O pacto entre as ruinas do tempo

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William cavalgava pelas Campinas verdes com a cabeça de sua irmã apoiada em seu ombro. Os trajes do jovem homem era sigiloso, uma jaqueta revestida por uma longa manta de capuz para não haver uma possível identificação. O vento soprava fazendo o tecido de suas vestes criar movimentos ao ar e o capuz descobrir seu rosto, algo que ele logo resolveu de repor.
Depois de tanto chão verde, eis na frente do jovem moço um conjunto de montanhas que fazia o caminho ficar estreito. Entre as montanhas, raízes de árvores que nasciam no topo, pedregulhos no caminho, o que fez Astil andar mais devagar. Era estreito e escuro, William segurava forte sua irmã, os cascos do cavalo faziam um barulho ecoante a cada passo. Ao longe, o sinal de uma saída, a luz do sol.
Sobre um grande rochedo no fim entre as duas montanhas, William notava ao longe uma grande construção, rodeada por ruínas, ele estava em uma grande altura, achou logo então um caminho de terra para descer até as ruínas. O caminho, assim como entre as montanhas era estreito e sedimentar. Passarinhos em galhos secos voavam enquanto ele descia lentamente pela estrada de terra. No fim dela, uma mistura de areia e relvas. Poças de água, parecia nítido ter acabado de chover naquela região, estava tudo um pouco húmido. Musgos engoliam as antigas ruínas que o tempo deixou para trás. Ruínas de todos os tamanhos, de pedras variadas, cinzentas ou marrons, algumas rachadas ao ponto de cair. Era uma lugar rodeado, cercado por montanhas de vários modelos, uma grande bacia, um vale com apenas uma entrada que também era a saída. Eram paredões de pedras que formavam um círculo em torno da circunferência do local. No topo, algumas vidas verdes. Ao olhar o diâmetro por completo, William percebia as vidas do local; borboletas, pássaros, libélulas, criaturas que voavam ou andavam por aquele lugar, as laterais tinham árvores de médio porte com flores e com gotas de orvalho, o vento era calmo mas parecia assobiar nos ouvidos de William.
No centro, uma neblina estava a sumir, abrindo caminho para William chegar até a estranha construção. Na frente dela, uma escadaria larga.
Em nenhum momento o rapaz pensou em olhar para trás e retornar pelo percurso que fez, estava convicto do que ia fazer.
A construção era fácil de ser descrita, parecia um templo panteón. A construção era enorme, velha, não possuía paredes, apenas piso, teto e pilares para o sustento, pilares esses em que as trepadeiras se enroscavam. Quem estivesse do lado de fora via o que estava dentro e quem estivesse dentro veria o que estava do lado de fora.
William, com cuidado, desceu do seu cavalo e tomou a irmã no colo, subiu os doze degraus de pedra e se deparou com uma grande mesa redonda de pedra ao centro do templo. Entrou em passos leves, apoiou o corpo de Helena em um pilar e seguiu em direção a mesa que, sobre ela, havia uma grande ânfora de barro, fechada vedada por uma tampa. Toda a sua estatura era a metade da altura de William.
William desembainha a sua velha espada, suspirou, olhou para Helena rapidamente quando ouve uma coro de vozes:
- Depois de tanto tempo, eis aqui uma visita.
Névoas levantavam-se na escadaria, enquanto subiam criavam forma. Eram sombras com apenas rostos e braços, com os corpos suspensos. William vira-se para vê-las, mas em um movimento todas somem no ar.
- Quem está aí? - Perguntou William .
O conjunto de vozes se manifesta mais uma vez:
- Se você está aqui é porque já tinha o intuito de saber quem encontraria, então é óbvio que você saiba quem somos.
- Vocês são a entidade que procuro, Telubriz?
- Naturalmente somos... Mas se o que procuras está aqui ainda não sabemos.
Um vento forte causa um impacto no local, a névoa negra circula o templo, surgindo e desaparecendo gradualmente. Astil ergue suas patas dianteiras, reilinchando e se afastando da construção.
- Astil! - gritou William.
Os fios finos dos cabelos de Helena flutuavam sobre seu rosto. Seu irmão logo tratou de se agaichar para arrumá-los. Telubriz se manifesta:
- Creio que está jovem moça... ela seja o motivo para você vir até nós.
- Ela é minha irmã, ela faleceu em por acidente. Por favor, traga ela de volta. Conheço os teus poderes de controlar as almas que deixaram seus corpos em tempos recentes. Não é um período longo, faz poucas horas que minha irmã morreu, então vim aqui rogar vossa ajuda.
- Hm... então queres que nós a traga de volta.
- Sim.
A entidade sorriu:
- Ah ha ha, tens certeza do que queres?
- Sim, estou disposto a tudo para ter minha irmã de volta, basta que me digam o que fazer.
- Muito bem, te dou o 3 dias de garantia para quebrar as cinco ânforas. Para começar, quebrando a que está em tua frente.
- Como saberei que falam a verdade?
- Você é o necessitado, deves ser o que acredita. Ande, descidas... pois não há tempo. Tua irmã segue rumo ao mundo das boas almas, logo não mais poderei segurá-la.
  Com a espada tirada da bainha, William quebra a ânfora em sua frente em vários pedaços, liberando um conjunto de vozes e correntes de ar.
- Aí está, - disse William - A primeira ânfora já foi quebrada. Então, agora, o que farei?
  Telubriz se tornou apenas uma voz, já não aparecia em sombras:
- Jovem rapaz, manche com teu sangue tua espada e levante-a para cima.
William fez um pequeno corte em seu braço usando a laminada da espada, agora vermelha. Levantou-a e as energias sombrias entraram com uma força estrondosa dentro da arma de ferro, que antes lascada, agora estava renovada e forte. Refletia como um espelho.
Telubriz logo explica o ocorrido:
- Agora parte de nós e nosso poder está em sua espada. Eis aqui nosso pacto, nada de mal acontecerá com tua irmã enquanto nada me afetar, assim também será com ela para comigo.
  William guarda a espada na bainha, retira os cacos que estavam sobre a grande mesa e põe o corpo de sua irmã sobre ela. Mas ele questiona:
- Mas se passarão mais de 24 horas, como o corpo de minha irmã será preservado da decomposição da morte?
- Manterei o corpo da tua irmã em preservação.
  Duas ramificações de roseiras se rastejavam, descendo pelos pilares do templo, enrolando-se, pelos dois lados, nos dois pulsos da jovem Helena.
- Esta planta - disse Telubriz - partilhará vida com tua irmã. Não temas, te guiarei nessa jornada. Agora apressa-te, enfaixar braço e siga o que escutar na tua mente, só você pode nos ouvir.
  William ajeita, confortavelmente, o corpo e cabelos da irmã, juntou as duas mãos da falecida sobre o corpo, as ramificações cresceram envolvendo a mesa e se enroscando ainda mais nos pulsos de Helena. Wlliam beijou-lhe a testa e desceu as escadarias procurando por seu cavalo:
- Astil!
  O cavalo logo respondeu com o relinchar e bater de cascos. Wlliam olhou para trás, vendo sua irmã rodeada por roseiras que a nutriam e sorriu avisando-a:
- Não temas, ainda hoje a noite voltarei para ficar do teu lado.
  Montou no cavalo, e seguiu em direção a saída do vale florido.

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