─ Você está bem? Ei?! Chamem a curandeira
...
─ Onde estou? ─ sinto minha cabeça latejar e meu corpo está fraco. Abro os olhos e percebo que estou em uma pequena tenda com apenas uma fogueira aquecendo o lugar.
─ Está segura eu garanto, aqui, tome um pouco de chá ─ uma mulher já de idade avançada e cabelos castanhos avermelhados me estende uma pequena vasilha de chá.
─ Obrigada...
─ Quem é você? E o que te fez chegar aqui quase morta? ─ ela pergunta.
─ Meu nome é Moon e a história que fez eu chegar até aqui é um pouco longa.
─ Espere um minuto ─ ela sai da tenda e volta minutos depois com três pequenas crianças, dois meninos e uma menina e uma garota mais velha. ─ Sentem-se crianças, esta bela moça irá nos contar uma história.
─ O-oque? Eu?
─ Sim, nos conte o que lhe aconteceu Moon, ainda falta algum tempo para sairmos daqui e navegar.
Minha cabeça dói um pouco, mas me lembro o que estava fazendo ali. Ia partir em direção a Tenebris, mas preciso esperar a embarcação chegar. Sendo assim tenho tempo de contar o que aconteceu.
─ Já que insiste... talvez eu deva contar desde o meu começo. Quando eu era ainda uma criança.
»»----- ☽ -----««
❁ TUDO ISSO ERA O QUE ELA ACHAVA ❁
Era uma noite de lua cheia, e eu precisava tomar remédios para dormir o mais pesado possível, mas minha madrasta não quis cuidar de mim aquele dia. Passei o dia no jardim como de costume, mas quando a noite começou a cair ninguém foi me buscar.
Meu pai é o general do reino de Sátis e precisou ir para o castelo resolver algumas coisas. Ele encarregou minha madrasta de cuidar de mim a noite, e foi embora. Ao contrário do que meu pai pediu, minha madrasta não apareceu nem para me dar oi. Aquilo não foi tão ruim para mim, já que sempre que eu estava com ela eu sentia que ela não gostava de mim, mas já na escuridão da noite eu senti medo e quis que ela estivesse ao meu lado.
Comecei a chorar, chorei como nunca antes, mas ninguém foi me encontrar. Só parei de chorar quando um pequeno filhote de raposa se aproximou de mim. Ele era todo branco, assim como a lua. Subiu no meu colo e lambeu minhas lágrimas, e começou a brincar comigo. Naquele momento eu esqueci que estava sozinha, nós corremos pelo jardim e como mágica ele me levou pelo caminho certo para casa. Quando chegamos eu o peguei no colo e entrei em casa, mas minha madrasta nos viu, e quando ela viu que eu estava com um filhote de raposa ela veio até nós e o pegou de mim. Eu implorei para ficar com ele, mas ela não escutou, foi direto para a porta e o jogou para longe. Em seguida ela disse "Tomara que tenha morrido" e depois me puxou pelo braço até meu quarto. Eu não parei de chorar e quanto mais ela me mandava calar a boca mais eu chorava. Ela me trancou no quarto e ameaçou me bater para eu parar de chorar, mas antes que ela pudesse encostar em mim, uma raiva me consumiu. Tudo que eu lembro foi dela dizendo "Porque seus olhos estão brancos? O que é isso?" eu não entendi o que ela quis dizer com aquilo, apenas me aproximei dela e dei um soco em seu peito. Ela voou para trás e sua queda fez um barulho alto o suficiente para os empregados da casa vim ver o que estava acontecendo. Depois disso eu apenas lembro de receber um abraço de uma das empregadas, Rose, era ela quem mais cuidava de mim, e eu a considerava demais. Depois do abraço eu apaguei.
Quando acordei já haviam passado dois dias. O papai já tinha voltado para casa e estava muito preocupado comigo, ele me fazia varias perguntas como "você está bem mesmo? Não se lembra do que aconteceu?" e sempre respondi que estava bem mas não me lembrava do que havia acontecido. Depois do soco que dei na madrasta ela precisou ficar de cama. Sua respiração já estava fraca e às vezes ela se desesperava porque não conseguia respirar, e se ela tentasse levantar sentia uma grande dor no peito. Aquilo durou duas semanas, ela não aguentou e faleceu.
