IX - A misteriosa canção

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Maya

...

"Saber perder também é um ato de honra". Aquela frase pareceu só mais uma fala de efeito, mas eu podia sentir que tinha algo mais. Não era algo que eu tinha escutado na vida que eu lembrava. Por que aquela frase me afetou tanto? Para piorar, durante todo o caminho, uma leve dor de cabeça resolveu me acompanhar. Eu estava melhor do mergulho no rio congelado, já estava aquecida, mas um sono inexplicável começou a tomar conta de mim. Acredito que a princesa tenha notado e nos pediu um pequeno descanso para nos alimentarmos. Por sorte, eu tinha Emma olhando por mim.

- Você tá bem? - ela perguntou assim que desci do cavalo. - Parece um pouco sonolenta.

- Deve ser cansaço. Isskog exigiu muito de mim - brinquei e ela riu.

- Você quase me matou de susto quando caiu no rio.

- Mas tô viva graças a você e vai ter que me mostrar mais constelações.

- Com todo o prazer. - Ela sorriu.

Nate se aproximou, disse para eu descansar um pouco e ficou do meu lado até eu deitar. Ele não ia me deixar em paz, então tive que fazer o que ele pedia. A princesa também não parecia disposta a continuar a viagem enquanto eu não descansasse. Então, aproveitei para tirar um cochilo...

"Eu estava em uma floresta com a mata fechada e tudo o que eu tinha como ferramenta era a minha espada. Comecei a cortar aquelas folhas, plantas, galhos e o que mais estava à minha vista. O calor estava intenso e eu suava muito, a ponto da espada escorregar da minha mão várias vezes. Alguns mosquitos começaram a aparecer e atacaram com tudo. Eu não tinha como me defender, então coloquei as mãos no rosto e esperei tudo aquilo passar.

De repente, eu estava com metade de uma armadura e deitada no chão. Na minha direção, vinha um homem gigante e não consegui ver seu rosto, pois parecia embaçado. Ele estava distraído com a multidão ao nosso redor e eu não sabia o que fazer. 'Saber perder também é um ato de honra' ecoava com a minha voz na minha mente e eu estava confusa. Até que o homem deu o golpe fatal..."

Acordei com um pulo e colocando a mão no meu abdômen. Não doía como naquele primeiro sonho louco, mas eu sentia como se estivesse acabado de apanhar. Um pingo de água caiu da minha testa e só ali eu percebi que o suor do meu sonho era real.

- Teve um pesadelo? - Nate disse. Ele parecia preocupado.

Ao lado dele, a princesa também me olhava. Ótimo, eu tinha duas pessoas no meu pé.

- Nem lembro o que tava sonhando - menti.

Não quis mais conversar. Aqueles sonhos estavam me deixando confusa. O que eles eram? Eu poderia contar para a princesa e ver o que ela sabia, mas resolvi guardar tudo para mim. De todas as pessoas, Emma era a que mais queria que a minha memória voltasse e eu não queria decepcioná-la. Porém, Nate e ela eram as minhas únicas fontes sobre o que eu havia feito naqueles anos em Sthorm. A dúvida entre saber as respostas e não dar a eles falsas esperanças estava me corroendo.

Continuamos a viagem. Após os eventos dramáticos de Isskog, a ida até Hekser foi muito tranquila, o que achei estranho, já que estávamos indo para o lar de bruxos que sabe-se lá como faziam as magias. Pensei que seria mais complicado, mas não houve armadilhas no caminho. Foram quase dois dias andando a cavalo para finalmente chegar em Hekser. Nos nossos momentos de descanso, a princesa fez questão de sempre ficar do meu lado para ver se estava tudo bem e se eu ainda sentia frio. Era difícil tentar se afastar dela com toda aquela atenção. O pior é que eu me sentia tão bem com ela do meu lado.

Promesas - A Coroa & A Espada IIOnde histórias criam vida. Descubra agora