HARDIN.
— Eu já falei que não sou como teus amiguinhos, Hardin. Não vou aceitar você fazendo o que quer na minha escola. — Minha irmã fala pela décima vez e eu só continuo olhando pra ela com os braços cruzados.
— Tá, posso ir? — Pergunto desinteressado e ela suspira passando as mãos no rosto e depois me olha.
— Eu sei que o que o pai fez te marcou pra sempre, mas...
— Quantas vezes eu tenho que falar que não quero falar sobre isso, porra? — Levanto da cadeira com raiva e ela se levanta também, nem um pouco assustada pelo meu comportamento.
— Fala direito comigo, Hardin. Eu tô tentando te ajudar e se você não quiser tudo bem, mas não vou aceitar você falando assim comigo e agindo como dono dessa escola. — Fala parecendo estar com tanta raiva quanto eu, e por mais que eu não siga o que ninguém manda, minha irmã é a única pessoa que eu amo, então simplesmente saio da sala dela pra não gritar de volta.
Escuto ela me chamando, mas não ligo. Continuo até as portas da escola e saio pro estacionamento a procura da minha moto.
Minha Harley é meu xodó, comprei ano passado e os irmãos me ajudaram a customizar pra que ficasse mais potente e linda como é agora.
Tiro a jaqueta do clube do compartimento que na verdade é pra guardar capacete mas nunca uso então fica sempre guardado ali e visto-a, estalando o pescoço sentindo um pouco de liberdade começando a encher minhas veias.
Subo na moto e dou partida sem nem olhar pra trás, mesmo sabendo que minha irmã tá me olhando da porta da escola.
Minha mãe foi morta pelo meu pai quando eu tinha 6 anos e Bea 16, então tivemos que ficar com ele até que ela fez 18 e saiu de casa me levando junto.
Depois que minha mãe morreu, meu pai que já nos batia todo dia por qualquer motivo que passasse na sua cabeça de viciado, passou a tentar tocar na minha irmã e quando viu que não ia conseguir passou pra mim.
Eu não falo sobre isso. Nunca.
Escondi tudo que aconteceu em uma porra de cofre a sete chaves e ninguém além da minha irmã sabe.
Quando fiz 16, tirei minha carteira de motorista e aproveitei pra tirar uma pra moto também já que desde criança me interesso por esse tipo de coisa.
Com 17 entrei no The Devils Nightmare MC, um clube de motoqueiros que como todos os outros é mais do que só alguns caras conversando sobre moto, mas também não falamos sobre.
Agora eu dirijo pelas ruas da comunidade rica de Penitence até chegar quase na saída da cidade onde fica a sede do clube.
Assim que estaciono vejo duas das vadias conversando com Bear enquanto fumam e ele mexe em sua moto se mostrando pra elas. Não que nenhum de nós precise, elas fariam de tudo pra dar pra qualquer um de nós.
— E aí. — Digo quando passo ao lado dele.
— E aí, tu não tem aula agora? — Pergunta enquanto me afasto e eu só levanto o dedo do meio sem parar de andar escutando as risadinhas das meninas.
Entro pelo portão de metal e vejo meus outros irmãos, alguns jogando, outros bebendo no bar onde Big Mama os serve e alguns nos sofás assistindo o jogo passando na televisão. Ando até o bar e dou um tapa na costa de Smokey que nem se mexe sendo o filho da puta enorme que é.
— Ei, Mama. — Me estico sobre o balcão pra dar um beijo na sua bochecha e ela sorri pra mim.
— Oi, meu filho preferido. — Smokey faz um som na garganta e ela olha pra ele com uma careta me fazendo rir enquanto me sento no banquinho ao lado dele. — Você tá me irritando hoje, já mandei você parar de fumar na minha cara então nem vou responder.
— Mas... — Smokey tenta com a voz grossa de anos fumando.
— Psiu. — Mama o interrompe e se vira pra mim. — Quer alguma coisa?
— Uma cerveja só. — Ela acena e vai até a geladeira atrás dela.
— Por que tá aqui essa hora? — Smokey pergunta dando uma última tragada no cigarro e o jogando no chão e depois pisando em cima.
— Acho que vou sair da escola, cara. Aquela merda tá me dando vontade de enfiar a cabeça de todo mundo ali na própria bunda.
— Como assim "sair da escola"? — Mama me entrega a cerveja com os olhos cerrados.
— É, eu não vou pra faculdade mesmo, não preciso terminar pra continuar no clube. — Ela coloca as mãos nos quadris naquela pose de mãe que lhe deu o apelido.
Big Mama é a mulher do falecido antigo presidente do clube e quando eu cheguei aqui ela já agia como mãe para todos, me acolheu como uma de verdade e sempre me dá os esporros que preciso levar.
Ela deve estar na casa dos 50 anos, mas pra quem pergunta ela fala que tem 35, o que na verdade é bem fácil de acreditar. Mama é alta e magra e usa sempre calças jeans e jaquetas e botas de couro, além da maquiagem escura nos olhos verdes, o batom sempre vermelho e o cabelo loiro sempre meio bagunçado como se ela tivesse acabado de chegar de moto.
Todos aqui já cometeram crimes, a maioria envolvendo caras mortos e drogas, mas nunca vi ninguém levantar a voz pra Big Mama, porque o que vem disso com certeza é feio pra caralho.
— Você não vai sair da escola, Hardin. — Diz como se não estivesse aberta à discussões.
— Mas, Mama, não tem motivo de eu continuar lá e eu odeio aquele lugar.
— Claro que tem! Você tem 18 anos, precisa de um diploma mesmo estando no clube, e é claro que você odeia, ninguém ama estudar, mas você vai e não quero mais ouvir sobre isso. — Eu suspiro e aceno derrotado. — Vem aqui. — Diz e eu levanto indo até o outro lado do balcão onde ela me puxa pra baixo pra me abraçar me fazendo quase soltar um gemido pela dor do puxão no meu pescoço, essa mulher é forte pra cacete. — Sabe que brigo contigo porque te amo né? Você é meu filho mais novo e não quero ver você fazendo algo que possa se arrepender pra sempre.
— Eu sei, Mama. — Ela dá um beijo na minha bochecha e me solta, eu sorrio sem os dentes pra ela quando ela me observa ainda me segurando, como se soubesse o que passei e o quanto preciso de uma mãe.
— Tá bom, agora sai do meu bar, bora bora. — Me empurra e eu rio enquanto saio pelo lado voltando a me sentar ao lado de Smokey.
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RomanceTessa já passou por muita coisa, por isso tem certos traumas e finge ser uma pessoa que não é pra que ninguém descubra sobre eles. Hardin é literalmente um delinquente, faz só o que quer e não liga pra opinião dos outros. Por isso quando se conhecem...