Capítulo 102

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Mirella

Cheguei no hospital um pouco atrasada, mas nem tanto. Bati meu ponto e fui ver em qual área era o meu plantão de hoje.

Já tem alguns meses que eu consegui esse emprego e tô amando, o salário é maravilhoso e não fica longe do morro. Só foi difícil ter que ficar longe do Victor já que ele é muito apegado a mim. Mas não demorou pra ele se acostumar.

E por incrível que pareça, o Matheus tem me ajudado pra caramba em tudo. Ele tá sendo um pai muito melhor do que eu imaginava que ele seria.

Enfim, tudo indo indo muito certo.

Cheguei na sala onde a gente guardava nossas coisas e encontrei o Alex ajeitando as coisas dele. Ele me viu e sorriu pra mim.

Alex: Eai. - Sorri e abracei ele.

Mirella: Oi, como cê tá? - Me soltei e comecei a guardar as minhas coisas.

Alex: Bem, pô. Meu plantão acaba mais cedo hoje.

Mirella: Aff, queria.

Alex: Tu vai ficar a madrugada toda hoje? - Assenti. - Foda, mas e teu filho?

Mirella: Ah ele já conseguiu acostumar a ficar longe de mim. Deixei com o pai dele. - Fechei meu armário.

O Alex é um cara que eu conheci aqui mesmo, ele é pediatra e a gente quase sempre ficava no mesmo horário de plantão então acabamos fazendo amizade.

Ele sempre me dava dicas quando o Victor tava com alguma coisa, mesmo eu não precisando até por que eu sou médica também.

Mas no processo de parar de amamentar o Victor, ele me ajudou muito.

Alex: Você já vem? - Neguei.

Mirella: Vou acabar de organizar as minhas coisas aqui e já vou. - Ele assentiu, fizemos o toque e depois ele saiu.

O Alex sempre deu umas investidas em mim, tentando flertar ou sei lá o que. Mas eu sempre deixei claro que não quero saber de homem por agora e que minha maior atenção era meu filho.

Ele era do tipo de cara muito legal, bonzinho, carinhoso e se preocupava muito comigo. Se preocupava demais até com o Victor.

Mas mesmo assim, não fazia meu tipo então eu afastava ele, não conseguia, mas tentava pelo menos.

Acabei de organizar as coisas e fui olhar os pacientes daquela ala. Isso aqui de madrugada era horrível, chegava gente de tudo quanto é quanto. Pacientes graves era o que mais tinha aqui.

Fora que, tinha sempre aqueles pacientes que não colaboravam. Alguns chegam e gritam com você por não estar sendo atendido da forma que quer e perde totalmente a noção que o mundo não gira em torno dele. Mas enfim, medicina por amor.

Amor ao ódio, puta que pariu.

Eu gosto de trabalhar com isso, mas as vezes cansa e me faz pensar que eu deveria ter escolhido outro rumo. Mas já que é esse que eu tenho, vou só aceitar.

Quando consegui um tempo da correria de lá pra cá, peguei o celular e vi que já estava dando duas da manhã. Resolvi ligar pro Matheus pra ver se estava tudo certo.

Se tiver tudo certo, ele não vai me atender.

Se tiver tudo péssimo, ele vai me atender na hora.

Chamou uma vez e ele atendeu. No fundo consegui escutar o choro do Victor e já comecei a ficar apavorada.

Mirella: O que tá acontecendo? Por que ele tá chorando?

MT: Não sei pô, já tentei de tudo e ele não para de chorar.

Mirella: Você deu a mamadeira?

MT: Dei, ele vomitou tudo o que bebeu por que não para de chorar.

Mirella: Porra Matheus, eu falei que era pra tu me ligar! - Passei a mão no rosto tentando ficar calma.

MT: Eu achei que eu dava conta, caralho.

Mirella: Mediu a temperatura?

MT: Já, não tem febre.

Mirella: Tenta acalmar ele, eu vou ir pra aí.

MT: Não precisa.

Mirella: Precisa sim. - Desliguei antes que ele falasse alguma coisa.

Mandei uma mensagem a minha supervisora e ela disse que me liberaria apenas por hoje e dei graças a Deus por isso.

Fui até meu armário correndo e peguei minha bolsa, sai pra fora do hospital e tentei pedir um Uber mas todos cancelavam quando viam qual era o destino.

Eu já tava começando a querer chorar de preocupação quando um carro preto parou na minha frente.

Alex: Tá indo embora? - Balancei a cabeça afirmando. - Entra aí, te dou uma carona.

Não pensei duas vezes em aceitar e agradeci ele. Durante o caminho, expliquei o que tinha acontecido com o Victor e ele começou a insistir que queria ver ele.

Alex: Onde você mora?

Mirella: Vidigal. - Ele concordou e partiu em direção pra lá. - Mas pode me deixar no pé do morro, eu subo o resto.

Alex: Claro que não, já tá tarde.

Mirella: É que eu ainda tenho que buscar o Victor na casa do pai dele.

Alex: Me fala onde é a casa do pai dele, que vamos lá buscar ele e depois eu te deixo na sua casa.

Mirella: Acho melhor não. - Ri nervosa. - O pai dele não gosta que qualquer pessoa vá na casa dele.

Alex: O que? Vai falar que o pai dele é o dono do morro? - Brincou e começou a rir e eu ri junto.

Ri de nervoso.

Eu sou uma fudida mesmo, não tem condições.

Mirella: Eu acho que vou deixar o Victor na casa do pai mesmo, sabe? Só vou passar pra olhar ele e tentar acalmar.

Alex: Não tem problema, eu te ajudo com ele lá na casa do pai mesmo e depois te levo embora. - Assenti ainda nervosa. - Você sabe que eu não ligo de ajudar vocês dois, pô.

Mirella: Sim, eu sei. - É aí que tá o problema, meu querido.

Eu não fazia ideia de qual seria a reação do Matheus, com um cara totalmente aleatório entrando na casa dele do nada e pegando nosso filho pra examinar.

A reação não vai ser boa, disso eu sei.

Pelo amor de Deus, que o Matheus não faça besteira nenhuma e que não tenha nenhum fuzil em cima da mesa ou atrás da porta.

Amém.

...

O Nosso Recomeço [𝐌]Onde histórias criam vida. Descubra agora