Capítulo 6 - Noite de tormentas

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Em instantes a luz do quarto de artefatos acendeu e o corpo de Lorraine virou-se, os olhos azuis da clarividente estavam em um tom mais escuro e sem vida olhando fixamente para Ed ainda paralisado do lado de fora do cômodo.

O demonólogo só queria chegar perto dela, segurar suas pequenas e delicadas mãos, olhar profundamente em seus olhos, trazer vida a eles de novo, abraçá-la, dizer que ele não deixaria nada de mal acontecer com ela e que ela estava segura em seus braços. No entanto, Ed não conseguia entrar no quarto, ele lutava e esbravejava, mas era como se existisse uma barreira invisível que o impedia de adentrar naquele cômodo.

– Me desculpa, Ed. Eu não sou forte o suficiente para lutar contra isso. – Foram as últimas palavras que Lorraine disse antes daquela coisa inumana com chifres e olhos amarelos, que estava próxima a ela, se apossar completamente do seu corpo.

– Nãaao! Lorraaaaineee! – Ed gritou gastando todo o fôlego que tinha, enquanto aquela coisa demoníaca esfregava na cara dele que ele falhara terrivelmente com Lorraine, falhara em protegê-la.

– Deixe-a em paz! – Warren gritava enquanto sentia um vazio tomando conta do seu peito e lágrimas de desespero jorrarem de seus olhos. A morena começou a rir diabolicamente, o som da sua risada foi se tornando cada vez mais alto, fazendo com que todos os objetos presentes no quarto se chocassem contra o chão de madeira e as luzes piscarem.

A cristaleira onde ficava Annabelle fora arremessada contra o chão pela mulher, fazendo com que o vidro sagrado se quebrasse em milhões de pedaços. Os olhos azuis da morena foram completamente substituídos por um preto intenso e brilhante, Ed conseguia enxergar o próprio reflexo através daqueles olhos macabros.

Warren, mesmo sentindo-se derrotado, retirou o colar de crucifixo do seu pescoço e apontou a imagem sagrada para aquela coisa que tinha se apossado do corpo de Lorraine, enquanto recitava passagens da Bíblia, porém estranhamente sua voz não saia.

Era como se Ed estivesse vendo tudo aquilo, vendo a si próprio perdendo Lorraine a cada segundo que aquele demônio passava dentro dela, e ao mesmo tempo não estivesse ali fisicamente, já que as suas ações não tinham nenhum efeito, ele sequer foi capaz de entrar no cômodo.

De repente tudo ficou em silêncio, não era mais possível nem ouvir o barulho da chuva e todas as luzes se apagaram, deixando a casa dos Warrens em completa escuridão. O homem não conseguia mais ver Lorraine, ou o corpo da mulher se mexendo dentro do quarto de artefatos, ouvia apenas um barulho que se parecia com pés pisando em vidro.

– Eeeeeed! – O demonólogo ouviu a voz de Lorraine o chamando desesperadamente no andar de cima da casa, porém ele se sentiu terrivelmente inútil quando notou que não conseguia mover seu corpo e logo percebeu que seus pés não estavam mais no chão, mas sim flutuando no ar a alguns centímetros dele.

Aquilo não fazia sentido nenhum, como a mulher pôde se teletransportar do quarto de artefatos para o andar de cima da casa? Como ela podia estar possuída e de repente parecer não estar? Era o demônio que a possuiu tentando lhe pregar uma peça? Warren tinha muitos pensamentos e questionamentos passando pela sua cabeça naquele momento, mas nenhum deles era mais importante do que ir até ela. Ele faria qualquer coisa para tê-la de volta, daria a sua vida por ela.

– Eeed! – A voz da mulher continuava o chamando em pânico, enquanto soluçava. Ed lutou por longos segundos que mais se pareceram com uma eternidade, tentando mover um músculo que fosse do seu corpo, enquanto ouvia a mulher o chamando desesperada.

– Deus, deixe-me salvá-la! – Depois de quase um minuto aos prantos e súplicas, o homem caiu no chão, conseguindo se mover normalmente.

– Lorraaaine! – Ed levantou-se o mais rápido que um ser humano era capaz de fazê-lo, correndo cambaleando até o andar de cima, desesperado, já que em algum momento a mulher parou de chamá-lo. Ao chegar no andar de cima da casa, o demonólogo se deparou com a clarividente parada no corredor com as mãos e a camisola branca cheias de sangue.

Can you forgive me?Onde histórias criam vida. Descubra agora