Capitulo 12

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Fui com Nour até a sala e me deparei com Joalin sentada em nosso sofá, servida de uma xícara de chá; minha mãe sempre tão receptiva e educada. A outra se levantou quando adentrei em seu campo de visão, deixando a xícara sobre a mesa de canto. A beleza de Joalin me incomodava. Ainda mais quando eu estava tão desprovida de maquiagem, ao contrário dela. Joalin parecia uma pintura de um artista famoso e extremamente talentoso.

Ela levava os cabelos presos em um coque totalmente perfeito que não deixava nenhum fio do seu cabelo fora do lugar. O vestido era simples, mas notava-se o tecido de excelente qualidade. Joalin interrompeu minha análise quando falou.

– Bom dia! - a voz melosa e doce; fiquei enjoada. - Posso falar com você?
– Você já está falando.
– Any! - minha mãe me repreendeu.
– Não tem problema. - Joalin sorriu para minha mãe. — Podemos conversar em particular?
– Tudo bem. - tentei ser educada. - Venha comigo.

Fui com Joalin para o meu quarto sob os olhares curiosos da minha família. Abri a porta e dei passagem para que ela entrasse. Indiquei a cama e Joalin se sentou. Fechei a porta e a segui. Ficamos em silêncio por alguns poucos segundos, até que ela desse inicio a nossa conversa tão inesperada por mim.

– Noah falou comigo... - percebi a hesitação na voz dela e entendi que não era um assunto fácil para ela. - Sobre vocês.
– E? - a incentivei a continuar.
– E eu consegui entender o porquê de você ser tão hostil comigo. - eu não retruquei, embora quisesse. - Any, eu queria saber se posso contar a você um pouco da minha história com o Noah?

Respirei fundo, sem ter certeza se queria saber o que ela tinha para dizer. Apenas assenti e ela continuou.

– Conheci Noah quando entrei na Universidade. Acredita em amor à primeira vista, Any? – assenti novamente. - Pois bem... Quando eu o vi, senti como se o meu mundo pertencesse somente a ele. Eu havia acabado de sair de uma forte depressão pela morte dos meus pais e ele me ajudou. Você conhece a sensação de ter Noah como amigo... Mas ele nunca via em mim mais que uma amiga e cada dia que passava eu me apaixonava mais por Noah. Sempre tão atencioso e carinhoso. Sempre ali por mim.

Eu estava claramente com ciúmes. Joalin notou, mas não se interrompeu.

– Um belo dia, depois de alguns anos, eu reuni coragem suficiente para contar-lhe tudo o que sentia por ele e, para a minha decepção, Noah disse que não podia me corresponder porque amava outra pessoa. Eu o amei ainda mais por ele ter sido honesto comigo. Sabe, Any? As coisas na Inglaterra são um pouco diferentes daqui... Lá temos... Como posso dizer? Mais liberdade, digamos assim. As mulheres de lá têm mais liberdade, não são como as daqui... Enfim. Noah nunca me falou abertamente sobre a garota por quem estava apaixonado, até certo dia. Nós estávamos na festa da sua formatura e ele havia passado um pouco além da conta com a bebida e eu confesso - ela sorriu - acabei me aproveitando da situação.

Aquilo soou atrevido demais para uma mulher dizer. Eu me remexi na cama, ainda sem dizer uma palavra, esperando que ela continuasse.

– Eu o seduzi. - minha cara de choque a fez soltar uma gargalhada. - Eu disse que as coisas na Inglaterra eram um pouco diferentes. E, como meus pais sempre costumavam dizer, eu sou um pouco mais avançada que a época que vivemos. Sempre achei isso de uma mulher só poder se entregar a um homem quando forem casados muito fora dos meus padrões de felicidade. Depois que fizemos amor - eu corei fortemente - Ele sentiu-se completamente culpado, mas eu o convenci que não passaria nada. Noah e eu continuamos bons amigos, mesmo depois de tudo... O que era bom. Eu tinha certeza que com o tempo conseguiria conquistá-lo e ocupar o lugar daquela garota que eu sempre julgara não merecê-lo. - trinquei os dentes, impedindo que uma resposta malcriada saísse. - Ele me contara que sempre a escrevia e que ela... Você nunca respondera...
– Eu nunca recebi as cartas, Joalin! - a interrompi, irritada, e ela sorriu.
– Eu sei, Any. Agora eu sei. - ela procurou ficar numa posição mais confortável e continuou - Um dia, Noah me procurou para dizer que a tal por quem era perdidamente apaixonado iria se casar... Posso confessar, sem qualquer remorso, que senti vontade de matá-la por estar fazendo uma pessoa como ele sofrer. Eu não sabia como consolá-lo e fiz o que podia fazer naquele momento: Ofereci-lhe meu amor. Noah estava tão ferido por dentro que aceitou o que lhe oferecia. Sempre buscando ser honesto comigo, ele deixou claro que não me amava e não sabia se poderia me amar algum dia. Noah achou que poderia me compensar por ter feito amor comigo me dando um anel de noivado... - ela sorriu. - Como se ele fosse o único culpado pelo que aconteceu. Na verdade, a culpa era exclusivamente minha.
–  Tenho que concordar com você. - ela sorriu novamente. - Pode resumir a história, Joalin? Não me leve a mal, mas não estou interessada em todos os detalhes.
– Quando Noah recebeu a carta dos pais pedindo que ele viesse para cá nas festas de final de ano, ele não quis... Sabia que certamente encontraria com ela e não estava preparado para isso. Eu o incentivei a vir... Foi difícil. Você sabe, Noah é muito cabeça dura. - ela esperava por uma resposta que não dei. - Ele disse que viria, se eu o acompanhasse. Eu ponderei aquele convite, afinal, não sabia o que esperar. Mas por Noah eu faria e seria qualquer coisa... E se, naquele momento, ele precisava de mim como um alicerce, eu seria. – ela se virou, encarando-me. - Quando eu a vi naquela estação, Any, eu tive certeza que a mulher por quem o coração dele batia era você. Noah me pediu desculpas assim que você saiu de lá e foi atrás de ti. Eu poderia ter me sentido humilhada naquele momento, poderia ter pegado o primeiro trem de volta para a Capital e, de lá, voltar para Londres. Mas algo me dizia que ele ainda precisaria do seu alicerce. Fui embora com sua família, enquanto mil e uma coisas se passavam por minha cabeça. Noah chegou e eu já havia ido dormir, no dia seguinte não conversamos sobre o que acontecera. Ele não falou, eu não perguntei. Quando nos encontramos na Igreja e eu vi como os olhos dele brilhavam por você, senti tanto ciúme! - percebi as pequenas lágrimas em seus olhos. - Mas eu havia aceitado aquela situação. Quando falei com você e recebi toda a sua hostilidade, soube que também lhe causava ciúmes. Desculpe, mas confesso que fiquei feliz com isso.

