Capítulo 2 - Harry

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"Harry não chora, esta tudo bem. Logo vamos nos ver novamente. Assim que nossos papais voltarem da guerra. Mamãe disse que podemos fazer uma festa do pijama por 2 dias inteiros." Disse o lindo menino de cabelos loiros quase brancos e um olho acinzentado, por mais que tente não consigo lembrar o nome dele.

"Mas e se demorar muito? Vou sentir falta de você e da Mione." Eu respondo tentando não chorar.

"Fica calmo, sempre estaremos juntos. Somos melhores amigos e noivos. Quase alma gêmeas. Sempre vamos nos encontrar." Ele me responde.

Depois disso a memoria fica confusa, escuto gritos da minha mãe e lembro dos olhos carinhosos cinzentos. Tudo o que queria era voltar para eles.


"GAROTO. ACORDE! Está na hora de você fazer nosso café da manhã." Quando abro os olhos sinto minhas bochechas úmidas, logo as limpo e me levanto. Não lembro muito dos sonhos. Sei que eram memorias, mas tudo o que sempre fica na minha cabeça após acordar é a falta.

Falta de ser amado, de ter alguém que me chame pelo meu nome, invés de aberração, garoto ou moleque. Mal consigo me lembrar de uma época sem ser com os Dursleys.

Lembro da minha mãe e do meu pai e meu tio vagamente, também tem esse garoto, sempre que tenho as memorias sobre ele, o mesmo se refere a mim como melhor amigo e as vezes como noivo e mesmo que seja estranho é meio reconfortante. Queria saber se ele ainda lembra de mim ou se fui esquecido com o passar dos anos.

Logo tia Petúnia esta batendo na minha porta novamente e com isso eu levanto.

Minha rotina é simples. Acordar cedo e esperar que a Petúnia me destranque, fazer o café da manhã, arrumar a casa toda, fazer o almoço, cuidar do jardim e se tiver sorte o dia vai estar nublado e não vou ficar assando embaixo do sol, depois fazer qualquer tarefa ridícula que tenham para mim ou fugir do meu primo que tem por atividade recreativa o Caça ao Harry, fazer o jantar e limpar a cozinha depois e no final de tudo voltar para o armário.

Em dias bons consigo comer as sobras do café da manhã e do almoço ou eles esquecem de trancar o armário e consigo pegar um pouco de comida depois que eles vão dormir. Em dias bons não queimo nada e consigo chegar ao armário no mesmo estado que sai.

Hoje não é um dia bom. 

Fico pensando no meu sonho e acabo queimando o bacon do café da manhã. Estava prestes a tentar corrigir, mas pelo visto demorei muito. Sinto mais do que vejo o tapa que recebo, não tinha notado Tio Valter se aproximando, o que por si só já mostra o quão desligado estava, afinal  não ouvi a baleia se chegar.

Tudo o que sei é que em um momento estava separando o bacon queimado e no outro meu lado esquerdo esta ardendo e Valter esta gritando do meu lado como sou um desperdício de espaço e inútil, enquanto grita comigo continuo fazendo meu dever, pois sei que é pior quando paro tudo, no ato de servir o prato, ele avança novamente e desequilibro a frigideira, com isso queimo minha mão. 

Realmente hoje não é um bom dia.

Não consigo pegar sobras e quando estou no jardim o dia esta tão quente que acho que estou com insolação, quando entro para fazer o jantar minhas costas ardem por causa do sol e do caça ao Harry que aparentemente não fui rápido o suficiente hoje, dado aos novos hematomas e cortes que entram para a coleção.

Faço o jantar, mas aparentemente sou lento demais na limpeza da cozinha o que resulta em mais alguns tapas do Tio Valter. Queria que eles esquecessem de trancar o armário essa noite mais que as outras, mas infelizmente não acontece. Limpo os novos ferimentos o melhor que posso e passo a pomada para aliviar a ardência das queimadura.

Quando fiz 18 anos pensei em fugir, qualquer lugar era melhor do que aqui. Mas mesmo me tratando assim, ainda tenho um teto e comida de vez em quando, além do trabalho me ajudar a não pensar no passado.

Além de serem a única família que me resta, com meus pais mortos e um tio que não quer nada comigo, não quero perder mais ninguém, mesmo os Dursleys. As vezes imagino uma vida diferente, se meu pai não tivesse sido convocado como soldado na guerra e minha mãe tivesse sido morta em um ataque de saqueadores, imagino uma vida com uma família que me ama, comida na mesa e um quarto, ou talvez ter menos tarefas, poder não trabalhar tanto e sempre que penso nessa vida ele está lá. O menino loiro.

Seu sorriso é sempre tão contagiante e os olhos cinzentos demonstram afeto e carinho, uma adoração velada e sempre é direcionado para mim. E eu sei que meu olhar corresponde. É com essa imagem que durmo, sonho com dias bons e felizes onde minha família me ama e posso ser feliz.


Cinderela - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora