Capítulo 3 - "Elementar, minha cara Rosie"

39 7 10
                                    

SEM DÚVIDAS, OS GRITOS de Margaret Evans perseguiriam Johnson até o dia de sua morte. Desde que o jardineiro fora algemado, a senhora de idade estava completamente histérica. Ela pedia — ou melhor, suplicava — para que soltassem o seu marido.

— Querida, por favor. Vocês estão prendendo um homem inocente! — A cozinheira avançou até a dupla de detetives, mas os policiais a contiveram.

— Sinto muito, senhora Evans.

E a jovem sentia mesmo. Não queria destruir a vida daquele casal de velhinhos, mas a justiça precisava ser feita. A arma, uma tesoura comum de jardinagem, fora encontrada no banheiro, o que — em conjunto com os depoimentos — apenas serviu para comprovar a culpabilidade de Adam Evans. Além disso, em breve, o resultado dos testes do DNA presente na tesoura e a sentença do senhorzinho seriam oficialmente divulgados. Rosie só podia torcer para que Margaret encontrasse forças para se reerguer.

— Escute, temos um assassino a solta! Não foi o meu marido, perceba que algumas peças da história não se encaixam. — Gritou, antes de ser levada para fora da sala.

— Senhor Holmes, talvez, devêssemos investigar o assassinato mais a fundo.

— O caso já está encerrado.

— Mas...

— Eu disse que o caso está encerrado, Johnson. —Edgar encarou a parceira, seu tom era severo. — Estarei aguardando os resultados finais no antigo escritório de Sr. Phillips, sinta-se livre para ficar ou retornar a sua residência.

— Irei aguardar com você, mas antes vou ir na cozinha. Sabe, estou precisando de um chá para aliviar toda essa adrenalina.

Dito isso, a garota se afastou do chefe o mais rápido possível. Afinal, não podia correr o risco de que ele a acompanhasse. Não quando estava prestes a ir contra todas as orientações dele.

☂︎︎

QUANDO FINALMENTE BATEU na porta do escritório, as mãos de Rosie tremiam. Ela estava certa, afinal. Criminosos são sempre as pessoas mais improváveis e, agora, ela sabia perfeitamente quem era o verdadeiro assassino de Phillips.

— Entre. — Era a voz de Edgar.

— Com licença, senhor. — A jovem caminhou até parar na frente de Holmes, apenas a escrivaninha, onde Rosie colocou um frasco de laxante, separava a dupla.  — Acredito que isto pertença a você.

— Perdão?

— Esse frasco estava no lixo da cozinha, tenho certeza de que é o mesmo que você utilizou na comida do Sr. Evans.

O detetive arqueou uma sobrancelha, mas não conseguiu sustentar a expressão por muito tempo e, logo, começou a gargalhar. Sua risada, porém, não era do tipo contagiante ou alegre, ela parecia pertencer a um verdadeiro psicopata. E, talvez, esse fosse mesmo o caso.

— Você é engraçada. Muito mesmo. — O rapaz respirou fundo, tentando se recompor. — Diga-me, por favor, por que diabos eu colocaria isso na comida do jardineiro?

— Essa é fácil. Você precisava culpar alguém pelo assassinato que cometeu. — Rosie proferiu a última frase vagarosamente, sem vacilar em sequer uma sílaba.

— Acho que ficou louca.

— Acho que o senhor é louco. — Discretamente, ela ligou a escuta em seu bolso. Rosie não era conhecida por sua bravura, mas possuía um forte senso de justiça. E, se a polícia precisava de provas mais concretas para inocentar o jardineiro, então ficaria contente em ajudar. — Não vai perguntar como descobri?

— Prossiga, estou ansioso para escutar a sua teoria maluca da conspiração.

