O clube dos escritores esquecidos

5 -O Clube

- Tem certeza que está bom? - perguntei ao encarar o panfleto colorido em minhas mãos. Mauricio se posicionou bem atrás de mim, lendo por sobre meu ombro. Ele era terrivelmente mais alto que eu. Bem, qualquer um seria mais alto que eu com facilidade, já que um metro e cinquenta e nove não eram tão impressionantes como eu gostaria que fosse.

- Muito bom, querida. - Sorriu, afastou meus cabelos e depositou um beijo próximo a nuca e num giro me pôs de frente para ele. - Você está muito cheirosa.

Brincou com uma mecha do meu cabelo enquanto continuei ali investigando se meu anúncio não tinha nenhuma informação errada.

"Olá escritor, finalmente chegou nossa hora. Que tal participar de uma comunidade com outros autores, fazer amizades e nos apoiarmos mutuamente? Vamos compartilhar nossas experiências com tudo o que envolve escrita. ANIMADO? Eu sei, eu sei. Entre em contato conosco pelo número abaixo (...)".

- Eu ainda acho que... Maurício! - Bati na sua mão que puxava minha cintura para perto dele. - O que você está fazendo?

- Tentando namorar com essa escritora lin... - E tornou a me puxar me enchendo de beijos no pescoço. - Você está tão cheirosa, Emily. Fico imaginando como ficaria vestida de...

- Sério, eu preciso mesmo terminar essas cópias ainda hoje e comprar umas coisas com a Patty para decorar o clube. - Me afastei, mas Maurício parecia decidido em não me deixar em paz, tomou o papel da minha mão e me fez fitar seus olhos enigmáticos.

- Eu andei percebendo que nessas últimas semanas você está diferente, meu bem. Não falta uma aula de confeitaria, tem sorrido mais, não tem deixado de ir às consultas com o Brandão e sai de lá toda animada e não teve mais nenhuma crise. Fico pensando se... Se nós podemos dar um pa...

- Semana passada eu encontrei dois poetas naquele sarau que costuma acontecer na pracinha, mas eles não estavam declamando nada, sabe? Estavam reclamando mesmo e eu imagino que quando souberem do meu clube...

- Fico pensando se podemos dar um passo importante. - Mauricio encostou a testa na minha, buscou minhas mãos para pendurá-las em seus ombros. - E se nós dois nos...

- E se nós dois nos apressarmos para encontrar a Paty naquela loja de decoração? Seria bom ouvir uma opinião masculina, não é?

- Emily, eu estava pensando se nós... - Suspirou e depositou um beijo em minha testa. - Tudo bem, falamos disso depois. Vamos logo nessa loja.

Fazia tanto tempo que não me empolgava daquela forma que era até mesmo esquisito. Há semanas me sentia bem, sabe? Bem mesmo. Sem crises. Sem me sentir uma derrotada, uma perdedora, um zero à esquerda. Algo dentro de mim brilhava tão intensamente que me fazia acreditar que a chama não me mataria, pelo contrário, me deixaria cada vez mais viva. Não, nada iria apagar aquela faísca, nem mesmo uma tempestade!

- Vamos esperar só mais um pouco, Paty.

- Emily, está prestes a cair um toró daqueles, é claro que eles não vão vir.

Olhei o relógio mais uma vez, sentindo toda a minha animação escorrer por minhas mãos. O que é que tinha acontecido? Os panfletos tinham sido espalhados, os anúncios colados nos postes e árvores. Paty tinha até mesmo criado um evento numa rede social. E NADA. Nenhum poeta, nenhum escritor de romance, de fantasia, de autoajuda, de biografia...

- Mas quatro pessoas ligaram com interesse, não ligaram Patrícia?

- Sim, amiga, mas já estamos aqui há duas horas esperando. Acho que não vem ninguém. Posso estacionar o meu fusca antes que chova?