Capítulo 3

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SoHo, New York: 24 de setembro; 5:40.

— E sobre as informações da colectomia parcial... — Sabina começa. — O pós-operatório é o mais complicado, já que isso aumenta o risco de trombose e ainda atrasa o retorno da movimentação intestinal. A gente pretende remover todo o cólon, ou apenas parte dele?

— Não seria bom removê-lo por completo. A situação é bem detalhada. Eu aconselharia fazer a parcial, já que o estado é mais crítico que os outros — folheio os dedos pela quarta vez, tentando buscar mais informações no canto inferior do documento. — Pelo que estou vendo aqui, ela já é um caso de uma proctocolectomia.

Ouço um ruído sobre o que provavelmente parece vir das teclas no notebook do outro lado da ligação.

— Maddie está em boas mãos. Há noventa e sete por cento de dar muito certo. Está anotando ai?

— Claro — sorri, dando continuação. — Por mais que essa cirurgia seja um pouco arriscada, não consigo parar de pensar na Holly.

Cruzei as pernas sobre a cadeira, relendo a ficha da pequena novamente pelo que parecia ser a quinquagésima vez, só nas últimas duas horas.

— Ela vai ficar bem, Any — concordei com a cabeça, mesmo que ela não pudesse ver. Bom, eu preferia acreditar que sim. — Fiquei responsável pela... Deixe-me ver aqui. Isso, neonatal 204. Ela só tem oito anos... Uau. Posso dar uma olhadinha a respeito de como ela tem reagido aos remédios.

— Ótimo — suspiro, um pouco mais aliviada ao beber um copo de água. — E sim. Holly já está com a gente há quatro anos. Depois de tantos exames de rotina, descobrimos algumas complicações repentinas. Além do mais, a Anemia de Fanconi tem sido uma delas. As alterações genéticas são assustadoras.

— Certo... — sua voz falha, como quem estivesse buscando um silêncio para pesquisar sobre. Depois de alguns minutos, ela retorna: — As células tendem a se multiplicar de uma forma descontrolada. O caso pode ser revertido.

— E isso acaba comigo. Eu só queria que ela ficasse bem — admito. — Acho que no fundo, é o que esperamos de todos os pacientes. Não sei o que faria se nós propuséssemos uma cirurgia de risco, e de repente, viéssemos perdê-la por qualquer descuido.

— Ah, Any... Você já foi capaz de realizar uma cirurgia assim antes, não é como se não conseguisse fazer esse processo tão bem. Holly se tornou importante pra você, e eu sei que pensando por esse lado tudo se torna mais difícil. De qualquer forma, eu vou estar ao seu lado pra te dar apoio no que precisar — Ela dá uma pausa. — Vai ficar tranquila em relação a isso?

Ouço Noah gritar do outro lado da linha telefônica.

— O assunto de vocês é deprimente, ainda bem que não sou médico. Por que não contou pra gente sobre o encontro que teve ontem? — Eu me engasguei. — Ou ele é muito bom, ou você está completamente em delírio. Precisa de algo?

— Está apaixonada? — questiona Sabi, com certa ironia.

— Estou bem, e não, não tive um encontro, mas conheci um cara no Dead Rabbit. Digamos que ele é... Interessante.

— Agora responde a minha pergunta — Pede Sabina.

— Não, não estou apaixonada por ele, gente. — Digo mudando de posição na cadeira, de forma que meu pé pare de formigar. — Só um amigo. Ou melhor, um completo estranho que gostei de conhecer. Melhor?

— E você ainda está naquela era de não vazar muitas informações, certo? — Afirmo com um ruído. — Deveria seguir em frente, sabe? Você me parece muito mais feliz consigo mesma desde que parou de ligar para o que aquele idiota do seu ex, seja lá o que tenha sido, colocou em sua cabeça.

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