Ansiedade

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*A história inteira contém gatilhos de ansiedade.


Tic tac. Tic tac. Tic tac.

Jason tacou um livro no relógio barulhento e suspirou alto, mentindo para si mesmo que sua falta de concentração era por causa do tic tac insistente.

Estava há dias tentando terminar o projeto da faculdade de arquitetura, mas sua cabeça não parava um segundo para deixá-lo respirar. Annabeth iria matá-lo se eles perdessem a data da entrega do trabalho.

Bagunçou os cabelos andando pelo quarto. Abriu as janelas para ver se o vento o ajudava a clarear as ideias. Nada.

Leo. Zeus. Leo. Zeus. Leo. Zeus. Leo. Pai.

— Uh... — gemeu frustrado e se obrigou a voltar para a mesa de desenho encostada na parede oposta à janela do quarto.

Se perdesse a cabeça, pelo menos não seria pelas mãos de Annie.

***

— Mandou me chamar, pai? — Thalia entrou na sala de jogos da grande mansão onde morava com seu pai, governador do estado de Nova Iorque, e seu irmão mais novo.

— Sim, querida. Pegue um taco. — Zeus estava estranho, ela logo notou. O cabelo bagunçado, a barba por fazer e a combinação estranha de calça de pijama xadrez com camisa social.

Humpf. Lá vem bomba. Ela pensou e pegou um taco, não sem antes se servir do whiskey que tinha na mesinha do canto. Zeus nem sequer piscou enquanto olhava para as bolas de bilhar na mesa.

Estranho. Muito estranho.

Em circunstâncias normais ele teria surtado ao vê-la bebendo algo alcoólico (mesmo já sendo maior de idade) mas agora, parece que a sanidade dele foi para o espaço.

Thalia se aproximou da mesa, virando o copo e se ajeitando para dar a primeira tacada. Foi péssima. Mas valeu a tentativa. Seu pai riu e logo foi a vez dele.

Após alguns minutos confortáveis, Thals resolve quebrar o gelo sabendo que aquela não era uma situação normal. Tinha um pacote de cheetos jogado em uma das poltronas da sala. Cheetos! Zeus odiava o salgadinho com todas as forças, apesar de ser o preferido dela e de Jason.

— Desembucha pai.

— Você acha que o Jason e aquele amigo dele tem alguma coisa? — ele disparou, rápido demais e com as sobrancelhas franzidas.

Território perigoso! Território perigoso! A mente de Thalia a alertava. Mas, se tem alguém que conseguia lidar com seu pai, era ela.

— Que amigo? —perguntou, cautelosa.

—O de sempre, do cabelo cacheado... Acho que se chama Leon... ou Leonardo. —Zeus cruzou os braços.

— É Leônidas, mas ele odeia — riu — se o chamar de Leonardo é capaz dele mudar o sobrenome para DiCaprio.

Se aproximou do seu pai, encostando o quadril na mesa e o encarando com ternura.

Os olhos deles eram os mesmos que os seus. Do mesmo tom de azul elétrico.

Precisava ser direta com ele, porém, sem agressividade nas palavras. E também, se alguém tinha que contar, deveria ser Jason.

— O que eu acho importa nessa situação?

— Sim. — Zeus colocou os tacos de volta no suporte. — Não quero cometer o mesmo erro de novo, filha.

Apolo. A mente dela voou para seu outro irmão loiro. Jacinto.

Apolo e Jacinto.

— O que devo fazer? — ele perguntou para ela, as mãos suando em desespero.

— Pode começar se acalmando. — Ela o levou até as poltronas da sala, colocando o saquinho de cheetos no chão, se sentando em uma e indicando que seu pai se sentasse na outra.

E, para completar a cota de surpresas daquela noite, Zeus se sentou no chão e pegou o saquinho do salgadinho.

É, vai ser uma longa conversa.

***

A música estava alta. Pessoas suadas e com copos na mão dançavam na sala de estar. Beer pong ocorria na mesa de jantar da cozinha, mas Jason não tinha a menor vontade de participar.

Seu estômago revirava. Estava pensando demais. Apolo encostou ao seu lado na bancada de mármore, lhe oferecendo um sanduíche perfeitamente embalado. Suas tatuagens brilhavam na luz fraca da cozinha, lembrando Jason que ele sempre se esquecia de perguntar quem era o tatuador do irmão. Os desenhos eram surreais de bons e as cores, quase impossíveis de se encontrar.

—Você está péssimo. — ele disse.

— E você age como se fosse um adolescente. — Jason retrucou aceitando o sanduíche.

— Alguém nessa família tem que ser legal. — ele deu risada e continuou sua bebida.

Da bancada Jason conseguia ver Leo se divertindo horrores com o jogo. Abriu um sorriso mínimo. Definitivamente, o moreno já estava bêbado e era pouco tempo até ele começar a cantar alguma música de reggaeton.

Apolo seguiu o olhar de Jay.

— Para de pensar tanto. — ele aconselhou.

— Estou tentando. Mas, não é fácil conseguir falar com ele. Não sei nem se devo. —Apolo sabia que Jason estava falando de Zeus.

— Mesmo se você falar com ele e ocorrer tudo bem, a ansiedade não vai embora assim. Ela vai com terapia e esta, não resolve seus problemas. Resolve você.

—Você é insuportável, sabia?! — reclamou o mais novo dando mais uma mordida no sanduíche.

— E você, um doce. — Apolo caçoou do irmão.

Jason sabia que o Sol Ambulante estava certo. Ahg!

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