O Garoto de Marrom

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O Garoto de Marrom

-> Quando o Garoto de Verde viu o Garoto de Azul pela primeira vez, ele ainda não era o garoto de azul, mas sim o Garoto de Marrom. <-

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 O garotinho não entendia bem o conceito de tempo.

 Saber se algo havia durado muito, ou pouco, era tão relativo que chegava a o confundir sempre que ele se perguntava quantas horas tinham se passado. Ele não era completamente alheio sobre o assunto, claro. Sabia diferenciar certos tempos.

 Quando saia para brincar com os filhos dos vizinhos, o tempo era pouco. Assim que o sol batia em sua janela, deixando alguns raios se esgueirarem pelas frestas de madeira, ele acordava. Se arrumava de forma simples -calças grossas, sapatos fechados e pesados. As camisas variavam, as vezes eram brancas, de pano fino e surrado, outras vezes eram de cores escuras e um pouco mais grossas (normalmente essas ele usava no frio, o que acabava sendo quase sempre, já que era raro quando não nevava em seu pequeno vilarejo). Mas -com toda certeza- algo que nunca faltaria seria sua longa capa marrom.

 Antigamente sua coisa favorita era sua capa. Ela é longa e grande demais em comparação a seu corpo, as vezes o garotinho sentia dificuldades de andar com ela, já que a mesma sempre se enrolava em seus pés, fazendo com que perdesse o equilíbrio e caísse de cara com na neve. Sua mãe dizia que quando ele crescesse, a capa se ajustaria melhor em seu corpo e ele não teria dificuldades para andar com ela. Ela também já o aconselhou a deixar para a usar quando crescesse mais, mas o garoto não queria esperar. Ele amava aquela capa e quando se ama algo, nunca o abandona, ou deixa para outro momento (pelo menos foi isso que ele ouviu uma das vizinhas falando para sua mãe quando elas conversavam sobre pais).

 Pais eram outro conceito que o garotinho não entendia. Ele se lembrava de já ter tido um, mas eram lembranças tão embaçadas em sua cabeça infantil que ele apenas preferia não se esforçar muito para lembrar.

 Uma vez, um de seus amigos disse que um pai era igual a uma mãe. Faziam comida gostosa, cortavam lenha em dias de neve, contavam histórias de reinos antigos, com fadas, bruxas e trols. Pais também davam abraços quando sentíamos medo, fazem curativos em machucados quando caímos e sempre dão beijos de boa noite antes de dormir.

 Uma vez sua mãe disse que sua capa marrom já foi a capa marrom de seu pai. Os olhos dela estavam um pouco vermelhos quando ela disse aquilo, tal como seu nariz -que fungava um pouco, também estava vermelho. O garotinho descobriu mais tarde que nossos narizes ficam vermelhos por dois motivos: quando estamos com frio e quando choramos. Eles costumam fungar pelo mesmo motivo também, mas normalmente os olhos indicavam qual motivo era o correto. Se os olhos também estavam vermelhos, a pessoa tinha chorado. O garotinho odiava chorar, mas não mais do que odiava ver sua mãe chorar. Ele nunca mais perguntou por seu pai, que era o principal motivo de sua mãe chorar.

 Se pais eram iguais a mães, ele não precisava de um. Já tinha a melhor mãe do mundo e ela era mais do que suficiente. O garotinho apenas agradecia por seu pai ter deixado suas duas atuais coisas preferidas em casa: sua capa e sua irmãzinha.

 O tempo que sua irmã demorou para sair do casulo -da barriga de sua mãe- foi maior que o tempo que o garotinho gastava brincando com os amigos. Também foi maior que o tempo que a lua dava espaço par o sol aparecer, mas a espera valeu a pena.

 Jane era bem pequena. Mal sabia andar e as únicas coisas que sabia falar era “Mama” e “JayJay” -era assim que ela chamava a ele e sua mãe.

Garotos de Verde e Azul (Jack Frost X Peter Pan)Onde histórias criam vida. Descubra agora