1. Apresento-lhes Elvira

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Doces pequenas palavras feitas para o silêncio,

Não para serem faladas

Coração jovem para o amor, não para mágoas

Cabelos negros para dançar ao vento,

Não para velar a visão de um mundo frio...

(Nightwish — While your lips are still red)

"O amor é o maior de todos os sentimentos... A vida não é maior do que a morte, e nem a morte é maior do que a vida. O amor supera os dois!"

Elvira estava para completar dezoito anos e, então, teria que se mudar do orfanato, mas não tinha para onde ir. A jovem era triste, fria e parecia ter muito mais idade do que realmente tinha. Sua aparência era a de uma bela rosa desabrochando, um ser encantador, mas suas maneiras eram de alguém já cansado da vida.

Ela foi abandonada à porta daquele orfanato onde cresceu, quando era apenas um bebê. As madres gostavam muito dela e sempre a trataram bem, mas o vazio, a falta dos pais, era grande. Às vezes, ela tinha a impressão de estar sozinha, de não ser amada e isso a tornava introspectiva e silenciosa. Era como se estivesse submersa em um mundo só seu.

Seu maior sonho, por mais irônico que parecesse, era amar. Amar alguém de verdade, de uma maneira que pudesse se entregar por inteira e que essa pessoa não se importasse com seu triste passado, mas até agora não tinha encontrado esse ser merecedor de seu amor. Como era jovem, não se preocupava muito com isso, na maioria das vezes estava perdida em si mesma, muito distante para perceber qualquer olhar de interesse.

Ela sempre foi diferente das outras meninas, tanto na maneira de pensar quanto de agir. Só usava roupas pretas e, mesmo em dias ensolarados, parecia de mal com a vida em seus trajes de luto. Vestia roupas de mangas longas para não se queimar e, por causa disso, era branca como uma flor de lótus. Sua pele pálida dava a impressão de que era uma morta-viva, exceto pelos lábios que ela sempre pintava de vermelho sangue. Ouvia músicas melancólicas e quase não falava, pois achava isso desnecessário. Se não fosse por sua beleza fora do comum, nunca seria notada por alguém.

— Elvira, menina, até que enfim eu te achei! — disse a mulher, ofegante, entrando como um furacão pela porta que já se encontrava aberta.

— O que houve, madre Anitta? — perguntou ela de forma calma, virando-se de frente para a mulher enquanto dobrava uma toalha com todo o cuidado do mundo.

— O padre Régis quer vê-la — respondeu a mulher, ajeitando as vestes. Realmente parecia cansada, talvez por ter procurado a jovem por toda a parte.

— Bom, vou terminar de arrumar essas toalhas e já irei — disse Elvira sem emoção alguma na voz, como se a presença da mulher lhe fosse indiferente. Ela caminhou até a bancada mais próxima com as toalhas recém-passadas em mãos e deixou que a manga do vestido fosse erguida, revelando seus pulsos brancos como a lua.

A madre, mesmo cansada, olhou fixamente para aquela região, havia alguma coisa errada com eles... novamente!

— O que é isso, menina? — perguntou ela, puxando o braço da moça com certa brutalidade, mostrando que não estava nem um pouco feliz com o que via. Surpreendida, Elvira deixou a pilha de toalhas cair ao chão antes que as pudesse colocar sobre a bancada.

— Não é nada, madre. — Puxou o braço, receosa, abaixou-se para apanhar as toalhas que haviam caído e recompôs-se em seguida, aparentemente abalada por ter sido descoberta.

Jurada pelas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora