A moça que tremia naquele instante não se moveu, não, muito pelo contrário, ela direcionou aquelas mãos trêmulas e quentes em direção ao rosto curioso que tentava decifrar.
A surpresa de Connolly foi tão grande que o fez se desfazer daquela face predatória. Seus lábios entreabertos tentavam entender o motivo no qual aquela ação repentina o tinha afetado tanto. Ele ainda sentia o cheiro de sangue, tinha o desejo de possuí-la, mas não queria fazer aquilo enquanto a sentia acariciar seu rosto. Os olhos de Lucy estavam marejados, Paul não conseguia decifra-la.
— Eu jamais fugiria de você. — As palavras fizeram Paul se sentir ainda mais culpado. Era exatamente isso que iria fazer, não suportaria perde-la pelas próprias mãos. Preferia tê-la longe, mas tê-la viva.
— Não está com medo, não sente repulsa?
— Claro que não. — O dedo indicador ajustava a sobrancelha bagunçada dele que fecha os olhos para sentir o contato.
No entanto, o vento gélido faz o nariz do Connolly sentir o doce aroma do sangue, já coagulado, do pé de Lucy. Era difícil conviver com ela sem nenhum ferimento, era quase insuportável sentir o doce cheiro do sangue dela e não saboreá-lo como tanto desejou.
O sapato nos pés dela não aprisionaram todo cheiro. Ele começou a sentir as pontas dos caninos tocarem seus lábios, todavia os braços de Lucy envolviam repentinamente o tronco de Paul. Ele perdeu os sentidos mais uma vez com o gesto dela. O que aquela doce dama estava fazendo com seus sentimentos fragilizados?
— Me transforme.
— O quê? — Paul parecia não ter entendido direito o que aquela voz sussurrada tinha dito, mas ele sabia que tinha uma audição excelente, só queria ganhar um pouco de tempo antes que pudesse negar com todas as suas forças. Aliás, tinha sido por esse mesmo motivo que decidira ir embora.
— Me transforme, me deixe ser como você. Me torne uma vampira! — Ela se separa dos braços dele com um sorriso exuberante no rosto. Lucy tinha certeza de que aquela era a ideia mais perfeita que alguém poderia ter. Ela tomou as bochechas de Paul com as mãos, para que os olhos pedidos de seu amante pudessem ganhar foco total aos seus, ele a encarava atônito, não conseguia acreditar no que estava ouvindo. — Então seremos eu e você, para toda eternidade.
— Não. — Lucy desmancha seu sorriso, separa-se do toque frio do Connolly, mas sem quebrar o contato visual.
— Não me ama?
— É justamente por que a amo que não vou fazer isso. Nem todos sobrevivem, não sabe o risco que...
— Eu quero correr o risco, você não decide isso por mim! — Ela o corta rispidamente. Magoada e pronta para fazer alguma coisa, Lucy pega o único alfinete que prendia a parte rasgada de sua roupa de dormir e fura aquele pedaço de metal em seu pescoço, sem hesitar por pelo menos um segundo. Sentindo o cheiro do sangue fresco, aquela feição de Paul volta a controlar seus sentidos, dessa vez não teria Lucy para segura-lo a fazer alguma besteira, dessa vez era justamente ela que estava provocando aquelas ações. — Eu sei que você vai saber o que fazer, você me ama e sei que não vai me matar. Papai estava enganado em relação aos vampiros, não são monstros sanguinários extintos. Você está aqui, existe e pode se controlar.
Controlar...
Aquela última palavra afetou Connolly que balançou a cabeça dezenas de vezes de um lado para o outro. Dessa vez era diferente, o pé de Lucy já estava coagulado, o cheiro já não era tão forte, mas o sangue que escorria quente pelo pescoço que acabara de afastar os cabelos o fazia ficar ensandecido para provar um pouco.
— Lucy, você não sabe o que fala. Não consegue controlar um instinto— Seus dentes estavam trincados um no outro enquanto falava. Era doloso demais evitar sua natureza.
— Você está controlando. — Ela se alfinetou mais uma vez fazendo uma pequena careta de dor. Paul baixou os olhos para não encarar aquele sangue que escorria ainda mais pelo pescoço tão macio e convidativo. — Viu, está controlando.
As palavras de sua amada já não faziam sentido. Paul só via uma bolsa de sangue fresco a sua frente, um pedaço de carne que iria saciar seu desejo ardente que queimava sua garganta.
Continua...
N/A: ihh gente, será que ele morde ou não morde? Kkkkk obrigada pela leitura e não se esqueça da estrelinha ❤️