<01> Um coração corajoso

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"A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do caminho..."
- Santo Agostinho


Dizem que a única coisa justa no mundo é o tempo. Que ele é dividido e dado para todos igualmente, fazendo algumas pessoas pensarem que há pelo menos uma única coisa que não distingue as maiores diferenças da vida, como por exemplo, a classe social a qual a sociedade diz que você pertence.

Mas é mentira. Nada nesse mundo é justo, seja dinheiro, saúde, comida, educação... Quem dirá tempo!

Algumas pessoas estão fadadas a morrerem de velhice, outras doentes, e tem aquelas que nem tempo tiveram para aproveitar o mundo fora da barriga da própria mãe. Então não, o tempo não é justo.

A maioria das pessoas gostariam de ter mais tempo para estudar, se divertir, conhecer gente nova, viajar, namorar...

Algumas pessoas IMPLORARIAM por mais tempo com um ente querido que já não está mais entre os vivos.
E é assim que estou. De joelhos, pedindo apenas mais um segundo para estar ao lado da minha irmã que faleceu há um mês. Ainda não caiu a ficha, as vezes acordo esperando seu bom dia, as vezes vejo algo interessante passando na TV e olho para o lado a fim de comentar e rir com ela sobre aquele filme estúpido que passa a tarde e que ninguém dá audiência, também tem vezes em que quero conversar e teorizar sobre Harry Potter por mais que os livros já tenham sido concluídos há anos.

Mas o pior é quando a ficha cai. Quando eu noto que ela não está aqui para assistir TV e fazer alguma piada boba com o filme estúpido. Ela não está aqui para conversar sobre Harry Potter. Nem para falarmos sobre doramas, sobre música, sobre animes... Ela não está. Sempre me sinto triste e ao pensar nela choro, agora já deitada em minha cama abraço fortemente a pelúcia da personagem Anne da série 'Anne with an E' que ela me deu no meu aniversário passado, e isso me faz sentir melhor.

Enquanto lágrimas escorrem em meu rosto todo me lembro do dia de sua morte, quando ela voltava para casa de bicicleta um carro a atropelou. Ela não resistiu até chegar ao hospital, após choros, abraços, lamentações e soluços, o médico veio conversar com meus pais dizendo que Isabela poderia ser uma doadora de órgãos.
Com isso, ele explicou todas as informações e disse que ela poderia salvar uma vida transplantando seu coração, dando felicidade para alguém. Meus pais ficaram relutantes no início, mas logo concordaram que minha irmã ficaria feliz e grata por poder ajudar alguém, mesmo que já não estivesse mais entre nós.

Enquanto penso em tudo o que aconteceu em somente um mês, vejo um pequeno ser pular na minha cama, e reconheço logo, é uma bolinha de pelo muito atento, rajado e de coloração amarela, preta, branca e cinza, logo abaixo de seu focinho há duas marcas amareladas que mais se parecem com um bigode, e com seus olhinhos curiosos e um rostinho que eu poderia jurar que pensava "tá chorando por que humana? Sou bonito mas não é pra tanto", é o nosso gatinho Dobby.

Agarrada em minha pelúcia e com um gato manhoso em meio as minhas pernas, apenas consigo pensar...

Que o coração de Isabela agora bata em alguém de boa fé e que possa cuidar dele com muito amor e carinho.

Destined Hearts | Hwang Hyunjin |Onde histórias criam vida. Descubra agora