Soltei um risada irônica.

– Ontem eu percebi quando ele saiu e depois você. Sabina pensou que estava me entretendo, mas não. Eu tentei ficar zangada com o Noah... Juro que tentei. Mas eu não podia. Não me lembro de uma única vez que ficara zangada com ele. Quando Noah voltou, percebi nos seus olhos que as coisas mudariam. Para ser sincera, desde que eu colocara os pés em Vincent soube que o perderia. Perderia, não. Eu nunca vou perdê-lo... Noah será sempre uma parte de mim. Mas o seu coração não me pertencia. Nunca pertenceria.
Você sentiu ciúmes de mim? - perguntei incrédula. - Já se viu no espelho, Joalin? Pelo amor de Deus!
– Não seja tola! - ela sorriu. - Você é uma mulher linda, Any. Admito não ser nada fácil para eu dizer isso em voz alta. E não vim falar sobre beleza com você.
– Então, pra quê veio? Eu ainda não consegui entender toda essa conversa, Joalin.
– Vim tentar fazer você entender que eu não tive culpa alguma do que aconteceu com a história de vocês. E que não serei eu a impedir que ela tenha continuidade.
– Não entendo o que você quer dizer. - eu entendia sim, mas não conseguia acreditar.
– Noah me disse o que você queria fazer. - ela me sorriu; julguei ser um sorriso terno. - Só uma pessoa com um coração puro seria capaz de sacrificar sua própria felicidade por um próximo. Confesso que fiquei emocionada com isso. Há uma grande diferença entre nós duas, Any: Eu nunca desisto daquilo que quero. Se a situação fosse inversa, se fosse eu no seu lugar, não tenho certeza se poderia fazer o mesmo.
– O que acontecerá agora? - não havia necessidade que eu fizesse uma pergunta clara, Joalin era inteligente o suficiente para saber sobre o que se tratava.
– Falaremos com seus pais sobre o rompimento e a vida continua.
– Você fala como se não lhe importasse o rompimento.
– Acredite... Eu me importo. Muito. Mas prefiro estar sofrendo tudo de uma vez agora, do que ter um casamento falido, sem amor. Bem, agora eu preciso ir... Perdoe-me se, mesmo que indiretamente, provoquei algum tipo de dor em você.
– Perdoe-me por minha hostilidade. - ela sorriu e a vi limpar rapidamente uma lágrima que teimou em borrar a pintura perfeita que era seu rosto.

Acompanhei Joalin até a porta e ela se foi, acompanhada de uma das empregadas da fazenda. Eu ainda tentava absorver toda aquela conversa. Tentava absorver que, agora, Noah não tinha mais compromisso com ninguém. Sorri. Gargalhei. Gritei. Todas essas reações sob os olhares curiosos da minha família. Especialmente, mamãe e Nour.

Agradeci a Deus por eles não me interrogarem sobre o acontecido. Apenas perguntaram o que Joalin queria e eu disse que ela queria falar sobre Noah. O que não era, de todo, uma mentira. Almoçamos juntos, em silêncio, e depois fomos todos para a sala. Conversamos sobre qualquer coisa – porque eu não estava prestando atenção no assunto; minha cabeça vagava por outro mundo agora -, enquanto saboreávamos um delicioso chá feito por minha irmã. O dia acabou sem mais emoções e todos se recolheram; fiquei na cama, olhando o teto do meu quarto, pensando em como as coisas seriam agora para Noah e para mim.

Any & Noah || Adaptação NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora