As cinco ânforas e o veneno

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Em um lugar distante, rodeado por ruínas, havia um templo de pedras coberto por raízes e folhas. Segundo a lenda, lá estava selado o poder de uma entidade, um ser aprisionado pelos seus maus intuitos para com a terra.
O lugar se encontrava entre quatro reinos, no lugar mais distante da população, rodeado por muralhas de montanhas para ter a garantia de que ninguém libertasse a entidade; essa, que nos tempos antigos, causou tanto mal para o povo de Naturael.
Em 200 anos atrás, guerreiros da Luz lutaram contra Telubriz, um poder das trevas que consumia a humanidade. Os humanos tiveram a Vitória, selando o poder de Telubriz em 5 ânforas, cada uma para cada um dos 4 reis de Naturael e a quinta escondida entre as ruínas da terra proibida. Uma essência de Telubriz vaga pelas terras da quinta ânfora.
Os 4 reinos foram encarregados de guardar bem as relíquias para que aquele mal não volte a circular pelos reinos.

Em 200 anos depois vivia William, um jovem órfão ao lado de sua irmã mais nova, da qual ele prometeu cuidar no leito de morte da sua mãe. Helena, irmã de William, era jardineira, cabelos pretos, olhos castanhos e pele clara, portava 17 anos, o irmão tinha 3 anos a mais. Ambos viviam em Arbol, um dos quatro reinos de Naturael. Moravam em uma casa no campo, humildes mas cuidavam um do outro. Enquanto Helena cuidava das flores para o sustento, William ajudava na feira de frutas e legumes, mas mantinha o sonho de ser cavaleiro, e era isso que o fazia treinar todas as noites com suas velhas espadas e adagas contra bonecos de palha. Em baixo de uma amoreira, uma de várias árvores do quintal posterior de sua casa, William treinava com sua velha espada já lascada nas duas lâminas:
- Acho melhor não se esforçar tanto. - dizia Helena na porta da cozinha.
- Treinar nunca é demais, minha irmã, - disse ele enxugando o suor da testa com as costas das mãos - Nunca sabemos os desafios que a vida pode nos por na frente.
- Algumas vezes - disse ela - tenho a angústia de pensar em momentos em que você deverá usar uma espada.
- Empunhar uma espada é uma arte para mim, assim como as flores são para você.
- Mesmo assim, sinto ter de pensar que você... treina para um dia enfrentar os perigos do mundo...
- Ah, pare. - pronunciou William - Não se preocupe Helena, quando uma dia eu for um cavaleiro você terá orgulho de mim.
Helena sorriu com os olhos para o chão, pois sentia que aquele sonho era possível pela grande determinação do irmão. Naquela noite, William admirou a lua e, ao longe, a torre do Castelo que se destacava em penumbra.
Na manhã seguinte, enquanto Helena regava as roseiras, seu irmão surgira por trás tocando uma flauta transversal. Largando o regador, Helena junto ao seu singelo vestido branco manchado de terra começou a dançar. Descalça, a jovem girava, saltava, batia palmas enqueto seu irmão tocava a flauta em tom serelepe. Uma harmonia, uma alegria simplória, um momento de família. Helena pisava no chão mais rápido balançando o vestido enquanto girava em volta do irmão. Sem temer o veneno da vida, Helena pisa na cauda de uma cobra venenosa, que logo a mordeu. A pesonhenta sumiu rastejando-se entre um conjunto de pedras.
Ao ouvir o grito da irmã, William larga a flauta no chão para ampara-la. No tornozelo de Helena, dois pequenos furos e gotas de sangue:
- Calma, Helena, eu vou te ajudar, respire e olhe pra mim.
Wlliam tomou sua irmã nos braços e a levou para o quarto, deitou-a na cama, apoiou a cabeça da jovem sobre o travesseiro e percebeu que a fraqueza de Helena já estava ficando nítida. Amarrou uma faixa de tecido sobre o tornozelo da irmã, acima do ferimento já vermelho e continuou a destrai-la para que ela não se entregasse ao veneno.
- Helena, respire. - ele aconselhava
- Está doendo, Wlliam me ajude, por favor.
Helena suava mas seu irmão enxugava seu rosto com um lenso.
- Calma, - disse ele - eu vou chamar Agatha até aqui.
Agatha era uma senhora curandeira que morava a poucos metros dos dois. William correu até a porta de Agatha, com o desespero nítido em seus olhos. Ele tinha a angústia de não ter a quem mais ama ao voltar.
William bateu três vezes na porta, já sem fôlego. Daí então lhe aparece Agatha, uma senhora de cabelos grisalhos, 50 anos notório. A sábia percebeu a aflição do rapaz e pediu para acalmar-se, pois William tentara informar para Agatha o ocorrido mas tropeçava a língua:
- É a minha irmã, ela foi picada por uma cobra, por... por favor, ajude-nos.
