Capítulo 3.

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Eu fiquei completamente em choque depois do que tinha visto. As imagens das crianças não saiam um minuto da minha cabeça. Tinha sido uma experiência bem bizarra, meu cérebro só podia estar me pregando peças.

Tentei ao máximo me distrair, para conhecer o resto da tumba melhor, porém todo instante as memórias violavam minha cabeça me deixando cada vez mais intrigada.

O dia até que passou rápido, e de volta ao hotel o grupo estava reunido em uma sala de convenções onde o professor Baldrick fazia uma apresentação sobre os principais pontos que deveriam ter um estudo aprofundado.

Encarei um pouco o professor. Ele tinha uma estatura média e beirava aos quarenta anos. Os óculos redondos deixavam ele parecido com o Harry Potter, como o bruxo tivesse largado Hogwarts para virar um arqueólogo.

— Acho que um fato interessante para desenvolvimento de teorias e estudos é a ausência do coração na múmia e a presença de um amuleto de escaravelho no lugar.

O homem disse apontando para as imagens no projetor.

— É de conhecimento geral que a presença do coração na múmia era de extrema importância na crença deles. Vocês devem saber...

Encarei um pouco a imagem da múmia e um sentimento de angústia me preencheu. Eu não entendia porque eu estava me sentido assim. Lembrei então que para fazer o rito de passagem era necessário que o coração fosse pesado com uma pena e só assim o morto poderia ir para outro mundo. Era como se não quisessem que Tutankamon fizesse a passagem para a outra vida. Neguei um pouco com o coração apertando dentro do meu peito.

Talvez aquilo tivesse outra explicação. Esforcei minha cabeça para pensar em outra coisa mas o pensamento anterior ainda me incomodava.

— Bom... Ele pode ter morrido longe de casa. Algum erro na hora do embalsamento.... milhares de coisas podem ter acontecido. Eu quero que vocês tentem associar o máximo do cenário histórico com os itens da tumba. Tudo pode querer dizer algo. Os mínimos detalhes contam histórias fantásticas.

Ele disse sério enquanto mudava a imagem do PowerPoint.

— Outro ponto interessante de analisar é também um pouco sobre a família dele. Hoje eu conversei com um representante de um grupo que está estudando Nefertiti que era a madrasta dele e ao mesmo tempo a sogra. Toda informação que puder ser ligada com ele é importante. Todas as semanas iremos discutir teorias. Sempre andem com os seus diários de bordo...não deixem passar nada despercebido vocês sabem que um arranhão pode mudar a história....

O professor falou e mudou novamente a imagem no telão. Aquela noite iríamos repassar tudo que já era de conhecimento geral sobre a história do menino rei.

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— E aí, Lia? Já foi perturbada pela maldição?

Lucas perguntava brincalhão. Encarei o garoto pela tela do celular um pouco. Os cabelos castanhos espetados estavam bagunçados. Ele era bonito até assim, e eu entendia a reação das meninas quando descobriam que ele era gay, eu também me decepcionaria. Sorte minha que eu nunca senti algo por ele, minha chances seriam nulas, mas por outro lado eu podia fofocar sobre todos os meus contatinhos com o meu melhor amigo, e de brinde eu ainda ganhava os melhores conselhos do mundo.

Recordei das coisas que tinham acontecido desde que eu estava na fila de embarque. Primeiro tinha sido aquela voz arrepiante, depois o gato no vôo, a foto da egípcia, os barulhos de gato no meu quarto e as visões. Será que era tudo um delírio meu?

Novamente voltei minha atenção para a tela percebendo que Lucas falava enquanto comia um pedaço de pão.

— Sua mãe não te educou? É feio falar de boca cheia.... Se bem que a tia Adriana te educou bem, você que não aprendeu mesmo.

O GATO PRETO Onde histórias criam vida. Descubra agora