Capítulo 4

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Voltando para casa naquele domingo, estava começando a entardecer, com o céu adquirindo o degradê do azul noturno ao amarelo do sol, deixando uma mistura entre roxo, rosa e laranja.

— você gostou de ir a praia?

"Sim."

— vou te levar a mais lugares outros dias. — sorriu.

Avistou um carrinho vendendo picolé, se aproximou e comprou um de coco.

Foi-se sentar em um banco público, tomando cuidado para o picolé não derreter sobre o livro.

— está um belo dia hoje. Ou talvez seja eu quem esteja de bom humor, dando uma visão positiva ao mundo que, em outra circunstância, eu acharia tão tedioso.

"É uma forma interessante de pensar."

— sim. — sorriu.

Ficou em silêncio por um tempo. Apreciando o vento, o som das folhas das árvores se chocando, os pássaros cantando... Respirou bem fundo, sentindo o aroma das plantas.

— seis de outubro.

Olhou para o livro.

— foi o dia onde comecei a ler.

"Lembro-me disso. Tenho gravado na primeira página."

Riu fraco.

— é uma data importante. Será o dia do seu aniversário.

"Seis de outubro. Parece bom. Assim meu aniversário sempre será na primavera. Você parece gostar bastante dessa estação."

— é verdade. — sorriu.

Terminando seu picolé, pois-se a levantar e seguir para casa.

Assim que chegou, se jogou deitado na cama com o livro em mãos, o abraçando contra seu peito.

Olhou a capa e abriu a página em que parou, que aliás, estava perto de terminar. Logo estaria no primeiro verso da segunda folha.

— amanhã vou ter que ir para a faculdade. Não seria bom te levar junto... Além de eu não prestar atenção na aula, iriam acabar me tachando de louco por falar com um livro.

"Sabe que podemos conversar se você apenas pensar."

— não teria tanta graça. Aliás, você disse que minha voz é bonita. Acho que foi a primeira pessoa a me elogiar assim. — sorriu levemente sem jeito.

"Apenas fui sincero. Você tem realmente uma bela voz. Gostaria de ouvi-la o tempo todo."

— que tosco. — disse sentindo seu rosto esquentar, sentindo-se encabulado.

Começou a pensar.

— eu preciso lhe dar uma voz. — sentou-se na cama.

Deixou o livro em sua frente e pegou seu celular.

Tinha a chance de dar-lhe a voz que quisesse, então iria achar uma bem bonita.

Rodando pela internet, encontrou um dublador que dublou excelentes personagens.

— aqui. Acho que combina com você. — sorriu.

Clicou em vídeos que demonstrassem a voz do dublador.

— as vezes pessoas tendem a ter vozes bem parecidas. Não seria muito estranho se você soasse como Hiroshi Kamiya.

"Você gosta da voz dele?"

— sim. Ele fez personagens bem conhecidos e amados por muitos. Se pegarmos um jeito que ele usou para dublar algum personagem e assimilarmos a você, vai parecer bem única.

Irrealidade (Hiatos)Onde histórias criam vida. Descubra agora