Capítulo 112

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KL

Fiz careta e olhei pras fotos dela enquanto ela me contava sobre o menino que não quis namorar com ela e rasgou todas as cartinhas que ela mandava pra ele.

KL: Tu era feiona. Eu rasgaria tua cartinha de amor também. - Ri e ela tomou as fotos da minha mão.

Eduarda: Eu era feia e fiquei linda. E tu que é feio até hoje?! - Disse e se levantou indo guardar as foto.

KL: Tá vendo como tua mãe é recalcada pra caralho? - Falei baixo pra ela não escutar.

Caio: O que é "caralho"?

KL: Uma palavra que tu não pode falar.

Caio: Por que?

KL: Por que é feio.

Caio: Então por que você disse?

KL: Por que eu sou feio pô, escutou tua mãe falando não?

Caio: Escutei, mas você disse que ela era "lecalcada". - Falou balançando as pernas.

KL: Mas ela é.

Eduarda: Como eu vou ter recalque de feiúra, meu bem?

KL: Fica se achando demais não, mandada. - Xinguei e ela riu vindo pegar o Caio que estendeu os braços pra ir no colo dela.

Eduarda: Você já tá bem grandinho pra ficar no colo, cê num acha não?

Caio: Não, mamãe. - Sorriu falso.

KL: Moleque mó falso.

Eduarda: Puxou você né more?!

KL: Eu nada, ala. - Ela riu.

Eduarda: Você vai ir lá pra casa da Débora com a gente?

KL: Mais tarde eu broto lá. - Ela assentiu e segurou a mão do Caio pra ele não cair.

Menorzinho era todo lerdo ainda, mas pra outras coisas era esperto até demais. Mas só tinha quatro anos, então nós dava um desconto na lerdeza e pá.

Eduarda: Tchau. - Me deu um beijo rápido. - Te amo não.

KL: Também te amo. - Sorri falso e ela mandou um beijinho.

Caio: Tchau papai. - Acenou com a mãozinha pra mim e eu acenei de volta vendo eles saíndo.

Fiquei de bobeira ali em casa mermo, nem tava afim de ir pra casa da Débora. Mas ia ter alguma coisa de comer então eu ia só por isso.

Minha vida de uns anos pra cá mudou pra caralho, tá ligado? Eu e a Eduarda começamos a namorar fazem uns cinco anos mas parecia como se fosse ontem.

Nossa cria hoje já tem quatro anos e a gente não planeja ter mais não. Só um já dá dor de cabeça pra caralho, ter mais filhos seria o suficiente pra causar um infarto em mim...ou nela, depende.

Fazem uns meses que eu saí do movimento também. Larguei o tráfico e tô tentando não mecher mais com essas parada aí. Não é por que eu não goste, até por que eu amava ser vagabundo.

Mas agora o bagulho é que eu tenho uma família, não rola mais pra mim correr o risco de morrer em qualquer operação que rolar no morro, ou acabar sendo preso e deixar meu menor e minha mulher aqui fora sozinhos, se ligou?

Mas ainda tenho consideração e respeito com geral aqui no morro, uma vez ou outra eu ajudo quando precisa. Mas não me envolvo muito por que se não, eu sei que posso acabar voltando pra essa vida e eu não tô afim mais.

Vi as horas e resolvi parar de enrolar e subir pra casa da Débora logo, deve tá geral lá. Bando de esfomeado, se eu chegar tarde é capaz de não ter nem um grão de arroz pra mim.

Peguei só uma camisa e joguei por cima do ombro. Comecei a subir o morro a pé mermo. Quando passei na porta da casa do MT, vi que o carro dele tava na frente da casa dele. Resolvi bater lá, dar um bom dia com toda educação né.

Abri a porta e entrei.

Nem pisei dentro da casa direito e já escutei o gatilho da arma, neguei com a cabeça e me virei rindo.

KL: Bom dia, princesa. - Falei e ele respirou fundo.

MT: Tá invadindo minha casa por que?

KL: Invadi nada. Eu entrei com educação.

MT: Educação que tu não bate nem na porta?

KL: Bater pra que? Já sou de casa, se liga. - Ele revirou os olhos e guardou a arma de novo. - Eai, como tá?

MT: Tu acredita que ela esqueceu do bagulho?

KL: Tá de k.o? - Ele negou rindo. - Fica se achando não. Tu também tinha esquecido! Quem te lembrou foi eu, palhaço.

MT: Não importa, o importante é que eu lembrei e ela não.

KL: Tu lembrou foi o caralho. - Neguei com a cabeça e ele riu. - O aniversário de namoro é de vocês dois, e quem lembra sou eu. Viajado vocês hein.

MT: Também não entendi o lance de você saber dessa data não.

KL: Eu sei de tudo.

MT: Aham, tá bom.

KL: Dúvida não.

MT: Tô duvidando não, pô. Pessoa fofoqueira sabe até de coisa que não tem nem sentido ela saber.

KL: Tá me chamando de fofoqueiro? - Ele concordou. - Sou mermo, vai fazer o que? Chorar?

MT: Brincalhão você, né não?

KL: Hoje eu tô de bom humor. Aí, se liga na ideia que eu tenho pra tu. - Ele me olhou. -  Se faz de sonso e espera a Mirella lembrar da data. Quando ela lembrar, tu finge que ficou bolado. Aí ela vai ter que te agradar pra recompensar.

MT: Dá não, ela é maluca. Capaz de ficar bolada por que eu fiquei bolado.

KL: Aí o problema já é seu. - Dei de ombros. - Comigo sempre funciona.

Nunca funcionou.

MT: Funciona mermo?

KL: Claro pô, confia.

MT: Confio não.

KL: Tô te falando que funciona, caraí. Só vai na minha ideia que é sucesso. - Ele riu e negou com a cabeça.

...

O Nosso Recomeço [𝐌]Onde histórias criam vida. Descubra agora