— Eu estava convencida de que o assassino fosse Adam Evans, até ver o desespero da esposa dele. Ela parecia tão sincera em suas palavras, que não pude evitar realizar uma análise mais atenciosa da situação. E, de fato, algumas peças simplesmente não se encaixavam. — A ruiva soltou um suspiro, só queria que aquilo terminasse o mais rápido e da melhor maneira possível. — Na cena do crime, foi encontrado um fio de cabelo escuro, enquanto o jardineiro possuí cabelo grisa...

— Talvez, tenha sido apenas a ação do vento. — Holmes sugeriu, interrompendo-a. — O cabelo não deve ter relação alguma com a cena do crime.

— Está nervoso, Edgar? — Ela questionou, sentindo-se ousada o suficiente para chamá-lo pelo primeiro nome. É um assassino, afinal. Não é digno de seu respeito ou admiração. — Ignoremos essa evidência, então. O legista afirmou categoricamente que o assassino é canhoto, no entanto, a suposta arma do crime é uma tesoura de jardinagem comum. Adam não é canhoto, mas você sabe quem é?

— É claro, eu e mais 10,6% da população mundial. — O detetive jogou as pernas em cima da escrivaninha, buscando vestir a máscara de um personagem entediado. — Sabe, estou começando a me questionar como passou no teste de sanidade para...

— Não interrompa o meu raciocínio, Edgar. — O cortou, na lata. —  A tesoura de jardinagem não era específica para canhotos, porque ela nunca foi a arma do crime. No interrogatório, a Sra. Evans comentou sobre o sofá ter sido movido de lugar e, quando eu o remexi, encontrei isto.

Rosie jogou um saquinho de plástico em cima da mesa. Dentro dele, estava uma faca do chef com a ponta ensanguentada. A verdadeira faca do crime já estava com Harry Brown, no entanto, a ruiva julgou inteligente levar uma réplica para apresentar ao detetive.

— Além disso, a Sra. Evans encontrou o corpo poucos minutos após o assassinato, o que não lhe deu tempo suficiente para fugir. Como você mesmo disse, estava em uma área próxima o suficiente para, mesmo tendo parado para me telefonar, chegar junto aos policiais. — A londrina contornou a cabeceira, ficando lado a lado com o psicopata. — Todos os detalhes se encaixam. O evidente conhecimento em criminologia, a maneira agressiva com que reagiu ao comentário de Bailey, a sua insistência em arquivar o caso. Eu sei que você o matou, Edgar, apenas não sei o porquê.

Johnson soltou um suspiro. A cada palavra que proferia, a mulher sentia o seu coração ser estilhaçado em milhares de pedacinhos. Como pode se apaixonar por esse crápula?

— Elementar, minha cara Rosie. — O assassino se levantou da cadeira. Pela primeira vez, parecendo levar aquela conversa a sério. — Veja bem, eu estou apenas dando continuidade aos negócios da família. Acha mesmo que o grandioso Sherlock Holmes solucionou todos aqueles casos absurdos? Bem, ele os solucionou sim, mas apenas porque os causou. — O detetive fajuto se aproximou ainda mais da moça e, com a voz rouca, sussurrou em seu ouvido: — Obrigada por ter confiado em Brown, mas amigos nunca traem uns aos outros. Sinto muito em precisar fazer isso, achei que fôssemos nos dar muito bem.

Dito isso, Edgar enfiou a faca, que havia pego discretamente de cima da mesa, na região do baço de Rosie. A ruiva despencou no chão e, enquanto ela agonizava, o seu ex parceiro se ajoelhou ao seu lado e pegou o gravador do bolso dela. Então, o destruiu e, finalmente, olhou para a porta, dando de cara com a suposta melhor amiga de Johnson completamente em choque. Naquele momento, ele soube exatamente o que faria para se safar. Afinal, a família Holmes sempre gostou de culpar o clã Moriarty por seus crimes.

Ninguém nunca seria capaz de descobrir a verdade e tenho certeza disso, porque eu não sou apenas o verdadeiro assassino de Rosie Johnson, como também o de Charles Watson.

Elementar, minha cara RosieOnde histórias criam vida. Descubra agora