Amanheci com os olhos inchados por causa do choro. Não era adepta a usar maquiagem, mas Nour sempre me presenteava com essas coisas. Hoje eu teria que usar. Peguei o pó de arroz e passei por todo o meu rosto, tentando ao máximo esconder as profundas olheiras. Obviamente, não consegui disfarçar muita coisa. Saí do meu quarto e tomei um susto; meus pais estavam parados na porta e minha mãe segurava um bolo.
– Feliz aniversário, meu amor.
Eles disseram juntos e só então me dei conta de que hoje era seis de dezembro. Desde o dia em que Noah fora embora, eu parei de comemorar o dia que nasci. No ano que completei quinze anos, meus pais e Nour insistiram por uma festa, mas além de não ter muitos amigos, não iria poder dançar a valsa com quem queria. Dez anos sem comemorar essa data me fizeram esquecê-la.
– Obrigada.
Foi apenas o que eu disse. Meus pais me abraçaram e minha mãe quase me obrigou a comer um pedaço do bolo. Depois fomos, nós três, à missa.
Quando chegamos à frente da Igreja, quase dei meia volta; a família Urrea estava lá, inclusive Joalin. Ouvi a exclamação de surpresa dos meus pais e o olhar da minha mãe voou para mim. Don Marcus e Wendy sorriram para nós e eu juro que tentei, mas não consegui retribuir o ato. Abaixei a cabeça para não ter que olhar o quadro da família feliz pintado em minha frente, mas não passei muito tempo com ela baixa.
– Bom dia. - Don Marcus cumprimentou meus pais e a mim. – Há quanto tempo não lhe vejo, Silvio.
– Você não tem vindo muito à cidade, Marcus. - meu pai respondeu. - Vejo que hoje tem um motivo especial para vir à missa.
– Lembra-se de Noah, não é?
– Por suposto.
– Bom dia, senhor Soares. - ele falou com meu pai. - Dona Priscila. - ele tomou a mão da minha mãe e a beijou. - Any... - ele tentou fazer o mesmo comigo, mas não permiti.
– Quando você voltou, Noah?
– Cheguei ontem, senhora Soares.Minha mãe me olhou mais intensamente e eu já sabia que ela havia compreendido o porquê de eu ter chegado daquela forma ontem. Joalin pigarreou ao lado de Noah; ele mal abriu a boca e Don Marcus já começava a falar.
– Perdoe-me a indelicadeza, querida. - Joalin sorriu. - Essa é Joalin Loukamaa, noiva do Noah.
– Muito prazer. - novamente a voz doce e calma.
– O prazer é nosso, senhorita. - meu pai, como sempre, tão educado.
– Acho que vi você ontem na estação do trem. - ela falou comigo; meus olhos foram direto para Sabina, que ainda estava calada. - Não era você?
– Sim. - fui o mais seca que consegui. - Com licença.Aquilo estava sendo demais para mim. Mandei os bons costumes ao inferno e saí de perto deles. Caminhei apressada para dentro da Igreja e vi quando Sabina correu para me acompanhar. Sentei-me em um dos bancos e ela sentou-se ao meu lado. Eu estava chateada, mas não podia descontar nela.
– Desculpe-me por ontem... - ela começou, reticente, sussurrando para não atrapalhar quem já havia começado suas orações. – Eu não sabia sobre Joalin.
– Você não tem culpa, Saby. Não precisa se desculpar.
– Como você está? Noah chegou em casa ontem de um jeito que dava pena. Mamãe tentou falar com ele, mas o Noah pediu para ficar sozinho.
– Se importa de não falar sobre seu irmão e sua cunhada? – ela me olhou com pesar. - Noah fez a escolha dele e eu fiz papel de boba. Não quero pensar nisso. Nunca mais.Assistir à missa encheu meu coração de uma paz que eu estava precisando. Conversar com o padre depois, também. Só quando Noah e a família foram embora, que saí da igreja. Passei em casa para trocar de roupa e ir para a mercearia, ajudar meu pai. Não foi uma boa ideia. Minha mãe estava me esperando, na sala, e com a cara de poucos amigos. Cumprimentei-a rápido e tentei correr para o meu quarto, mas a sua voz – que geralmente era carinhosa e amável – soou irritada e autoritária.
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Any & Noah || Adaptação Noany
RomansaAny Gabrielly e Noah Urrea vivem na pequena cidade de Vincent. Se conheceram ainda crianças, quando Any tinha seis anos e Noah nove. Os três anos de diferença entre eles não influenciou na amizade que construíram. Porém, no verão de 1901, sete anos...