Dia 2 de Novembro, 2016

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    Pisquei várias vezes, até recuperar o foco da visão e a concentração de antes. O turbilhão de sensações causados pelas memórias que me invadiram de uma só vez me fizeram sentir como um trem descarrilhado empacando toda a ferrovia.

    Olhei para o relógio mais uma vez e levei um susto ao constatar que dali a meia hora Naruto sairia da aula. Seria uma questão de minutos para que ele chegasse ao quarto e, porra, eu tinha que terminar isso logo. Estalei os dedos mais uma vez e digitei:

    Eu penso muito no Loirinho, tipo toda hora. Ele é bonito e muito inteligente e engraçado e, ao todo, provavelmente a minha pessoa favorita do mundo. Eu chego a sentir vergonha de mim mesmo às vezes pelo tanto que eu gosto dele. Ele faz o meu dia com uma mensagenzinha de nada, ou um meme idiota.

    Muitas dessas coisas podem ser explicadas como qualquer coisa que amigos fazem e outras que... não. (Ué, como assim caras héteros não se abraçam o tempo inteiro e nem dormem abraçadinhos??)

    Eu me formo na faculdade ano que vem, ele vai continuar estudando por mais dois, e eu me dei conta de que é a primeira vez que eu não consigo decidir o que fazer da minha vida. Provavelmente vou ter que voltar para a nossa cidade natal, aqui onde moramos agora é basicamente uma cidade universitária. Também me dei conta de que, do jeito que for, onde quero viver é onde Naruto estiver.

    Mas eu sinto que se formos morar juntos, fora de um dormitório de faculdade, no sentido de realmente dividirmos uma casa, eu deveria finalmente descobrir o que somos. Se somos amigos, melhores amigos ou... namorados. O Loitinho é bastante reservado, não tem muito costume de se abrir facilmente, então parece que vai sobrar para que eu tome a iniciativa sozinho nessa coisa toda.

    Resumindo: Meu melhor amigo e eu temos um comportamento que não é tão platônico. Como eu pergunto para ele se somos mais do que amigos, ou se ele quer ser?

    Praticamente gritei de felicidade quando finalmente cliquei no botão de enviar postagem. E, também, praticamente gritei de vergonha por ter feito isso. Meus surtos internos nem tiveram chance de durar mais do que isso, porque logo em seguida disso, ouvi a porta do quarto se abrir e os passos de Naruto para dentro do quarto.

– CHEGUEI! – Gritou, pulando na sua cama e abraçando o travesseiro.

    Fechei o notebook com força, me arrependendo logo em seguido por conta do som seco da batida, mas ignorei isso e me virei na direção dele com o sorriso mais forçado do mundo no rosto.

– Olá! – Cumprimentei, bem natural. – Chegou cedo.

– O professor da última aula tirou licença, resolvi vir para cá mais cedo. – Contou. – Assim fico aqui curtindo a preguiça com você por mais tempo. – Ele esticou o braço e abriu e fechou a mão na minha direção, me chamando para perto.

    Fui até lá e ele me puxou para deitar ao seu lado.

– O que você estava fazendo? Pareceu assustado quando eu cheguei. – Perguntou, apertando os olhos. – Não estava vendo pornô, né? – Sorriu de lado, zombando de mim.

– NÃO! – Exclamei, muito mais alto do que deveria. – Só estava editando meu projeto de cinema, ué. – Me apressei em desviar. – Você sabe, eu curso cinema, e tal.

– Então porque fechou o notebook como se estivesse vendo algo proibido? Esquisito.

– Eu não gosto que vejam minhas coisas antes que eu termine! – Protestei. Em parte, era verdade, exceto para esse caso que não envolvia filme nenhum.

De Todos os Motivos - NarusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora