inteiramente por fusão nuclear, portanto:

-- O maior poder de alguém que está sonhando é ter a consciência de que está sonhando e de alguém que está sob feitiço de ilusão também.

Depois dessa afrontosa, fria e linda frase tudo simplesmente sumiu, não havia mais árvores com braços, criatura comedora de coração, céu com olho e muito menos ferimentos no meu corpo, só sobrou a floresta com seu silêncio.

Depois de uma experiência tão agradável eu fiz o que toda pessoa sã faria, sai o mais rápido possível daquele lugar, voltando para a planície, e sabe quem estava me esperando? não, não era Martin, quem me dera, era apenas o Carl mesmo.

-- Hey, hey, você é muito esperta Mary, meus parabéns, esqueci de avisar que algumas florestas aqui possuem uma nevoa que causa alucinações em quem a ingere

Eu desanimada começo a andar, estava voltando para o vilarejo para acabar com isso de uma vez por todas, não valia apena toda essa birra.

-- Hm tem mais alguma coisa que você esqueceu de me avisar? - perguntava eu suspirando de cansaço.

-- Hey, hey, deixe-me ver, hm... na verdade tem uma outra coisa sim, tome cuidado aonde pisa, nesta dimensão existem criaturas que se camuflam no chão, é praticamente imperceptível, apenas se pisar nelas você sente, porque são moles, mas se você pisar elas explodem, então muito cuidado! 

Olha Carl, eu só não te matei graças a nossa senhora da paciência, o maldito esperou até agora para falar isso! Justo no exato momento que senti meu pé afundando no chão, meus olhos se regalaram e a única coisa que deu tempo de fazer foi pular para frente abraçando o sr. ave tentando me proteger, a explosão veio tão rápido quanto uma chita correndo atrás de uma gazela e tão forte que qualquer um morreria se estivesse no nosso lugar, por sorte algo foi mais rápido, a fenda temporal que nos colocou outra dimensão antes mesmo que nossas partes virassem parte do cenário. Você me pergunta “Aonde foram parar?” eu te respondo: no pior lugar possível, em cima de uma rocha suspensa boiando em um enorme rio de lava.

-- Ah não, não é possível, vai ser azarada assim no inferno Mary! - gritava eu extremamente indignada me equilibrando para não virar a rocha e cair no enxofre.

-- Hey, hey, engraçado você dizendo isso justamente na dimensão do inferno.

Consegui equilibrar e então saltei para uma outra rocha vizinha, meu plano era fazer isso até chegar em algum lugar seguro para pisar, não estava muito longe, mais eu precisaria saltar mais algumas vezes para isso acontecer, então foi isso que eu fiz, foi a primeira, a segunda, a terceira e na quarta vez eu me desequilibrei, como reflexo segurei no Carl, mas por causa da leveza de seu corpo caímos em direção a lava, porém mais uma vez a fenda no espaço tempo nos salvou da morte. Vocês perceberam o que eu percebi? a fenda temporal só nos teletransporta quando estamos correndo um grande perigo, parece que ela impede a nossa morte ou de nos machucarmos, não sabia ao certo como funcionava, mas tinha certeza que esse era o caminho. Eu só consegui pensar nisso, até que eu voltei para a realidade, nós estávamos em uma outra dimensão.

-- Hey, hey, nós estamos na dimensão arco íris, onde tudo tem cor de arco íris.

-- Carl, você percebeu isso?

-- Hey, hey, do que exatamente está falando Mary?

-- Toda vez que estamos prestes a morrer ou se machucar somos teletransportados, se colocarmos nossa vida em perigo várias vezes uma hora voltaremos para casa!

-- Hey, hey, boa observação, mas se não der certo a gente vai morrer, além do mais como vamos ter certeza de que iremos para a mesma dimensão?

-- Talvez um contato físico nos una o suficiente para teletransportarmos juntos, vamos fazer um teste, eu vou te bater e você vai me bater, se a fenda do espaço tempo nos salvar de se machucar então minha hipótese estará certa

-- Hey, hey, certo.

-- 3... 2... 1....

Segurei com uma das mãos em seus pelos e meu punho foi em sua direção com toda a força que eu tinha, mas mesmo antes de acertar, Carl atira um lazer de seus olhos em minha direção e assim descobrimos que minha ideia estava certa, aí como eu fiquei feliz em saber disso! as coisas ficaram bem fáceis agora. Mais uma coisa, só eu precisava estar em perigo para a fenda funcionar, era só encostar no Carl que ele vinha junto. Então começou uma jornada pelas dimensões, sempre usando o lazer, passamos pela dimensão da água, pela dimensão do limbo, pela dimensão da névoa densa, pela dimensão do sangue e finalmente voltamos para a dimensão universo, só que, uma surpresa estava nos aguardando ali, uma surpresa que não era nada agradável...

Estrelas também amam - Samuel Isaac Onde histórias criam vida. Descubra agora