Meu pai ficou arrasado com sua morte, mais uma vez alguém que ele amava morreu, e dessa vez a culpa foi minha. Isso era o que eu achava, e me culpei por muitos anos, mas meu pai quis entender o que havia acontecido. Ele não acreditava que o soco de uma criança mataria um adulto. Então desde o enterro dela, meu pai não voltou muitas vezes para casa. Ele se mudou para o castelo e deixou a casa e eu nos cuidados de Rose. Nos anos seguintes não aconteceu mais nada de estranho, Rose e eu sempre procurávamos o pequeno raposo, mas nunca o encontramos. Rose costumava dizer que ele ainda voltaria para mim já que nunca encontramos seu corpo sem vida, isso significava que ele estava vivo, e isso me confortava.
Ao contrário das outras garotas de família nobre, eu não saia de casa. Estudava em casa e escutava como era a vida fora de casa só quando as empregadas descobriam alguma fofoca. Era assim que eu conseguia me manter informada sobre as pessoas da cidade. E isso nunca me incomodou, eu não sentia vontade nenhuma de sair.
Sempre mandava cartas para o meu pai, lhe contando meus avanços no aprendizado e como eu estava, mas nunca deixei de lhe falar que ainda esperava o pequeno raposinho, então no meu aniversário de quatorze anos meu pai me deu um cachorrinho branco, para ver se eu esquecia o pequeno raposo. Desde aquele dia eu senti que estava cansando o meu pai com o mesmo assunto então decidi esquecer o raposo e comecei a cuidar do meu cachorro.
Os meses foram se passando e eu sempre escutava dos empregados que estava me tornando uma linda garota. Segundo eles eu tinha uma beleza resplandecente, mas também era muito inteligente, bondosa e gentil. Diziam que eu seria uma garota muito disputada ou que eu era digna de me tornar uma princesa. Mas eu nunca entendi o valor de tudo isso.
Quando fiz quinze anos, debutei. Mas não tive baile e nem fui apresentada para o resto da sociedade, pois meu pai sentiu que eu não estava preparada, então esperei mais um ano para o meu primeiro baile.
Mas não foi como os outros anos, eu passei o ano todo me preparando. Foram várias aulas de dança com várias danças diferentes, aprendi novas músicas no piano e precisei aperfeiçoar elas. Passei por dietas para não precisar usar um espartilho me sufocando e treinei todos os dias os bons modos. Simulei milhares de vezes como deveria receber as pessoas e como deveria responder as perguntas, como o "porque eu não saio de casa" ou "porque não fiz o baile antes".
Esse ano meus pés estavam cheios de bolhas de tanto dançar e minhas mãos doíam de tanto tocar piano. Eu sentia muita fome e isso me deixava fraca, mas para me encorajar diziam que isso era bom, já que sem comer eu ficava pálida, e muito mais bonita.
Um dia eu estava no jardim com Tobby, meu cachorro, e estávamos sentados debaixo de uma árvore, quando Rose chegou e começamos a conversar.
─ Como você está hoje?
─ Bem, eu acho
─ O ano já está quase acabando, fique tranquila ─ ela sorriu com aquele sorriso meigo dela.
─ Espero que dê tudo certo, não estou mais aguentando.
─ Eu sei minha pequena ─ ela passou sua mão em minha cabeça ─ vai ficar tudo bem. ─ então ela se levanta e foi para dentro da casa terminar seus afazeres.
Eu olho para o céu que está azul sem nenhuma nuvem e penso, " Espero que tudo isso não seja em vão, porque eu realmente não aguento mais..."
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(foto ilustrativa)Moon ☆
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Herdeira da Lua - O Reino de Sátis
Short StoryMoon é a última bruxa da lua e sua identidade é um segredo. Seus ancestrais morreram injustamente em uma guerra e agora ela não passa de uma lenda. Descobrindo que uma nova guerra esta por vir, ela decide lutar pelos humanos, e fazer aliados. Mas ta...