O Último Filho

Prólogo

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Pouco se sabe sobre a estranha rocha reluzente que cruzou os céus de toda Gardd, dissipando-se completamente antes mesmo de tocar o solo. Naquela época, as pessoas não tinham muito tempo para desperdiçar decifrando os enigmas do universo, mas foi pelas mãos de um nômade que tudo começou.

Ao segurar uma lasca de uma pedra brilhante, suas mãos vibraram como nunca antes, e a energia que emanou das arestas daquele minério se mesclou ao seu corpo imediatamente, fazendo com que ele perdesse a consciência por três dias inteiros. Quando acordou, encontrou-se debruçado e coberto de sangue seco, pouco dentro de uma caverna escura, sem lembranças de como havia chegado lá. Suas roupas estavam mais rasgadas do que se recordava, e para seu espanto, não sabia como havia perdido parte de seu braço esquerdo, embora já estivesse cicatrizado.

Ao se levantar para sair do buraco, ouviu o rugido de uma fera enorme atrás de si, o que instintivamente o fez saltar para frente. Apesar de nunca ter sido um bom corredor, algo parecia ter mudado, e nem mesmo a falta de um braço parecia causar dificuldades. Ele correu em direção ao ponto luminoso, que imaginava ser a saída daquele lugar perturbador, e ao notar que a claridade estava próxima, seu corpo respondeu de maneira extraordinária, tornando-o mais forte do que nunca fora.

Ao dar o primeiro passo para fora da caverna, o sol, que parecia convidativo, tornou-se seu maior inimigo ao temporariamente cegá-lo com sua intensidade. O nômade tropeçou e caiu de costas ao chão, e nesses poucos segundos percebeu que o calor da estrela vespertina parecia nutrir seu corpo com um poder desconhecido. No momento em que a besta saltou sobre ele, uma luz cintilante emanou de seus olhos, e uma corrente elétrica percorreu todo seu ser, provocando um estrondo semelhante ao de um trovão.

O nômade se levantou com estranheza, como se temesse a si mesmo, olhando para todos os lados e se perguntando o que acabara de fazer. A fera era um urso pardo, o maior que ele já tinha visto, e estava desacordado por um golpe certeiro de seu único punho.

A energia daquele velho cascalho o transformou em algo que ele nunca imaginara. Sua força, destreza, vitalidade e agilidade não condiziam com alguém de sua idade. Esse poder gerou certo desconforto no início, mas não demorou muito para que ele o usufruísse sem desdém, e ao longo do tempo, até mesmo com paixão.

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Com o decorrer das eras, o nome daquele estranho nômade foi esquecido; tampouco alguém se lembrara de sua real aparência. No entanto, aquele enigmático poder adquirido por ele não se extinguira, muito pelo contrário, a cada geração, novos homens emergiam portanto o mesmo poder, aperfeiçoando-o significativamente a cada povo distinto que aquela energia tocava, munindo-se das mais diversas artes, até que, como resultado, uma nova ordem emergiu.

Assim, fundou-se Grandius, uma aliança de reinos que buscava impor leis a todos de Gardd, a fim de estabelecer a ordem em todo o continente; qualquer indivíduo que se opusesse a elas era rotulado como inimigo. Não demorou muito para que a aversão a essas leis crescesse desenfreadamente, resultando no surgimento de uma nova aliança, Os Libertários. Estes lutavam por seus próprios ideais e convicções, recusando os termos impostos pela aliança Grandius.

Foi então que uma grande guerra se iniciou, levando Gardd à beira do Caos absoluto. Nenhum dos lados parecia ceder, estendendo o conflito por décadas, até que uma nova pedra escarlate realçou os céus de Gardd mais uma vez. Contudo, desta vez o corpo celeste não se desfez em sua queda; ao contrário, foi arremessado violentamente ao chão, como um raio de poder descomunal, provocando um estrondo gigantesco em todo o continente.

Diante disso, tanto Grandius quanto os Libertários lançaram-se ambiciosamente em busca desse possível trunfo para seu lado, pois quem o detivesse certamente poria um fim de uma vez por todas nesse longo conflito.

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