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Com tantos anos sendo ignorado e afastado, changbin aprendeu a observar as pessoas de longe. Não podia dizer que era um bom leitor de expressões, mas sabia que tinha algo de errado com chan apenas olhando para ele por alguns minutos.

Conhecia o australiano a mais de cinco anos, então já tinha noção de quando algo estava incomodando ele ou deixando o rapaz desconfortável. Nos primeiros dias pensou que não era nada, afinal, chan costumava agir esquisito, no entanto, após algumas noites acordado evitando seus sonhos estranhos, o seo notou que o castanho também estava sem dormir. E tudo bem, chan tinha suas crises de insônia como qualquer adolescente normal, mas justamente nas noites que changbin ficou acordado ele parecia estranhamente perturbado com algo.

No início parecia uma boa ideia mostrar sua presença ao bang e ir perguntá-lo o que tanto deixava-o daquele jeito, mas presumiu que se ele ainda não tinha dito nada, era por que precisava ficar sozinho por um tempo. Guardando sua curiosidade, changbin retornou a sua rotina normal, dividido entre fingir ser um aluno quieto e comportado durante o dia e pelo período da noite ficar sem dormir a fim de escapar dos pesadelos.

Com a chegada da notícia que já estava tudo organizado para o acampamento e a tal viagem que aconteceria no dia seguinte, jisung passou boa parte do dia falando apenas sobre aquilo. Era palpável a animação do menino sobre aquela viagem, o moreno parecia cada vez mais radiante quando conversava sobre o que faria quando chegasse lá ao bang, contando que estava entusiasmado para as atividades planejadas pelos adultos do orfanato. E como sempre, changbin apenas os observava conversando.

Depois de um tempo de convívio o moreno notou o quão distintas eram as personalidades de jisung e chan, eles eram o completo oposto, mas se davam muito bem. Quando ambos estavam juntos, seja conversando ou fazendo alguma brincadeira estúpida na qual um dos dois sairia com um hematoma, o moreno sentia que estava tudo bem se manter afastado e calado, afinal, nenhum dos dois podia estilhaçar e sumir num sopro como acontecia em seus pesadelos rotineiros.

Naquela noite o único plano que changbin tinha era ficar acordado, mesmo que tentasse dormir, sua ansiedade para o dia posterior não deixaria o garoto fechar os olhos e ter uma noite tranquila de sono. Enquanto arrumava sua cama, chan repetia o mesmo ato logo ao lado. Jisung se mantinha fora do cômodo, talvez tomando um banho como havia dito ou aprontando algo, aquele garoto era sempre imprevisível. Assim que terminou de se organizar se recompôs, batendo de leve seu ombro no castanho sem querer, este que se virou atônito como se estivesse acabado de sair de um longo pensamento.

Changbin juntou as sobrancelhas, encarando as orbes amendoadas do mais velho atrás de algum sinal de aflição ou angústia, mas ele apenas parecia perdido.

- você não vai me contar o que tá acontecendo? - indagou, vendo o castanho apertar o travesseiro macio contra seus dedos pálidos. Chan virou o rosto em direção a seus pés descalços, erguendo a cabeça ainda sem ter o que dizer. - você sabe que pode conversar comigo sobre qualquer coisa, hyung, só seja sincero sobre o que está te incomodando.

- não quero falar sobre isso por enquanto. - sua voz saiu mais baixa e acanhada que o normal, portanto, changbin assentiu e voltou para debaixo do beliche.

Ainda observou as costas do australiano coberta pela camisa branca e fina, ele parecia desesperadamente querer esconder seu nervosismo e agir normalmente, mas o moreno não forçaria ele a falar o que não queria. Se aprendeu uma coisa vivendo com pessoas extremamente sensíveis sobre sua presença era que apenas devia expor suas palavras quando alguém pedisse, caso contrário, deveria ficar calado para evitar qualquer tipo de conflito. E com certeza não queria brigar com o castanho logo depois de se reconciliarem.

Quando o toque de recolher soou pelo orfanato, a porta abafou um pouco a barulheira irritante, sons de passos fortes rasgavam o ar e deixava o piso tremendo. Changbin puxou as cobertas até suas pernas, amassando o travesseiro contra sua palma, observando de soslaio o bang deixar a janela meio aberta, apenas para o quarto não virar uma sauna no meio da madrugada.

Uma Combinação Perfeita | 3RACHAOnde histórias criam vida. Descubra agora