"O luto é o preço que se paga pelo amor."
- Anne with an E
Saio de casa rumo à escola. Era uma manhã agradável, nem muito quente nem muito fria, estava na temperatura perfeita para mim. Vou caminhando mesmo já que são só vinte minutos da minha casa para a escola, pego meus fones e coloco minha playlist k-pop.Enquanto ando, vem à minha mente o quão engraçado o tempo é, às vezes parece passar tão depressa quanto o trem bala de 'Train to Busan', mas também tão lento quanto uma tartaruga, sinto que pode até ser bipolaridade por parte dele, mas sei que cada pessoa sente a passagem do tempo de maneiras diferentes... Já faz um pouco mais de sete anos que me mudei pra Coréia do Sul com meus pais e minha irmã, e dois meses desde que ela faleceu. Com isso, acabei perdendo o começo das aulas e das apresentações de alunos novos, mas está tudo bem, meus amigos já me atualizaram das matérias e me explicaram o que foi passado até agora.
Ao chegar na escola, eu entro diretamente para a minha sala no terceiro e último andar. Nem me dou o trabalho de olhar as pessoas que estão ali, apenas vejo meus dois amigos e me sento com eles.
- Bom dia Luna, tudo bem? - Meu amigo Jisung perguntou, apesar de saber como ainda estou me sentindo.
- Estou bem e vocês? - Respondi mentindo imediatamente.
- Estamos bem. - Respondeu Dahyun, logo notando a minha mentira descarada. - A primeira aula é inglês, e logo depois é artes... Aqui tem tudo anotado sobre as lições que tivemos até agora, sei que já te passamos as coisas, mas queríamos deixar tudo o mais detalhado possível para que você entendesse bem.
Fiquei encarando meus amigos, eu consigo ver em seus olhares o quanto eles me amam e cuidam de mim... Suas atitudes fofas e preocupadas, sei que querem saber como eu realmente me sinto e o que se passa na minha mente e coração, mas sinto que não quero comentar mais sobre o que se passou.
- Obrigada, vocês sempre me salvam. Devo uma pra vocês. - Dando um sorriso forçado, guardo o caderno e começo a prestar atenção na professora entrando na sala.
Logo depois seguimos com a aula de artes, nosso professor chamado Isayama tinha descendência japonesa e um leve amor por estampas. E quando eu digo 'leve' eu quis dizer MUITO amor. Ele estava vestido com uma blusa de manga curta bem praieira, com muitas palmeiras e vários cocos desenhados, uma calça jeans considerada normal (creio que seja porque a escola não permitiria um professor que mais parecia uma floresta tropical), e por último um tênis azul com cadarços amarelos.
Ele explicou que durante o semestre teríamos que fazer uma pintura que equivale a maior nota do semestre. Disse que o mais importante dessa atividade é que teríamos que pintar baseado no que estamos sentindo no momento, se estamos felizes, tristes, bravos, apaixonados, e entre essas baboseiras.
Mais uma vez o tempo parece me caçoar, me zombar e me irritar. Ele resolveu passar mais devagar que a fila do SUS no Brasil, mas enfim chegou o intervalo. Jisung, Dahyun e eu pegamos nossas comidas (eu pouco já que ainda não tinha tanto apetite), e cada um dos meus amigos com seus pratos de pedreiro.
Quando estávamos para pegar uma mesa vazia, um desconhecido para mim, que descobri ser um novo amigo da Dahyun, nos chama para sentarmos com ele e mais duas pessoas, minha amiga logo aceita e nos sentamos na frente deles. Não fazia questão de olhá-los, apenas ouvi que se chamavam Seungmin, Félix e Hyunjin, então continuei comendo e pensando no nada, esperando que o intervalo acabasse logo, até que eu escutei alguém falando meu nome.
- Quê? - Respondi confusa.
- Estávamos falando sobre o projeto do professor Isayama. - Respondeu Félix. - Você tem algo em mente? Eu acho que vou desenhar meu lugar favorito, que é o que eu mais sinto falta.
- Ainda não sei, tenho algumas ideias em mente, mas nada concreto ainda. - Respondi sem dar muitos detalhes, até porque o professor tinha acabado de passar a atividade, então não tinha nem ideia do que fazer.
Enquanto eles continuavam conversando e eu apenas marcando presença naquela mesa, escuto alguém me chamando novamente.
- Como seria? - Pergunta Hyunjin.
- Como seria o quê? - Respondo confusa com a pergunta.
- Como seria sua obra baseada nos seus sentimentos caso o projeto do professor fosse hoje.
Paro um instante absorvendo a pergunta que aparentemente é simples, mas demoro alguns segundos para assimilar e buscar uma resposta. Enquanto penso, observo os detalhes em seu rosto, uma pequena pinta abaixo do seu olho, uma boca carnuda e um olhar inocente e cativante. Ao descer o olhar, não consigo deixar de notar sua refeição. Enquanto todos buscam uma comida mais gordurosa e cheia de fritura e batatas fritas, Hyunjin está apenas com uma marmita que parecia ter sido feita em casa, dentro dela havia apenas salada, alface, tomate, pepino... Será que ele é sensível com sua alimentação ou está em uma dessas dietas malucas?
Ao perceber que todos os olhos naquela mesa me observavam e esperavam alguma reação minha, eu logo respondo:
- E você? Como seria sua obra em relação aos seus sentimentos de agora?
Ele apenas me olhou e deu um sorriso, como se entendesse que eu estava fugindo daquela pergunta. Logo após isso, o sinal tocou e voltamos para nossa sala.
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Destined Hearts | Hwang Hyunjin |
Fanfiction🏆 Finalista do Prêmio Wattys 2022 🏆 O mundo de Luna desmorona em apenas alguns segundos no momento em que soube da morte repentina da irmã, fazendo-a se deparar com a pior dor que alguém poderia sentir. Vivendo agora em um mundo azul e cinza, ela...