Capítulo 1.

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- E aquela história da maldição do faraó Tutancâmon? Você não tem medo?

Encarei Lucas incrédula por um segundo e então caí na gargalhada. Claro que eu já havia escutado sobre a maldição, haviam escritos bem na entrada da tumba dele alertando que quem o perturbasse durante o sono eterno iria morrer. A história dos pesquisadores, que haviam falecido durante a abertura da tumba, era bem conhecida no mundo e por algum tempo as pessoas realmente acreditaram naquilo, que não havia nenhuma pitada de teor científico.

- Que eu seja morta pela maldição então.

Brinquei enquanto tomava um gole do meu café, eu realmente estava animada com a proposta de fazer parte de um grupo que estudaria a tumba da múmia mais famosa de todos os tempos. Aquela, sem dúvidas, era uma das coisas mais incríveis que me tinha ocorrido.

Minha professora da faculdade, após a apresentação do meu TCC, tinha encaminhado ele para um amigo dela que era egiptólogo e que estava liderando essa expedição. Ele havia adorado as minhas teses e acabou me incluindo no projeto. Eu quase desmaiei de euforia quando recebi a notícia, eu tinha apenas vinte anos e a chances de algo assim ocorrer eram mínimas. Obviamente não havia pensado duas vezes antes de aceitar o convite.

- Não me espere em seu funeral.

Lucas mostrou a língua e então retribuí o gesto. Encarei em seguida a tela mostrando o horário de embarque dos próximos vôos e dando um pequeno suspiro. Uma mistura de sentimentos me percorreu, a maioria deles pareciam transmitir algo bom, entretanto algo apertava meu peito e uma vontade súbita de chorar surgiu enchendo meus olhos de lágrimas.

- Eu sei que você vai sentir minha falta, mas não precisa chorar não, Lia. Prometo que vou no seu funeral.

- Sério isso? Aposto que você que não vive sem mim. Te dou duas semanas para correr até o Egito e implorar para eu voltar.

Ele fingiu pensar um pouco e então riu concordando.

- Talvez.

Olhei para o relógio vendo que já estava quase na hora de ir, ele também percebeu e já se levantou. O abracei bem forte, eu iria sentir falta dele, éramos amigos desde sempre e vivíamos grudados por aí fazendo praticamente tudo juntos, muitas pessoas até pensavam que éramos namorados ou algo do tipo, e eu sempre ria imaginando a reação deles ao descobrirem que ele gostava da mesma fruta que eu gostava.

- Nos veremos em breve, ok?

Dei um beijo na bochecha dele e fui para a sala de embarque, novamente a mesma sensação ruim tomou conta de mim, senti um arrepio na minha nuca. Jurei ouvir uma voz rouca e macabra dizer "cuidado" em um tom irônico. Gelei na hora, olhei para trás buscando o dono da voz e vi somente meu amigo. através do vidro, acenando para mim, acenei de volta antes de adentrar no próximo recinto, ainda intrigada.

Preferi jurar que aquilo foi algo da minha cabeça, olhei para as pessoas em volta e todas pareciam estar normais. Segurei na alça da minha mochila sentindo um pouco de insegurança, aquela sensação era horrível e parecia querer me sufocar senti meu celular vibrar, tirei do bolso olhando uma mensagem, era uma montagem minha vestida como egípcia. Achei graça daquilo e coloquei como foto de perfil, nem percebi que como mágica a sensação ruim havia desaparecido.

Passei pelo embarque e então procurei meu assento me acomodando e colocando minha mochila embaixo da cadeira que estava na minha frente, não queria colocar no bagageiro.

Enquanto o avião subia, apreciei pela última vez a paisagem do Brasil.

[...]

O céu azul estava sem nenhuma nuvem sequer. Duas crianças corriam a margem de um rio como se fizessem uma corrida. O garoto, um pouco mais alto que a garota, ultrapassou facilmente, a menina sentou no chão fazendo uma cara de birra como se não aceitasse perder. Vendo aquilo o menino riu e voltou até ela estendendo a mão.

O GATO PRETO Onde histórias criam vida. Descubra agora