O sininho que ficava em cima da porta do estúdio tocou quando Jason passou por ela. Finalmente Apolo tinha passado o endereço do famoso tatuador dele. Tatuadora, na verdade. Que ele tinha certeza que o irmão tinha uma quedinha.
— E aí? Como foi lá? — Apolo perguntou quando Jason se sentou ao seu lado.
Uns dias antes, o mais novo tinha ido ao médico que o encaminhou para um psicólogo, que o encaminhou para um psiquiatra que o encaminhou de volta ao psicólogo.
— Bem, eu acho... — mostrou a sacolinha que carregava onde continha alguns remédios, que acabara de comprar, receitados pelo psiquiatra. — Eu só... Não queria ter que tomar os remédios... Preferia outra coisa, sei lá. Mas, duvido que eu fosse realmente fazer essa outra coisa.
Apolo sorriu com ternura.
— Por que não quer tomar os remédios? — indagou.
—Acho que tenho medo de ficar viciado. — Jason fez uma careta com sua própria fala.
— Jay, você sabe andar de bicicleta? — Apolo perguntou, sério.
— Sei, mas o que isso tem a ver?
— Só vai me respondendo que você vai entender. Você não aprendeu a andar de bicicleta sozinho né?
— Não, minha mãe me ensinou. Ela levava eu e a Lia no parque, nos empurrava para pegarmos impulso só para cairmos segundos depois. — riu com a lembrança.
— Se sua mãe não tivesse te incentivado, te dado impulso empurrando sua bicicleta, provavelmente você não saberia até hoje como andar nela. Correto? — Jason nunca tinha ouvido aquele tom na voz do irmão. Era certeiro. Como se ele soubesse exatamente o que dizer para atingir o que queria.
— Correto. Aonde você quer chegar com isso? — em um ato de nervosismo programado, Jason começou a cutucar suas cutículas já machucadas pelas vezes anteriores.
— Quero dizer que se você não tivesse sua mãe naquela época para te empurrar, hoje você não saberia andar de bicicleta. Não saberia o que fazer com ela. E o mesmo vale para esses remédios. Talvez um dia você não precise mais deles, mas agora, você precisa sair do lugar e eles — apontou para a sacolinha — vão te impulsionar.
A respiração de Jay ficou pesada. Ficou com vontade de chorar. O irmão estava certo.
— Quem é o próximo? — uma moça negra com os cabelos cacheados presos em um coque alto chamou na sala de espera onde eles estavam. — Ah Apolo! Eu não sei mesmo por que eu te atendo, sério.
Apolo riu.
— Porque você me ama, Artie.
— Eu te tolero. E você deve ser o Jason certo? Vem, vamos começar.
Respirando fundo, Jay entrou na sala da tatuadora (que descobriu se chamar Ártemis).
***
— Se a Thalia souber que eu vim tratar desse assunto com você, ela arranca minhas bolas com uma faca cega. — Apolo disse assim que seu pai abriu a porta da mansão para o receber.
— Não tenho dúvidas. Mas de que assunto você está falando? — Zeus perguntou enquanto pendurava o casaco do filho no cabideiro perto da porta.
Ele raramente atendia a porta, afinal, tinha empregados para isso e não caia bem um governador atender a própria porta. Mas era Apolo, ele queria ver o filho pelo máximo de tempo possível.
Apolo o encarou. Os olhos azuis claríssimos herdados da mãe, Leto, afiados.
— Você soube antes de todos sobre Jacinto e eu. Não vou acreditar se me disser que não sabe sobre Jay e Leo.
— Você está certo. — Zeus disse, os levando até a sala de estar.
— Eu só quero ter certeza de que ele não vai passar pelo que eu passei, pai. Ele não merece isso.
Já fazia mais de 10 anos desde que Apolo fora expulso de casa, aos 18 anos, por se relacionar com seu amigo de infância, agora falecido, Jacinto.
Foi uma época conturbada.
Anos depois, após a morte de Jacinto, Apolo e Zeus sentaram para conversar. Zeus pediu desculpas e parecera realmente arrependido de ter mandado o filho embora, de ter reagido daquela maneira. Mas as coisas já não eram mais as mesmas. Conversavam apenas o estritamente necessário.
— Eu não sou o mesmo de anos atrás, Apolo. — Zeus se sentou no sofá. — Errei com você. Errei feio. E não consegui consertar o que fiz. Não farei o mesmo com Jason.
O nó no peito do loiro se desfez e ele relaxou um pouco, mas estar na presença do pai nunca era fácil.
— Ótimo.
— Ele te contou? — Zeus pergunta.
— Não. Mas não foi preciso.
— Certo. — de repente a mesinha de centro pareceu muito interessante para Zeus.
—Não diga a ninguém que vim aqui falar disso com você. Eu nem deveria ter vindo, na verdade. Só... Fiquei preocupado. — Apolo jogou-se ao lado do pai, no sofá.
— Não precisa se preocupar. As coisas serão diferentes.
Apolo deu um sorriso mínimo.
— Quer chá? — Zeus sugere.
— Você é inglês? — dessa vez o riso de Apolo é mais do que sincero e contagia o pai.
Talvez estivesse mais do que na hora de colocar um ponto final nas tristezas que os assombravam.
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Anxiety
DiversosJason só queria todos os seus problemas resolvidos, era pedir demais?