Agatha sentiu a necessidade dela para com a situação, então seguiu William até sua casa. Ao chegar no quarto, Helena já ardia de febre, estava quente e debilitada mas lúcida. Agatha começa seu serviço:
- Vamos William, prepare um chá de gengibre com eucalipto. - dizia a senhora fitando as pernas de Helena.
William corre até a cozinha deixando sua irmã nas mãos da confiança.
Agatha analisava cada um dos sinais vitais da jovem Helena.
- Não é preciso do lenço, o veneno parace já ter se espalhado pelo sangue, Helena respire.
- Meu irmão...
- Ele já vai voltar...
- Cheme-o, por favor.
Helena sentia seu corpo gelar, para ela, o irmão era o melhor remédio.
William reaparece na porta, os gestos que a irmã fazia com a mão o guiou até ela. Ambos seguraram as mãos, ele mais trêmulo que ela. William apoiou-se ao lado da cama, olhou para os olhos da irmã, a qual fitou suas pupupilas no seu irmão, até que deixou as pálpebras descerem com as lágrimas, Helena fechou os olhos:
- Helena, - exclamou ele - Helena, por favor abra os olhos. Minha flor, Helena...
Agatha verificou o pulso de Helena, ainda estava viva mas já quase morta. A senhora então explicou a situação para William:
- Querido, agora ela está em transição espiritual, tua irmã está despedindo-se de você.
- Dona Agatha, por favor... faça algo!
A mão de Helena ainda se mantinha junto a mão de seu irmão, o qual agora lhe apertava mais forte.
- Só nos resta pedir aos espíritos que ela fique. - Explicou Agatha - Fique com ela, eu irei acender uma vela com flores sobre a mesa.
Agatha criou uma ligação com os espíritos, mexia suas mãos em forma circular, palavras em latim, preces, frases de apelo. Tudo enquanto William segurava a mão da irmã.
Na cozinha, Agatha oferecia as chamas da vela para os bons espíritos:
- Relinquatis eam nobis, hie lux, lux! Deixe-nos com essa alma! Não a levem.
O ambiente absorveu uma forte energia, ventos entravam pelas janelas e portas daquela humilde casa, por fim a vela se pagou com o sopro do vento e no quarto Helena acaba de soltar a mão de seu irmão, fazendo cair sobre a cama. Agatha retorna ao quarto:
- Eu tentei, mas ele preferiram levá-la. - disse a mais velha.
- Não! Eles estão enganados, - gritava William - Eles não sabem o que fazem! Eles não sabem o que fizeram, não sabem! Eu quero minha irmã de volta.
William se voltou para Helena:
- Minha irmã, abra os olhos... Sou eu, William, minha flor, por favor.
- Não confronte os espíritos, não se oponha.
O chá fervia, a chaleira dava o sinal. William, como uma fera, entra na cozinha derrubando a chaleira, a vela e as flores:
- Não é justo, eu perdi minha mãe, agora ela que eu deveria ter cuidado mais!
- Não se culpe, - a sabia falou - Eva logo receberá ela, mãe e filha. Até que sua alma seja transferida.
- Como assim?
- Tua irmã, William, está seguindo um caminho da Luz, a alma dela está caminhando por um longo caminho.
- Então ainda poderei traze-la.
- Isso não é possível, sinto muito. Vamos arruma-la para enterra-la. Eu te ajudo.
Agatha abraçou William o qual parecia não notar o que a senhora dizia.
- Obrigado, - Disse ele - Mas prefiro fazer isso sozinho.
Agatha se despede da falecida, indo embora da casa.
William passou toda a manhã observando sua irmã, o corpo de Helena agora estava frio, já não suava, estava linda com seus olhos fechados. O jovem rapaz ajoelhou-se ao lado da cama rezou para os espíritos a trazerem de volta, mas isso seria impossível.
Ao fundo, ao lado de uma pequena mesa, o sol refletia sua luz na parede através da janela. William levanta seu corpo para fecha-la. Foi alí, na janela, que ele observou os grandes paredões do leste, saiu da casa, olhou para o Oeste e fitou com os seus olhos castanhos os grande picos de montanhas. Acendeu alí uma ideia no coração de William.
Durante a tarde, William vestiu seu melhor trage, e um vestido azul claro no corpo da irmã. Preparou a sela de Astil, seu cavalo; grande, marrom, com patas brancas. Pendurou uma lamparina no arreio do cavalo, segurou delicadamente o corpo leve de Helena, e o apoiou em seu ombro. William firma o pé no estribo, levanta o corpo e monta em seu cavalo, com a mão direita na rédea e a esquerda segurando o corpo de Helena, a qual tinha as pernas sobre o colo do irmão e a cabeça apoiada ao ombro.
O rapaz falou baixinho para sua falecida irmã:
- Tu voltarás para mim, vou te trazer de volta.
Por fim seguiu Campina adentro:
- Eia, ia! Vamos Astil, Vamos!
O cavalo relinchou e acelerou os passos. Saiu então o irmão, cavalgando em direção ao oeste. Enquanto Wlliam cavalgava, Helena mantinha os olhos fechados e seus longos cabelos ao vento.

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