Capítulo 1 - Rachel

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Passava das dez horas da noite e eu ainda estava no escritório analisando os documentos do processo. Normalmente, eu era muito veloz e perspicaz para realizar esse trabalho e redigir a defesa, mas desta vez estava muito difícil. Meu cliente, o filho de um famoso milionário da cidade, estava dirigindo em alta velocidade em seu esportivo, no estado vizinho, e havia atropelado um ciclista, deixando-o gravemente ferido, porém vivo e sem nenhuma lesão permanente.

Meu lado pessoal digladiava com meu lado profissional. O primeiro, porque o riquinho mimado deveria estar na cadeia e, com isso, aprenderia um pouco de humildade. O segundo, buscava, no absurdo do óbvio, encontrar uma brecha que dizia que meu cliente estava em seu direito de andar veloz e o ciclista que havia invadido a pista.

Eu era uma profissional renomada na área jurídica. Pagavam muito dinheiro para que defendesse causas perdidas. Era boa e a estatística estava ao meu favor, porque até aquele momento, desde quando abri meu escritório de advocacia junto com meu irmão, nunca perdi um caso.

Nunca.

Em três anos.

Como uma lutadora de MMA, estava invicta e muitos queriam meu cinturão, no caso, queriam acabar com meu estrelato invencível.

Confesso que, no tribunal, eu era arrogante, fria e sem coração. Todos naquela grande sala eram apenas instrumentos, para que eu manipulasse e os conduzisse à minha vitória.

Para que ganhasse os casos que assumia, não pegava todos que apareciam na minha porta. Eu os analisava profundamente antes de dizer se era possível ou não os defender. Se não encontrava uma brecha, meu irmão entrava em cena e fazia o acordo entre as partes.

Richard Collins era o apaziguador. Ele sempre fazia os melhores acordos e dizia que o objetivo não era deixar as partes felizes, mas trazer uma rápida solução. As palavras que ele usava para descrever seu trabalho – mesmo que eu não concordasse – eram: um bom acordo era aquele que ambas as partes não estavam satisfeitas.

A tentação de encaminhar o caso para ele era grande, se não fosse o laudo médico do ciclista estar muito suspeito. Não que eu fosse médica, mas algo na escrita dramática do médico e sua letra muito regular – bonita até – me alertava para falsidade ideológica.

Eu era advogada e precisava partir de preconceitos para encontrar minhas conclusões.

Para os olhos da sociedade, meu cliente não merecia defesa, e apesar da remuneração, eu não deveria defendê-lo. Para não me comprometer, eu poderia desistir do processo. Com isso, deixaria uma parte feliz.

Os advogados do ciclista, que entraram com uma ação contra meu cliente, eram muito amadores e, provavelmente, muito corruptos, por adicionar uma prova falsa nos autos do processo.

Colocando os documentos em cima da minha mesa, botei minha mão no mouse do computador e a tela do monitor ganhou vida. Fiz uma breve pesquisa no programa que continha todos os arquivos com os quais eu já havia trabalhado, em busca de algum laudo desse mesmo médico. Ele era um dos plantonistas no pronto atendimento, então estava esperançosa que algo dele estivesse em algum dos meus casos.

Brian Powell não havia feito nenhum laudo para meus processos, até porque ele não era da minha cidade.

Por falar no estado vizinho, o nome do homem de Valentine Savage, do Selvagem Moto Clube, era Brian, se não me falhava a memória.

Sem me preocupar com formalidades ou horário, liguei diretamente para a presidente do Moto Clube, cuja assistência jurídica comecei a fazer há algum tempo, após ser indicada por minha parceira de negócios e colega de trabalho, Nina Trent.

Victor (Tríade Moto Clube Livro 2) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora