1 - Nina

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As noites mais quentes na cidade de Sicília são como as de hoje, fazem o suor escorrer pelo canto da testa e você se questionar o porquê dos vestidos de festa serem tão desconfortáveis

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As noites mais quentes na cidade de Sicília são como as de hoje, fazem o suor escorrer pelo canto da testa e você se questionar o porquê dos vestidos de festa serem tão desconfortáveis.

Eu estava tentando fechar meu vestido, mas meu quadril levemente avantajado dificultava a tarefa de subir o zíper. Quanto mais eu tentava fechá-lo, mais calor eu sentia.

— Deixe-me ajudá-la pelo menos... — escutei os passos e a voz pesada de minha mãe se aproximarem

— Mamma....

Após um breve esforço minha mãe subiu o zíper. Os olhos dela marejados se encontraram com os meus no espelho.

— Nina... Você está linda!

Me observei no espelho com calma, admirando meu vestido marsala. Ele era feito de um tecido leve, brilhante e deixava minhas costas nuas. Um suave franzido próximo de meus seios demarcavam um decote delicado em "V".

Mamma arrumou meus cabelos, puxando e entrelaçando as pequenas ondas que chegavam até minha cintura.

— Isso terá um fim? — ela me perguntou.

— É pela Liz, mamma...

No canto do meu quarto, em um colchonete surrado, minha irmã de quinze anos se cobria com os poucos lençóis que tínhamos. Estava tão calor, e ela insistia em se cobrir da cabeça aos pés. Será que sua febre havia voltado? Liz nunca teve uma boa saúde, porém tudo pareceu piorar desde "o incidente".

— Nós podemos fazer de outra forma, filha... Podemos vender a casa...

— Não foi isso que papai prometeu para eles.

— Seu pai só serviu para nos deixar a dívida! Ele morreu, Nina! E você também irá, se continuar com essas coisas! — o tom de voz dela não era mais sereno como antes.

Lancei meus olhos azuis para minha irmã. Me entristeci ao perceber que ela estava mais magra do que na semana anterior.

Tentei várias vezes, porém não consegui me livrar das memórias do incidente... Éramos pequenas demais. Estávamos brincando na praça próxima a nossa casa, quando ouvimos barulhos de sirenes e tiros. Os policiais gritavam para nós nos abaixarmos. Eu me deitei sobre o chão, mas Liz chorava e insistia em não se abaixar. Puxei tanto suas vestes que rasguei sua blusa, entretanto não consegui tirá-la da linha de fogo a tempo.

Liz foi baleada aos 7 anos de idade, perdendo os movimentos de suas pernas. Desde então, minha irmã tinha perdido a alegria de seu doce olhar. Adoecia em todo inverno, e sofria com escaras no verão.

Eu pensava nela a todo momento. Perdi as contas de quantos médicos visitamos, e quantos valores absurdos nos foram cobrados. Certa vez, nos animamos com a possibilidade de uma cirurgia que poderia ajudá-la a voltar a andar, mas ao descobrirmos o custo desumano, foi como coçar uma ferida quase cicatrizada. Confesso que tentamos, mas não conseguimos cobertura do valor e tão pouco fomos aprovadas em um empréstimo para isso.

Noiva Proibida (Máfia Caccino #1) | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora