Capítulo 2 - "Um estudo em vermelho"

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ROSIE JOHNSON JÁ havia lido incontáveis romances policiais, mesmo assim não conseguia se recordar de um caso semelhante a este. Quer dizer, não era o caso em si que a intrigava — afinal, a morte de um milionário é um clássico dos mistérios —, mas, sim, a imensa falta de pistas. A garota havia passado minutos analisando a sala e nada. Sem dúvidas, o assassino tinha, no mínimo, um conhecimento mediano sobre criminologia.

— Senhorita Johnson, trago boas novas. — Edgar cantarolou, enquanto aproximava-se do lugar em que a ruiva estava sentada. — O legista finalizou a análise e gostaria de conversar com nós dois.

— Excelente!

A jovem se levantou, abandonando o sobretudo — que, graças ao aquecedor da mansão, já estava mais seco — na cadeira e acompanhou Holmes até o médico. Rosie estava colocando todas as esperanças no legista, porque dependiam das descobertas dele para iniciar a investigação.

— Doutor James, esta é Rosie Johnson, minha nova parceira. — O médico de cabelos acobreados a cumprimentou com uma leve inclinação de cabeça. — Johnson, este é o doutor Bailey James.

— É um prazer conhecê-lo.

— O prazer é todo meu. — Seu tom era tão áspero, que Rosie se questionou sobre a veracidade da afirmação. — Posso atualizá-los sobre o caso?

— Por favor. — A novata retribuiu a entonação hostil.

— Stefan Phillips foi assassinado entre dez e onze horas, o que significa que Evans demorou quase trinta minutos para pedir ajuda. Não posso dizer ao certo a arma utilizada, mas acredito que tenha sido uma faca do chef. — O detetive e Johnson trocaram um olhar cúmplice. — E, ah, o assassino definitivamente era canhoto.

— Como pode ter tanta certeza, doutor? — Holmes questionou, a sobrancelha arqueada.

— Está vendo este ferimento aqui? — Ele indicou um corte abaixo do ombro. — É fisiologicamente impossível que tenha sido causado por uma pessoa destra. Se quiser, posso demonstrar.

— Não acho que seja necessário.

— Ok, Johnson. — Bailey retirou uma pinça do bolso do jaleco e cuidadosamente puxou um fio de cabelo escuro da roupa do cadáver. — Quanto a isto, é provável que pertencesse ao assassino, afinal, apenas nós dois adentramos a área e ambos somos ruivos.

— Não sou burra, pare de repetir o óbvio. 

Doutor James revirou os olhos e guardou o fio em um saquinho translúcido, que entregou para Holmes. Estava tão impaciente quanto a ruiva.

— Gorda ingrata...

O resmungo foi quase inaudível, mas a dupla — que estava atenta a tudo — não deixou o comentário passar despercebido. Rosie, entretanto, não estava ofendida por ele tê-la chamado de gorda. Não, ela se orgulhava de seus traços. Estava ofendida pelo modo que o legista disse isso, como se a garota fosse menos digna. A verdadeira escória da sociedade.

— Peça desculpas. — O bisneto de Sherlock ordenou e a ruiva sentiu seu coração dar um salto. Se já não fosse cadelinha dele, a jovem teria se apaixonado naquele instante. Convivia com comentários cruéis diariamente, mas ninguém nunca a defendeu daquela forma. Não com um olhar tão mortífero.

— O que?! — Bailey questionou, inconformado.

— Você ofendeu a dama, peça desculpas imediatamente.

— É foda mesmo... — Doutor James soltou uma risadinha cínica e revirou os olhos. — Me perdoe.

A resposta arrogante não foi suficiente para Edgar, que parecia prestes a cometer um homicídio, mas Johnson interviu. Apesar do desgraçado preconceituoso merecer, uma briga entre o detetive e o legista só ocasionaria mais problemas.

Elementar, minha cara RosieOnde histórias criam vida. Descubra agora