009 | Victor

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 | Victor

A primeira coisa que faço assim que chego de volta em meu carro, é pegar meu celular e discar o número de meu irmão.

Espero por algum tempo, e quando estou quase desligando uma voz animada irrompe em meu ouvido.

– Vitinho! Faz anos que não falo com você!

Quando a gente era criança, o apelido não me incomodava, mas agora que viramos adultos é mortificante. Desde que eu e meu irmão arrumamos um apelido para nossa irmãzinha, ela se viu na obrigação de arrumar um apelido para a gente. Prazer, vitinho. Não Victor, não Coringa, vitinho.

Eu e Gilson deixamos de a chamar Ca-ca desde que bem, crescemos. No entanto, ela continua com os apelidos idiotas.

– porque tá atendendo o celular do GS?

– porque vi seu nome na tela e decidi atender. Você não me liga mais – consigo ver seu beicinho através da ligação

– é, tenho andado ocupado – ouço uma gargalhada – o que foi isso?

– apenas o GS sendo idiota. Passou o fim de semana me chateando. Ele sempre foi assim tão careta? – rio

– comparado a você, todo mundo é careta. Mas isso não quer dizer que eu aprove suas loucuras – Voltan é do tipo "viva la vida loca", no que toca curtir a vida, ela é perita – o que está fazendo em BH? Não deveria estar na faculdade?

– fiquei com saudades do meu irmão

– aham, conta outra

– é verdade! Queria ver o Gilson, e quero ver você também. Então não se surpreende se for abrir a porta e eu estiver do outro lado. Na verdade, estou pensando pedir transferência para a sua faculdade

– o que? Porque? Pensei que estivesse satisfeita aí

– é... eu estou, mas estou de sobreaviso

– que merda você fez? – levo a mão a testa

– porque você acha que eu fiz algo?

– ninguém fica de sobreaviso porque sim, Carol. O que aconteceu?

– vamos apenas resumir que houve um incidente envolvendo togas

– poderia ser mais específica?

– não

– Carolina Voltan

– quando a gente se encontrar eu te conto, prometo

– eu espero bem que sim, não espere que eu vá esquecer dessa conversa

– ta, ta. GS quer falar com você. Te vejo em breve, maninho

Ouço o celular ser passado de mão em mão e em seguida ouço a voz de meu irmão.

|Victor


– alô

– Gilson, o que ela fez? – ele ri

– não vou estragar a surpresa. Apenas vou dizer que foi a cara dela, sem tirar nem pôr

– nossos pais sabem?

– sabem. Não estão muito felizes, mas podia ter sido pior

Dou um longo suspiro e me preparo para desabafar a posição nova de Luke Passos.

Eu e GS somos muito próximos, desabafamos sobre coisas da vida quase toda a hora. Não sinto como se ele fosse meu irmão mais novo, mas sim como se fosse meu gémeo.

– que droga – resmunga depois me ouvir – ele tocou no assunto da Babi?

– nem é preciso tocar no assunto para eu saber que ele pensa nisso sempre que me vê. Gostava de saber por onde ela anda

– quer um conselho? Mantenha a cabeça baixa. Vá aos treinos, faça o que Passos mandar e não se envolva em problemas

– é, não vale a pena me estressar com isso

Assim que desligamos, sigo para casa e estou me sentindo muito melhor.

Eu e meus irmãos tivemos uma infância lotada de vantagens. Estudamos em escolas particulares, tínhamos babá e ganhávamos uma mesada generosa. Porém para ganhar essa mesada, tínhamos que ajudar nas tarefas domésticas e fazer os deveres de casa. Lembro de uma época do meu décimo ano, minhas notas tinham descido drasticamente e fui devidamente punido.

Minha família é o máximo, mesmo que a maioria ache que sejamos esnobes e mimados.

Fico ouvindo música pelo resto da viajem e assim que chego em casa, Gustavo é o primeiro a me interceptar.

– o que o treinador queria?

– me apresentar o novo coordenador defensivo

– e porque você precisa de uma apresentação particular?

– o nome dele é Luke Passos. Foi meu treinador no ensino médio, Nicky achou que devíamos pôr o papo em dia

– e como ele é? Gente fina? – PH fala concentrado na tela da TV

– é decente – minto

Como os dois estão distraídos jogando um videogame, decido subir para meu quarto depois de roubar comida da cozinha. Ainda estou irritado com a aparição repentina de Passos.

Me jogo na cama e sem pensar, pego em meu celular e busco o último registo de chamada de ontem à noite.

– oi, tudo bem? – respiro de alívio ao ouvir sua voz

– quero transar com você de novo

– isso vai virar rotina? Por favor me diz que não vai me telefonar todos os dias implorando por isso

– talvez. Diz que sim, gata, acabe com todo o meu sofrimento

– já falei, Victor, foi uma coisa de uma noite. Foi divertido, mas eu não sou de fazer sexo casual. Preciso ir agora, ligue para uma de suas admiradoras, elas irão cuidar de você.

E pela segunda vez em dois dias, Tainá Costa desliga na minha cara.

OUR SECRET || TAINACTOR || EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora