Se ver uma mulher vestida como uma fada surrada, corra o mais longe possível

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Estava na metade do quadrinho do Hulk, quando ouviu batidas delicadas na vidraça da janela do quarto. Guardou a revista embaixo do colchão e observou a figura bisbilhotando do lado de fora, que continuou batendo e insistindo para que a janela fosse aberta e o deixasse entrar.


Era Andrey, o amigo mais novo de Fabrizio. No mesmo instante em que a janela foi aberta, imediatamente, caiu com as costas no chão e com uma cara de bobo mirando para o seu companheiro, que não parecia muito paciente por causa do horário.


"O que você quer?" - ele perguntou, voltando para a cama e pegando novamente o quadrinho que estava lendo, sem dar muita atenção.


"Cara, você ainda fica lendo essas coisas de crianças?" - ele questionou tentando soar engraçado, mas era o único da turma que ainda deixava biscoitos com leite nas noites de Natal para o Papai Noel.


Fabrizio continuou concentrado na sua revista, depois de dar uma resposta murmurando e ignorando ainda mais a presença do outro garoto, que ficou mexendo nas suas coisas até chegar perto o suficiente para dizer algo baixinho, apenas para os dois ouvirem.


"Já faz uns dois dias que eu não vejo mais o Linfatti." - ele falou como se esperasse que o primeiro passo fosse dado para o que estava tentando dizer.


"E daí?" - jogou a revista na caixa grande que estava no pé da cama onde guardava os seus brinquedos. Colocou as mãos embaixo da nuca e dobrou as pernas para se deitar e olhar para o teto.


"Antes de sumir, me falou uma coisa curiosa." - ele continuou falando lentamente e bulindo nas coisas do quarto de Fabrizio. "Disse que viu uma fada de verdade no campo logo depois do lixão da cidade. Ela estava fazendo magia. Não acreditei nele no início, mas logo percebi a serenidade e a maneira espantada que contava o ocorrido naquele mesmo dia. Tive certeza das suas afirmações porque o seu cachorro Spike sempre gostava de fugir para o lixão da cidade ou próximo dele para roubar porcarias e rasgar as bolsas." - ele terminou de proferir.


"Uma fada? Achei que a criança aqui fosse eu. Você vai mesmo acreditar nele? Semana passada disse que encontrou o "Homem Árvore"." - jogou os olhos para cima entediado e fez uma careta.


"Ok. Pode ser mentira, mas ele nunca desapareceu por dois dias seguidos assim. Sabe o quanto somos amigos, e ele não sai da minha casa porque está apaixonado pela minha irmã mais velha." - ele colocou dois dedos no queixo como se estivesse analisando e fazendo uma pausa de mistério nas suas palavras.


"Não seria mais fácil ter ido direto à casa dele?" - imediatamente os dois começaram a gargalhar para uma piada particular.


"Fala sério, como se qualquer outro garoto gostasse de visitar aquele lugar. Quando você coloca o pé na porta, imediatamente, os seus avós vão te puxar para dentro e começar com suas histórias, que não acabam e duram horas. Eles, simplesmente, sequestram jovens para ficar dizendo aquelas coisas. Ninguém merece passar por esse tormento." - depois de alguns segundos, o seu sorriso ficou seco e ele mudou sua expressão tão ligeiramente de diversão para preocupação.

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