cinco.

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HARDIN.

Paro a moto na frente da escola e desço tirando minha jaqueta do MC e colocando dentro do compartimento na moto. Não posso usar dentro da escola, então uso uma preta sem a marca do clube em vez disso.

— Bom dia, delícia. — Ouço o canto de Winter enquanto termino de vestir a jaqueta e viro a olhando por baixo dos óculos de sol. Ela usa um vestido azul florido e tem o cabelo preso em uma trança lateral, mas me olha com fogo nos olhos em total contraste à sua roupa infantil.

— Bom. — Viro pra escola andando até lá sabendo que ela vai me seguir.

— Vai pra minha festa amanhã?

— Não, tenho um compromisso. — Assunto do clube, mas não converso sobre com ninguém fora dele.

— Poxa, mas nem só dar um pulinho lá? Todo mundo vai, até os nerds. — Fala alto quando passamos por um cara de óculos sentado no banco na frente da escola com uma garota baixinha e gordinha que antes estavam rindo, mas abaixam a cabeça quando escutam Winter sendo uma cadela. Balanço a cabeça e paro virando pra Winter que me olha sorrindo.

— Não vou pra tua festa, e não enche mais meu saco sobre isso. — Ela franze o cenho e eu viro voltando a andar até a porta da escola, ignorando as risadinhas das pessoas em volta dela.

Não tenho aula agora, mas não quis ficar em casa então enquanto todos entram em suas salas, eu me dirijo até a biblioteca gigante da escola.

Essa merda de escola de riquinho é cheia de frescuras e a única que gosto é a biblioteca, então aproveito ao máximo meu cartão de aluno e pego Morro dos Ventos Uivantes na prateleira antes de sentar em uma das cadeiras no fundo do primeiro andar.

Gosto de ler, me lembra a curta época da minha vida em que minha mãe tava viva e eu era uma criança feliz. Ela lia pra mim em todos os momentos possíveis, e nada era mais calmante do que sua voz derramando como mel nos meus ouvidos de menino.

Ela morreu quando eu ainda tava naquela fase em que minha mãe é a coisa mais perfeita e importante do mundo, então não consigo lembrar de nenhum momento ruim.

As únicas lembranças que guardo na memória, são as de nós deitados na poltrona enorme do meu pai enquanto ele ainda tava no trabalho, ela lendo algum livro que me deixou escolher e eu mexendo no seu cabelo loiro escuro.

Por isso, não tem nada que me tire a paz de ler um livro, então fico puto quando escuto uma conversa baixa atrás de mim, entre algumas das prateleiras.

— Não posso pagar tudo isso, cara. — Escuto uma voz masculina quando aguço minha audição pra entender os murmúrios.

— Pode, você pode sim. Sabe por que? Porque você podia enfiar aquela porra na tua veia, então você pode pagar por isso. — Franzo o cenho quando consigo reconhecer a voz de Marcus, tentando entender em que porra ele tá se enfiando.

— Eu não posso pagar de outro jeito? Não sei, trabalhando pra vocês. — A voz do outro agora tava mais aguda, com certeza pelo medo.

— Não, seu filho da puta. Quem vai querer um drogado de merda pra cuidar dos assuntos do clube? Me arruma esse dinheiro até semana que vem se não quiser que eu arranque teus braços fora pra tu nunca mais usar aquela porra. — Escuto um obrigado esganiçado do outro cara e sei que eles terminaram a conversa.

Levanto da cadeira me escondendo silenciosamente entre duas prateleiras pra que nenhum deles saibam que escutei a conversa.

Respiro calmamente enquanto observo um cara que nunca vi, que parece tão novo que diria que é do primeiro ano, sair do lugar de onde as vozes vinham.

Ele é novo mas pra quem conhece um viciado é óbvio que usa. Suas bochechas são fundas, tem olheiras escuras embaixo dos olhos vidrados, além do ponto arroxeado como se tivesse batido no braço dele, mostrando onde ele enfia a agulha com a droga.

Logo depois, Marcus sai não parecendo nada que acabou de chantagear uma criança que ele mesmo drogou.

Assim que ambos saem e o lugar fica silencioso de novo, fecho os olhos respirando fundo pra organizar minhas ideias porque não consigo entender o que levaria quem eu achava que era um colega (já que meus únicos amigos de verdade eram meus irmãos do clube) faria isso.

Sei que nós do The Devils Nightmare MC não somos anjos, mas só vendemos armas e drogas leves como maconha, e mesmo isso, nenhum nunca venderia pra alguém tão novo.

Porra, só não achei que aquele menino tinha 12 anos porque isso é uma biblioteca de uma escola de ensino médio, então ele não estaria aqui.

Além disso, ainda tem o fato de Marcus ter falado de um clube, então preciso falar com meus irmãos sobre isso.

Saio do meu lugar e da biblioteca só mostrando o livro pra bibliotecária pra ela colocar lá que eu peguei, posso ser um criminoso mas não quero prejudicar o trabalho de idosas.

Não ligo que vou perder aula, só saio de novo pelas portas que entrei há menos de uma hora e subo na minha moto indo pra sede do clube.

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⏰ Última atualização: Aug 07, 2021 ⏰

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