Doce Pecado

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A vingança é sempre o prazer
de um espírito mesquinho,
de um espírito amedrontado e avaro.
Podes ter a certeza disso agora mesmo:
ninguém se deleita tanto com a vingança como a mulher.     
- Juvenal.

28 de Novembro de 2015, 20:45, Sábado.

Ao entrar no galpão, o silêncio me causa angústia, os únicos ruídos existentes são os de meu salto no chão, ao longe posso ver meu marido, ele me olha sem entender, sinto um gosto amargo na boca, talvez seja o ódio misturado com meu batom de morango, o perfume de José Alfredo inunda meu olfato conforme me aproximo. Cada passo um olhar, um sentimento. Finalmente o dia que verei esse homem cair chegou, aguardei cada minuto com uma ansiedade que me rasgava o peito, a mesma ansiedade que me faz enlouquecer nesse exato momento.

- Marta? Saia daqui agora! É perigoso estar aqui, volte pra casa! – Diz assustado, sua voz ecoa pelo galpão.

- Eu sei, meu amor. Realmente é perigoso estar aqui. – Respondo sorrindo. Ele olha ao meu redor, parece procurar um outro alguém.

- Shit! Você tem que sair daqui, Maria Marta! Volta pra casa! Eu disse para você não me seguir! – Implora nervoso.

- Eu não vou a lugar algum, Zé. – Digo e ele me olha bravo. Retiro de meu bolso o colar que era usado por Ísis e jogo na direção dele. – Você deve sentir falta da sua sweet. – Comento irônica.

- What? Onde conseguiu isso? Marta, que diabos está acontecendo?! – Pergunta ao pegar a joia, ele me olha aflito.

- Espero que você a encontre no inferno, ouvi dizer que as meretrizes vão para lá, os adúlteros também não escapam. – Comento.

- Maria Marta, você sabe muito bem que Ísis não está morta! Mas agora não é hora de falar sobre isso. Vá embora antes que o Melgaço chegue, não posso correr o risco de perder você. – Pede nervoso, como pode ser tão tolo?

Aponto a arma na direção de  José Alfredo, ele paralisa instantaneamente, vejo o medo estampado em seu rosto, sinto uma mistura de ira com incerteza. Na mira de meu revolver está o homem que acabou com minha vida, que me humilhou, que me traiu mas ao mesmo tempo é o grande amor da minha vida, o pai dos meus filhos, meu marido. Impulsivamente ele retira o revólver da cintura e me põem na mira de seu gatilho.

- Quem garante que ela está viva? Só eu posso ter certeza, fui eu quem a matou. – Respondo rindo. – E que garotinha difícil de matar, Zé! Agonizou durante tantos minutos, parecia uma eternidade. – Relato revirando os olhos. – Mas com você, Zé, prometo que será rápido. Vou te dar essa colher de chá mas só por que te amo! – Digo rindo.

- Marta, não faça isso. - Ele implora nervoso. - Sou eu, Marta, o Zé, teu marido. Larga essa arma, Maria Marta! - Os olhos dele ficam marejados, a voz tremula ecoa pelo galpão. Posso ver o tremor de sua mão ao segurar a arma.

- Tô apaixonado por ela. Eu só penso nela, eu só cheiro ela... - Repito a frase dita por ele, fecho os olhos e suspiro, recitar tais palavras é como beber veneno e não morrer. - Vinte e oito de novembro de dois mil e quatorze, era primavera, você lembra? Eu passei a odiar minha estação favorita desde então. - Comento e o vejo ficar pálido, arrisco dizer que sua pele ficou mais alva que a minha.

- Eu lembro, Marta. Esse foi meu erro, trocar você por ela. Abaixa essa arma, meu amor, por favor. - Ele diz nervoso. – Eu não quero machucar você, Marta. – Diz em tom de ameaça.

- Erro foi o nosso casamento, Maria Ísis foi uma escolha. Uma escolha tola, achei que fosse mais esperto, José Alfredo, eu estava enganada. És o homem mais tolo que conheço, ou melhor, conhecia. - Digo irônica.

A Imperatriz dos DiamantesOnde histórias criam vida. Descubra agora