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A viagem foi tranquila. Caspian foi a frente, conversando com Rei Pedro. Eu estava um pouco atrás, com as Rainhas Lúcia e Susana. Elas eram mais simpáticas do que eu esperava. Nós seguimos até um monte, os Reis e Rainhas foram recebidos alegremente por seu povo. Ao adentrar o monte, vi que muitos dos Narnianos forjavam suas armas. Havia algo intrigante no modo como o faziam. Observei por um momento, até que Rainha Susana chamou :

- Pedro, talvez queira ver isso

Eu e Caspian seguimos eles por um corredor escuro. Rei Pedro aproximou uma toxa das paredes, revelando desenhos parecidos com os que eu via nos livros

- Somos nós - Rainha Susana disse

- O que é esse lugar? - Rei Pedro perguntou

- Vocês não sabem? - Caspian perguntou, meio confuso

Ele pegou uma tocha e seguiu pelo corredor, que ficava cada vez mais escuro. Aquele lugar era familiar, mas eu não conseguia me lembar em qual livro havia lido sobre

Seguimos até um espaço enorme e escuro. Caspian acendeu todas as tochas ali, o lugar foi se iluminando aos poucos, revelando mais imagens nas paredes, e uma mesa partida ao meio

Prendi a respiração

- A mesa de pedra - sussurei tão baixo que ninguém ouviu

Atrás da mesa haviam duas colunas de pedra, e atrás, uma imagem dele... Aslam

Rainha Lúcia foi até a mesa

- Ele deve saber o que está fazendo

- Acho que é por nossa conta agora - Rei Pedro disse

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Subi na parte de cima do monte, para observar o lugar. Rei Edmundo estava lá, vigiando

- Com licença majestade

- Sem formalidades - ele disse, com um sorriso

Sorri de volta e me sentei ao lado dele. Ficamos um tempo em silêncio, eu estava nervosa demais por estar na presença de um dos reis antigos de Nárnia, das histórias que meu pai me contava... observei o lugar. Desde que saí do Castelo não estava com cabeça para prestar atenção a minha volta. Mas ali, tudo estava calmo e tranquilo. Observei o céu azul, as árvores...

- Esse lugar é muito bonito - eu disse

- Costumava ser mais - o Rei disse, meio desapontado - Sinto falta de como Nárnia era quando governávamos

- Como era? - perguntei

- Era um lugar mágico, incrível... Todos viviam em harmonia, e as árvores - ele fitou o horizonte - elas dançavam...

- Deve ter sido incrível

Apesar de estar um pouco nervosa, eu estava muito intrigada... depois de tanto tempo apenas lendo livros e ouvindo histórias... eu estava na presença de um dos Reis agora

- Como foi a guerra contra a Feiticeira Branca? - perguntei por impulso

Ele me olhou, um pouco confuso, mas respondeu

- Foi... assustador. Mas Aslam estava ao nosso lado

- É verdade que você ficou ao lado da Feiticeira? - perguntei, mas logo percebi o que havia dito. Olhei para o chão, envergonhada - Sinto muito majestade, isso foi muito indelicado, me desculpe - me levantei, prestes a sair dali

- Espera, está tudo bem, não precisa ir

Ele parecia tão intrigado quanto eu quando comecei a fazer perguntas

- Eu te respondo se você me responder uma pergunta

- Tudo bem - eu disse, me sentando novamente

- Como sabe sobre a Feiticeira, sobre a guerra... Sobre mim?

Fiquei quieta por um tempo, olhando seriamente para o chão

- Meu pai ele... ele costumava contar histórias para mim e para Caspian, histórias sobre Nárnia, como ela era antes de nossos ancestrais invadirem... Depois que ele morreu, nosso tio nos proibiu de ler ou falar sobre Nárnia, mas eu não consegui parar de ler aqueles livros, livros sobre a feiticeira, sobre a profecia, sobre Aslam... - dei um leve sorriso - Eu sonhava com Nárnia quando era pequena. Mas depois que meu pai morreu, eu nunca mais saí das redondezas do castelo... antes de fugir Caspian ainda dava suas voltas, mas eu nunca...

Percebi que ele me olhava profundamente. Voltei meu olhar para o chão

" Rei Edmundo porém, se deixou levar pela ganância e o desejo de governar, abandonando assim seus irmãos, e ficando ao lado de Jadis, A Feiticeira Branca " - É um trecho de um dos meus livros favoritos, ele conta sobre a chegada de vocês e sobre a guerra... Também diz que você quase morreu lutando contra ela - reforcei

Ele me olhou por um tempo, parecia disperso em seus pensamentos. Eu estava nervosa, mas de certa forma aliviada, nunca me abrira daquele jeito à ninguém. Ele olhou para o chão, sério

- Naquela época eu era mais novo, era egoísta... Pedro e eu brigavamos muito. Lúcia foi a primeira a vir, eu cheguei logo depois dela. A primeira pessoa que apareceu pra mim foi ela, a Feiticeira.... ela era sombria e medonha, mas de certa forma majestosa, as coisas que ela dizia entraram na minha cabeça, como um feitiço... ela dizia que me tornaria Rei, eu só precisava levar meus irmãos à ela - ele deu um sorriso constrangido - Eu nem podia imaginar que ela queria matá-los, então eu ajudei... ajudei ela a fazer coisas horríveis... mas aos poucos fui percebendo o que fazia. No final de tudo ela me prendeu, mas me resgataram e me levaram até Aslam... ele me perdoou, e fez com que eu mesmo me perdoasse.

Sua expressão continuava séria. Senti sinceridade em cada palavra que ele disse, e não era como nos livros, não eram palavras ditas por outras pessoas, ele próprio estava me contando sua história. Eu senti que aquilo era real, senti que ele realmente estava arrependido, fitei meus olhos nos dele, havia alguma conexão ali, de alguma forma eu sentia a dor dele...

ficamos por alguns minutos ali, nos olhando, mas desviei quando escutei algo

- Olha - haviam três soldados escondidos entre as árvores - Vamos avisar o rei Pedro

As Crônicas de Nárnia - Princesa Liz Onde histórias criam vida. Descubra agora