Capítulo 11

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SoHo, New York, 23 de novembro; 7:00.

Rasgo o envelope assim que me sento. Costumamos receber fichas atualizadas sobre todos os pacientes quando um mês está prestes a findar-se. Dependendo do tratamento, muitos vão para casa. Outros ficam até que estejam cem por cento para irem com segurança.

Meus pais fizeram uma surpresa ontem e apareceram de repente lá em casa, coincidentemente encontrando Joshua me ajudando com a lasanha tenebrosa que eu quase estraguei. Ele tinha combinado de me levar para jantar à noite, mas meus amigos meio que também apareceram depois dos meus pais. Tudo errado. Mas, pela primeira vez, tudo parecia muito certo. Eu não fiquei chateada. Muito pelo contrário, nem sabia que precisava tanto daquilo. Havia um tempo em que eu não me sentia em casa. Justamente porque minha definição de felicidade pareceu ter sido superficial e errada por alguns anos.

Equilibro o celular ao ouvido, sem tirar a atenção das fichas em minha mão esquerda. Meus pés estão descansando na cadeira a frente e eu solto uma respiração funda.

— Acabei de levar minha mãe até o aeroporto e estou indo pra casa daquele gatinho que comentei na semana passada. O que posso fazer por você? — Savannah vai direto ao ponto.

— Nada demais — respondo. — Só liguei pra passar o tempo.

— Tem certeza?

— Claro. Quer me responder um negócio?

— Sabia — ela sorri do outro lado da ligação, e eu a acompanho. Nada que não fosse sobre ela me conhecer muito bem. — Josh é um cara bom pra você. E você sabe que nunca gostei de nenhum dos seus namorados.

E é verdade. Savannah sempre teve a intuição muito certa. Talvez eu devesse fazer algum curso de psicologia algum dia. Tinha quase certeza de que a sensatez viria junto com o diploma. Quem sabe a sorte de compreender as coisas e me cobrar menos também. Resumindo: quando se tem alguma amiga psicóloga, isso é apenas um terço do que você pensa. Mas, de acordo com Sav, eu precisava dar uma chance a mim mesma. Precisava parar de achar que só eu tive culpa nisso. Ok, era bem difícil, mas eu estava começando a conseguir.

— Você ficou prestando atenção na gente ontem? — pergunto. Sem nenhuma resposta depois, continuo: — Ok. Então diz rápido, correndo, acha que eu devo? Por favor, pense nisso comigo. Pense um pouco, reflita e me diga o que você...

— Com certeza. Tem noção de que já se passaram dois anos desde que não fala de alguém? — grunhi em resposta. — Então, Any. Se Josh faz com que você repense sobre a questão de ter alguém em sua vida novamente, quer dizer que isso é algo bom mais que bom.

— Sério?

— Claro.

— Ah!

— Confie em mim, amiga. Primeiro: Você está me surpreendendo, continue. Ambos os lados têm demais a ganhar. Ele gosta de você, você gosta dele. Nem venha desmentir. Esqueceu que vocês se entregam muito mais do que imaginam?

Tirei os pés da cadeira, esticando a coluna. Deitei a cabeça sobre a mesa, pensando incessantemente.

— Estou muito orgulhosa de você — continuou Sav.

Eu, mais que ninguém, sabia que Savannah queria o meu bem. Apesar de seu tom ser bem firme às vezes, entendo que isso é necessário. Tendo em vista uma amiga que cansou de defender o ex abusivo, acho que eu também reagiria da mesma forma se estivesse no lugar dela.

— Bom — começo. — Estou feliz por saber que finalmente tenho melhorado a respeito. Você já está até aprovando meu comportamento. Preciso dizer, isso é quase tão satisfatório quanto uma boa noite de sexo.

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