A empresa

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Passamos boa parte do dia conhecendo a empresa com seus intermináveis setores, uma estrutura gigantesca na qual eu nunca havia me imaginado trabalhando. Todos foram muito receptivos e por onde passávamos, mesmo sem querer, chamávamos a atenção, talvez por sermos carne nova no pedaço ou por perceberem que somos estrangeiras. Particularmente as brasileiras têm uma mistura de raças que nos tornam diferentes, incomum em qualquer lugar.
Sinto-me um pouco desconfortável com tantos olhares, mas Maya parece não estar se importando muito com isso, tem um senso de adaptação muito melhor que o meu.
— Senhoritas. Vou apresentá-la a Rafaela D'angeles, uma das sócias proprietárias, engenheira-chefe e diretora, que por sinal vai pessoalmente se encarregar de supervisionar o trabalho de vocês.
Lorenzo da uma batida de leve na porta e logo uma voz feminina soa nos convidando para entrar. Meu coração acelera e minhas mãos começam a suar, olho para Maya e não vejo mais aquele sorriso, mas um olhar bem apreensivo.
A sala é magnificamente elegante, em nosso lado direito há uma estante composta por dezenas de nichos com luzes azuis no fundo, que iluminam os objetos, todos muito bem escolhidos com personalidade e ar de jovialidade. Mais adiante, uma mesa branca comprida com muitos papéis e projetos, atrás dela, em uma cadeira de veludo avermelhado, está sentada uma bela morena de cabelo liso estilo Chanel na altura dos ombros, dando-lhe a imposição necessária para uma grande empreendedora. Seus olhos castanhos demonstravam extrema simpatia. A jovem morena vestia um terninho branco muito sofisticado. Quando nos aproximamos, ela levante-se com elegância e nos direciona um largo sorriso.
— Sejam bem-vindas queridas. — Diz ela e continua. — Que belas moças. Parece que foram escolhidas a dedo. Posso concluir que o que dizem sobre as mulheres brasileiras é verdade. São de uma beleza bem rara. Prazer em conhecê-las. Sou Rafaella D'angeles.
— O prazer é todo nosso. Você não imagina a honra que temos em fazer parte da sua equipe.
Não posso acreditar que estou aqui, conversando com Rafaella D'angeles. Só a conhecia através de revistas do gênero. Quem diria que estaríamos cara a cara algum dia e trabalhando juntas.
— Fico muito feliz por isso. Tenho certeza que irão gostar de trabalhar aqui, temos ótimos funcionários e excelentes oportunidades de crescimento dentro da empresa. Estávamos ansiosos com a chegada de vocês e com todas as ideias que possam ter. Gostaria muito de conhecê-las melhor, mas agora tenho uma reunião importante. Tenho certeza que oportunidade não nos faltará. Qualquer coisa que precisem, solicitem a Lorenzo e espero que apreciem a estadia.
Ela nos abraça e vai em direção ao elevador carregando sua bolsa Gucci e uma papelada debaixo do braço acompanhada de um rapaz engravatado até sumirem de nossa visão.
Lorenzo acompanha Maya até o 6° andar, onde ela trabalhará na parte de finalização de projetos. Eu aguardo no Hall até que ele volte. Percebo que nas paredes há alguns quadros com fotografias de familiares, um casal muito elegante com dois rapazes e uma moça, que apesar de estar mais jovem e com os cabelos longos, a reconheci imediatamente, é Rafaella. Deduzi que aquela deveria ser a sua família e provavelmente eram os proprietários da empresa. Ao lado tinha o retrato de dois homens, um aparentando uns 40 anos e o outro bem mais jovem, provavelmente seu filho com expressões faciais carrancudas, sem demonstrar nenhuma empatia, diferentemente da família ao lado, unida e feliz.
Ao retornar, Lorenzo me flagrou fitando os quadros e sem que eu perguntasse foi dando explicações:
— Esses são Victor Hugo D'angeles, sua esposa Sylvia e seus três filhos. Ao lado estão Rubens Aramis Tarragón e seu sobrinho Matheo. Victor e Rubens eram sócios e fundaram essa empresa, mas os dois não estão mais entre nós.
— Nossa, parecem tão jovens.
— E eram. É uma longa e complicada história, aos poucos vou te contando. Agora vamos conhecer a sua "turma".
Descemos até o 3º andar onde fica o departamento de projetos e design de interiores, o ambiente perfeito pra mim. Adoro toda parte de detalhes envolvida nesse setor. Entramos em uma sala enorme com paredes de vidro, mesas por todos os lados e muitas cores espalhadas pelo ambiente. Há três pessoas na sala: Andrea, Jorge e Luccas. Passei a tarde acompanhando o trabalho deles tentando entender como tudo funciona, qual o papel de cada um e qual seria o meu, onde me encaixaria nessa equipe já formada e como eu poderia desenvolver meu trabalho ao mesmo tempo em que não os atrapalhe de alguma forma.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora